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Trump diz não ver problema em envio de tropas de paz europeias para a Ucrânia e afirma que 'Putin aceitará'


Presidente dos EUA recebe o francês Emmanuel Macron na casa Branca nesta segunda-feira (24) para discutir a guerra no Leste Europeu. Donald Trump recebe o presidente da França, Emmanuel Macron, na Casa Branca, em 24 de fevereiro de 2025 Brian Snyder/Reuters O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (24) não ver problema em um eventual envio de tropas europeias de paz para a Ucrânia. Trump, que disse já ter conversado por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou ainda que "Putin aceitará" a permanência dessas tropas em território ucraniano. O presidente americano deu as declarações ao lado do francês Emmanuel Macron, a quem recebeu para uma reunião na Casa Branca. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Ao longo da guerra da Ucrânia, que completou três anos nesta segunda, Putin disse diversas vezes que consideraria a presença de tropas do Ocidente na Ucrânia como uma declaração de guerra direta. Neste caso, no entanto, as tropas europeias não lutariam ao lado de soldados de Kiev, mas seriam enviadas para manter a paz no país após um eventual fim da guerra. A intenção de não colocar soldados europeus no front, mas apenas como garantia para o encerramento dos combates, foi confirmada por Macron. A declaração de Trump é feita dias após o presidente americano ter direcionado declarações ríspidas ao líder ucraniano, Volodymyr Zelensky. Na última quarta (19), Trump chamou Zelensky de "comediante modestamente bem-sucedido" e "ditador", além de fazer ameaças diretas. Dois dias depois, ele afirmou que a presença de Zelensky na mesa de negociações não era muito importante: "Ele está lá há três anos. Ele faz com que seja muito difícil fechar acordos", afirmou, em uma entrevista. Zelensky, por sua vez, acusou Trump de exigir US$ 500 bilhões em riquezas da Ucrânia em troca de apoio dos Estados Unidos. O presidente ucraniano afirmou ainda que não poderia vender o próprio país. Representantes dos EUA e da Rússia chegaram a se reunir na Arábia Saudita para negociar o fim do conflito sem a presença de nenhuma autoridade ucraniana. Reunião de emergência No último dia 17, líderes europeus já haviam afirmado estar prontos para enviar tropas de paz para a Ucrânia após a assinatura de um acordo de paz entre Moscou e Kiev. O continente demonstrou preocupação com a aproximação entre Donald Trump e Vladimir Putin. Os europeus defenderam aumentar o gasto militar para se proteger da ameaça expansionista da Rússia, após uma reunião de emergência realizada em Paris. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse estar "pronto e disposto" a enviar tropas britânicas para a Ucrânia como parte de um possível acordo de paz. O presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu os aliados europeus na Otan (aliança militar ocidental criada na Guerra Fria para frear a União Soviética) e na Ucrânia no início do mês passada quando anunciou que havia mantido uma ligação com Vladimir Putin sem consultá-los e que iniciaria um processo de paz. No domingo (23), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse estar disposto deixar o governo de seu país em troca de um fim da guerra na Ucrânia. Zelensky também condicionou uma eventual saída do cargo à entrada da Ucrânia na Otan. Disse ainda que está disposto a uma saída imediata do cargo e que "não planejo estar no poder por décadas".
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VÍDEO: caças italianos escoltam avião da American Airlines após ameaça de bomba


Segundo a agência Reuters, a ameaça de explosivos teria sido enviada por e-mail, mas foi posteriormente considerada infundada. Caças italianos escoltam avião da American Airlines após ameaça de bomba Um voo da American Airlines que ia de Nova York, nos Estados Unidos, para Nova Déli, na Índia, foi desviado para Roma, na Itália, neste domingo (23), depois de uma ameaça de segurança. 🛩️ Imagens mostram caças da Força Aérea Italiana escoltando a aeronave, que realizou um pouso de emergência no Aeroporto Leonardo da Vinci, em Roma, às 17h30 (veja no vídeo acima). ➡️Segundo a agência Reuters, o voo foi desviado para a Itália devido a uma ameaça de bomba enviada por e-mail, que mais tarde foi considerada infundada. Relatos indicam que os passageiros foram obrigados a permanecer no avião por 15 horas devido ao incidente. Uma aeronave Eurofighter da Força Aérea Italiana escolta um avião da American Airlines Força Aérea Italiana /Divulgação /voa Reuters Caça escolta avião que sofreu ameaça de bomba Italian Air Force - Aeronautica Militare / AFP LEIA TAMBÉM Papa Francisco internado: Vaticano anuncia início de orações noturnas pela saúde do pontífice na Praça de São Pedro Gisèle Pelicot, sobrevivente de estupro coletivo, é eleita uma das Mulheres do Ano de 2025 pela revista Time
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Papa Francisco tem leve melhora, mas segue em estado crítico, diz Vaticano


Boletim médico aponta falha 'leve' nos rins. Segundo a nota, Francisco retomou parcialmente os trabalhos e conversou com paróquia em Gaza. Papa Francisco Filippo MONTEFORTE / AFP O papa Francisco teve uma leve melhora na tarde desta segunda-feira (24), segundo boletim médico divulgado pelo Vaticano. De acordo com a nota, o pontífice tem uma "leve" falha nos rins que está sendo monitorada, mas que não é motivo de preocupação imediata. Francisco retomou parcialmente seus trabalhos pela tarde, e inclusive conversou por telefone com a paróquia de Gaza. O prognóstico permanece reservado, no entanto. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp "Ainda hoje não houve episódios de crises respiratórias asmáticas; alguns exames laboratoriais melhoraram", disse a Santa Sé. "O monitoramento de insuficiência renal leve não é uma preocupação. A oxigenoterapia continua, embora com fluxo e porcentagem de oxigênio ligeiramente reduzidos." "Dada a complexidade do quadro clínico, os médicos prudentemente não estão divulgando um prognóstico ainda. Pela manhã recebeu a Eucaristia, enquanto à tarde retomou suas atividades laborais. À noite, ele ligou para o pároco de Gaza para expressar sua proximidade paterna. O Papa Francisco agradece a todo o povo de Deus que se reuniu nestes dias para rezar por sua saúde", afirma a nota. Nesta madrugada, o Vaticano havia informado que o pontífice "passou bem a noite, dormiu e está descansando". O pontífice continua lutando contra uma pneumonia bilateral. A insuficiência renal havia sido noticiada pela primeira vez no domingo (23), afirmando que a condição estava controlada. No fim de semana, o Vaticano também havia dito que Francisco está "vigilante e bem orientado" e sem crises respiratórias, apesar de seguir em estado de saúde considerado crítico. Almofadas nasais O boletim de domingo afirmou também que o pontífice segue fazendo uso de almofadas nasais para a aplicação de oxigênio em altos fluxos (oxigenoterapia). Mais cedo, o Vaticano já havia informado sobre esse procedimento. O pontífice também convidou os fiéis a rezarem pelos países onde há conflitos, da "Palestina ao Sudão", com um pensamento particular para a Ucrânia. Internação Para Francisco teve noite tranquila, diz Vaticano O papa Francisco foi internado desde 14 de fevereiro após sentir dificuldade para respirar por vários dias. O pontífice, de 88 anos, encontra-se há dez dias no hospital Gemelli, em Roma. No hospital, ele foi diagnosticado como pneumonia bilateral e infecção polimicrobiana. No sábado (22), um boletim médico apontou uma piora no estado de saúde de Francisco, afirmando que ele teve uma crise de asma prolongada e que exames apontaram a necessidade de transfusões de sangue. Durante todo esse período, diz o Vaticano, Francisco tem trabalhado e se mantido informado através da leitura de jornais. O papa também consegue se movimentar dentro de seu quarto no hospital, atende algumas ligações telefônicas e continua com alguns afazeres administrativos. Ainda segundo o Vaticano, todos os compromissos públicos do papa foram cancelados.
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Neta de ministro de Hitler que se reuniu com Bolsonaro perde eleição para a esquerda na Alemanha


Beatrix von Storch é uma das principais figuras do AfD. Partido de extrema-direita cresceu, mas Beatrix perdeu cadeira no parlamento para jornalista de 35 anos que é uma das novas líderes da nova esquerda. Beatrix von Storch e o marido em encontro com Bolsonaro no Palácio do Planalto Instagram/Reprodução Beatrix von Storch, neta de um ex-ministro de Adolf Hitler e uma das principais figuras da extrema direita da Alemanha, perdeu sua cadeira no parlamento alemão na eleição deste domingo (23) para Ines Schwerdtner, líder do partido A Esquerda (Die Linke). Beatrix ficou conhecida no Brasil ao se reunir com o ex-presidente Jair Bolsonaro em 2021. "Para enfrentar com êxito a esquerda, os conservadores também precisam se conectar melhor internacionalmente", ela disse na época. A neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, que foi ministro nazista das finanças, é uma das principais figuras do Alternativa para a Alemanha (AfD). Beatrix, de 53 anos, representava o distrito eleitoral de Berlin-Lichtenberg no parlamento alemão. Os conservadores do União Democrática Cristã (CDU) foram os mais votados em um pleito com o maior crescimento da extrema direita no país desde o governo de Adolf Hitler. No entanto, Beatrix perdeu a eleição para Ines Schwerdtner, de 35 anos, uma das líderes do partido A Esquerda, que renovou seu eleitorado e teve um resultado acima do esperado neste domingo. Ines Schwerdtner é jornalista e trabalhou na edição alemã da revista de esquerda "Jacobin". Ela venceu no distrito de Lichtenberg com 34% dos votos. LEIA TAMBÉM: Vencedor, Friedrich Merz quer compor novo governo até a Páscoa Social Democratas sofrem derrota na Alemanha, conservadores vencem, e extrema direita tem ascensão recorde Medo e impotência: imigrantes brasileiros na Alemanha lamentam ascensão da direita radical Saiba quem cresceu na eleição parlamentar da Alemanha
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'Fator Trump' é 'arma' mais poderosa de Putin nos 3 anos de guerra na Ucrânia, dizem especialistas; entenda


Investida do presidente dos EUA mudou trajetória do conflito, e Trump pode 'dar a vitória' aos russos em uma guerra estagnada. Conselho de Segurança da ONU vota propostas nesta segunda (24). Guerra da Ucrânia completa 3 anos A guerra na Ucrânia, que completa três anos nesta segunda-feira (24), teve sua trajetória alterada pelo “fator Trump”, que se tornou uma "arma" poderosa a favor da Rússia, segundo especialistas consultados pelo g1. A interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que travou uma negociação direta com os russos sobre o fim da guerra, excluindo Ucrânia e europeus, abalou as estruturas da ordem mundial e aumentou temores da Europa sobre o futuro da geopolítica, disseram ainda os especialistas. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Trump quer rapidez nas negociações por um acordo de paz, mesmo que isso signifique atender às demandas de Moscou — a anexação de 20% do território ucraniano atualmente controlado por tropas russas, e a proibição de que a Ucrânia de entre para a Aliança Militar do Atlântico Norte (Otan). No entanto, a pressa dos EUA também pode atrapalhar a resolução final do conflito, ainda de acordo com os espcialistas, já que: Um acordo de paz apressado e malfeito pode levar a guerras maiores no futuro; A anexação de territórios pela Rússia com o aval dos EUA viola da Carta da ONU e coloca em xeque outras tensões ao redor do mundo; Putin tem interesse em não parar na Ucrânia caso obtenha alguma vantagem com o atual conflito. “A paz é desejada, mas ela não pode ser a qualquer preço, porque acordos de paz malfeitos levam a guerras maiores depois”, afirmou ao g1 o professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard Vitelio Brustolin. Ele citou outros acordos malfeitos de Trump. como o da retirada das tropas americanas do Afeganistão, implementado por Biden em 2021 e criticado pela comunidade internacional. Voltando mais na História, a 2ª Guerra Mundial começou após um acordo de paz malfeitos, segundo Vitelio: o Pacto de Munique, que autorizou anexação dos Sudetos da Tchecoslováquia pela Alemanha de Hitler em 1938 deu o precedente para o ditador nazista fazer novas invasões e dar início ao conflito global meses depois. Nesta matéria, você vai ler: Vitória na guerra? Negociações por terras ocupadas e sobrevivência da Ucrânia Expansionismo de Putin e Europa ameaçada Vitória na guerra? Trump diz que é necessário cessar imediatamente o derramamento de sangue no conflito, que já causou centenas de milhares de baixas de ambos os lados. Para a Rússia, também seria benéfico finalizar o conflito agora. Segundo especialistas, a Rússia está ganhando a guerra, mas ao mesmo tempo está longe de seus objetivos iniciais e enfrenta dificuldades para manter o conflito, segundo um estudo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), instituição especializada em guerras. O IISS afirma que o Exército russo enfrentará “diversas restrições de equipamentos, material humano e econômicas” em 2025, e estima que tenha fôlego para aguentar sustentar a guerra no ritmo atual até 2026. "A Rússia poderia sair vitoriosa da guerra na Ucrânia se os EUA entregarem a ela uma vitória", disse Brustolin. O pesquisador de Harvard acha que só o fato de a Ucrânia seguir existindo como país já poderia ser considerado uma vitória de Kiev, que dependeu de ajuda militar e econômica de seus aliados, EUA e UE. Negociações por terras ocupadas e sobrevivência da Ucrânia Guerra da Ucrania GETTY IMAGES Trump está interessado nas terras raras ucranianas, que podem ser uma forma de tirar vantagem econômica do envolvimento indireto dos EUA no conflito. Os EUA tentam impor à Ucrânia um acordo de direitos de exploração, e podem estar negociando as terras com os russos, que ocupam territórios ricos em minérios. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, luta pela sobrevivência da Ucrânia e já admitiu a possibilidade de territórios e até de deixar o cargo em prol de um melhor destino para o país. Zelensky busca garantias de segurança do território ucraniano, que ainda não apareceram nas negociações de terras raras com os EUA. No entanto, o reconhecimento dos EUA de territórios invadidos pela Rússia seria uma violação flagrante da Carta da ONU, que proíbe guerras de anexação, pontua Brustolin. “Se os EUA reconhecerem territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia é uma subversão da ordem mundial, porque viola o direito internacional, a Carta da ONU, viola todo o sistema pós-2º Guerra Mundial”, afirmou Brustolin, citando como indício uma fala do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, na Conferência de Segurança em Munique neste mês. Segundo o analista de segurança internacional e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE) Felipe Dalcin, o presidente dos EUA também busca deslegitimar Zelensky por meio de falas públicas para pressionar o ucraniano a aceitar seus termos. Trump já chamou Zelensky de “ditador sem eleições”, falou para ele assinar o acordo “antes que não tenha mais país” e disse que Putin “é quem dá as cartas” nas negociações. Chegou até a dizer que foi a Ucrânia quem iniciou a guerra contra a Rússia, ao contrário do que aconteceu, e que o presidente ucraniano atrapalha o acordo. Outros interesses do governo Trump por trás das negociações estão uma priorização dos interesses dos EUA, na lógica de “América primeiro”, uma estratégia de usar a Rússia para pressionar a Europa –a gastar mais em Defesa–, segundo Vitelio. Felipe Dalcin afirma ainda que Trump pode estar pensando ainda mais à frente, em uma disputa de poder com a China ao tentar criar uma relação de proximidade com Putin. Uma tática similar foi praticada por Richard Nixon, quando se aproximou da China para enfraquecer a União Soviética durante a Guerra Fria. Expansionismo de Putin e Europa ameaçada Os países europeus temem que Putin não vá parar na Ucrânia e que a ameaça russa sobre a Europa aumente diante um possível acordo favorável para o fim da guerra na Ucrânia, negociado entre russos e americanos. “Existe um consenso na Europa de que o Putin não vai parar na Ucrânia, sobretudo se ele tiver o benefício de anexar territórios, porque isso já aconteceu no passado”, disse Dalcin. Esse temor pôde ser visto em falas nos últimos dias dos primeiros-ministros da Dinamarca e da Espanha, endossadas por líderes de outros países europeus. "A Rússia está ameaçando a Europa inteira atualmente. Não acho que eles vão parar na Ucrânia e estou muito preocupada com um acordo rápido de cessar-fogo porque poderia dar a Putin a oportunidade de se remobilizar e atacar novamente a Ucrânia ou outro país europeu", afirmou a premiê dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt. A UE aumentou em 50% os gastos com defesa desde a ocupação da Crimeia, mas mesmo assim sofrerá gargalos em sua defesa caso os EUA assumam postura mais distante. Já a Rússia tem tropas ocupando territórios na Georgia, na Abecásia e Ossétia do Sul, além de na Transnístria, na porção leste da Moldávia. Além da parte militar, também há suspeitas de que Moscou aplica ainda a chamada "ameaça híbrida" contra Ocidente. A suposta participação russa em interferência em eleições de países como a Romênia e a Geórgia e no rompimento de cabos no Mar Báltico, investigado por autoridades nórdicas. A Rússia tem 2º Exército mais poderoso do mundo, atrás apenas dos EUA. A União Europeia tem gargalos militares por questões econômicas e, nas últimas décadas, sua segurança dependeu dos EUA. Um relatório do Serviço de Inteligência da Dinamarca (DDIS, na sigla em inglês) divulgado na semana passada afirma que a Rússia pode desencadear uma guerra ampla contra a Europa em cinco anos, com ameaças principalmente aos países da Europa Oriental, caso haja um menor engajamento dos EUA na Otan e na defesa do continente. Os países bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — se preparam abertamente para uma guerra, reforçando seus exércitos e construindo muros nas fronteiras. Países do leste europeu também têm empregado gastos maiores com Defesa, alguns até chegando aos 5% do PIB, diferentemente de muitos dos Estados da Europa ocidental A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs uma cláusula de emergência que permite aos governos que as despesas militares não sejam contabilizadas em seus limites de déficit orçamentário. Após reuniões nos últimos dias, os líderes europeus concordaram que é necessário investir mais em Defesa. Trump exige que os países da Otan passem a gastar 5% do PIB para essa finalidade, o que atualmente fica na casa dos 2% em sua maioria. Por enquanto, alguns países já concordaram em elevar os investimentos a esse patamar de 5%, como a Letônia, a Lituânia e a Polônia.
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Britânica diz que pais idosos foram detidos pelo Talibã e pede ajuda do governo do Reino Unido


Barbie e Peter Reynolds, de 75 e 79 anos, que dirigiam programas educacionais no Afeganistão, foram detidos pelo Ministério do Interior do Talibã no dia 1º de fevereiro, segundo a filha. Barbie e Peter Reynolds, cidadãos britânicos detidos pelo Talibã Arquivo Pessoal Um casal britânico que dirigia programas educacionais no Afeganistão foi detido pelo governo do Talibã no começo do mês, informou, nesta segunda-feira (24), a filha deles, pedindo ao governo britânico que faça todo o possível para garantir sua libertação. De acordo com Sarah Entwistle, Barbie e Peter Reynolds, de 75 e 79 anos respectivamente, foram detidos pelo Ministério do Interior do Talibã em 1º de fevereiro. Em declarações à Times Radio, Entwistle disse que seus pais mantiveram contato inicialmente por meio de mensagens de texto após a detenção - garantindo aos quatro filhos que estavam bem - até perderem todo o contato três dias depois. "Nossos pais sempre buscaram honrar o Talibã, então queríamos dar a eles a oportunidade de explicar suas razões para essa detenção. No entanto, depois de mais de três semanas de silêncio, não podemos mais esperar. Estamos agora pedindo urgentemente ao consulado britânico que faça tudo o que estiver ao seu alcance para nos dar respostas e pressionar o máximo possível o Talibã para sua libertação", disse. Procurado pela agência de notícias Reuters, o Ministério das Relações Exteriores britânico disse apenas que está "apoiando a família de dois cidadãos britânicos que estão detidos no Afeganistão", sem fornecer mais detalhes. A BBC, citando fontes oficiais do Talibã, relatou neste domingo (23) que dois cidadãos britânicos, que se acredita estarem trabalhando para uma organização não governamental na província central afegã de Bamiyan, foram presos há cerca de 20 dias após usar um avião sem informar as autoridades locais. Segundo porta-voz do Ministério do Interior, além dos britânicos, uma cidadã sino-americana, e seu intérprete, Abdul Mateen, foram presos. A mulher seria Faye Hall, amiga do casal, diz a agência de notícias britânica PA. Países ocidentais, incluindo Grã-Bretanha e Estados Unidos, fecharam suas embaixadas e retiraram seus diplomatas quando o Talibã assumiu o controle do Afeganistão em 2021. A Grã-Bretanha aconselha seus cidadãos a não viajarem ao Afeganistão, alertando sobre os riscos de serem detidos lá. O casal britânico vinha conduzindo projetos em escolas no Afeganistão por 18 anos e decidiu permanecer mesmo depois que o Talibã tomou o poder, disse o Sunday Times.
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Papa Francisco internado: Vaticano anuncia início de orações noturnas pela saúde do pontífice na Praça de São Pedro


O número 2 do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, deve liderar a primeira oração na noite desta segunda-feira (24). Anúncio preocupa porque relembra as vigílias noturnas à luz de velas na praça que precederam a morte de São João Paulo II em 2005. Vaticano anuncia oração por papa Francisco na Praça de São Pedro, às 21h desta segunda (24) REUTERS/Dylan Martinez O Vaticano anunciou que iniciará a realização de orações noturnas pela saúde do Papa Francisco, na Praça de São Pedro, às 21h do horário local - às 17h de Brasília - nesta segunda-feira (24). De acordo com a Santa Sé, que convidou romanos e turistas para comparecerem à cerimônia, o número 2 da Igreja Católica, o cardeal Pietro Parolin, deve comandar a primeira oração enquanto o pontífice, de 88 anos, luta contra uma infecção pulmonar e suas complicações. O anúncio preocupa porque relembra as vigílias noturnas à luz de velas na praça que precederam a morte de São João Paulo II, em 2005. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Também nesta segunda, no hospital Gemelli, onde Francisco está desde 14 de fevereiro após um surto de bronquite piorar, o bispo Claudio Giulio Dori presidiu uma missa emocionante, com lotação máxima na capela que leva o nome de João Paulo II - cerca de 200 pessoas estavam presentes. “Lamentamos muito. O Papa Francisco é um bom papa, vamos torcer para que ele consiga. Vamos torcer.Estamos nos juntando a ele com nossas orações, mas o que mais podemos fazer?”, disse Filomena Ferraro, emocionada, que estava visitando um parente em Gemelli. Missa em capela no Hospital Gemelli, onde o papa Francisco está internado Vatican Media/Divulgação via REUTERS Boletins médicos Na madrugada desta segunda-feira (24), o Vaticano informou que o papa Francisco "passou bem a noite, dormiu e está descansando". O pontífice continua lutando contra uma pneumonia dupla. Um dia antes, no domingo (23), o boletim médico do pontífice falava que ele ainda estava em estado crítico, com uma insuficiência renal leve, que é inicial e estava controlada. O boletim afirmou ainda que o pontífice não sofria mais de crise respiratória. O prognóstico completo de Francisco segue em sigilo por conta da complexidade do quadro, disse ainda o Vaticano, que afirma também que ele está "vigilante e bem orientado". "O estado de saúde do Santo Padre continua crítico. No entanto, desde ontem à noite ele não apresentou mais crises respiratórias", disse o boletim. "No entanto, alguns exames de sangue mostram uma insuficiência renal inicial, leve, atualmente controlada. A complexidade do quadro clínico e a espera necessária para que as terapias farmacológicas deem algum resultado exigem que o prognóstico permaneça reservado". O boletim contou ainda que o pontífice segue fazendo uso de almofadas nasais para a aplicação de oxigênio em altos fluxos (oxigenoterapia). Vaticano afirma que Papa teve boa noite em hospital Neste domingo (23), em oração, o papa Francisco agradeceu às orações pela sua saúde e disse que continua 'realizando os tratamentos necessários'. "De minha parte, continuo confiante a internação na Policlínica Gemelli, realizando os tratamentos necessários; e também o repouso faz parte da terapia! Agradeço de coração aos médicos e ao profissionais de saúde deste Hospital pela atenção que me dispensam e pela dedicação com que prestam seu serviço aos doentes". O pontífice também convidou os fiéis a rezarem pelos países onde há conflitos, da "Palestina ao Sudão", com um pensamento particular para a Ucrânia. O texto foi divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. É o segundo domingo que Francisco não participa da tradicional oração de Angelus. Neste domingo, a missa foi conduzida pelo Arcebispo Rino Fisichella.
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Gisèle Pelicot, sobrevivente de estupro coletivo, é eleita uma das Mulheres do Ano de 2025 pela revista Time


Caso da francesa que foi drogada pelo marido por 10 anos para que estranhos a estuprassem ganhou repercussão no ano passado após denúncia e julgamento dos culpados. Gisèle Pelicot compareceu a quase todas as audiências do julgamento iniciado em setembro Reuter A francesa Gisèle Pelicot, sobrevivente de um caso de estupro coletivo que resultou na condenação de 51 homens, incluindo seu próprio marido, foi eleita uma das Mulheres do Ano de 2025 pela revista Time. Ela integra a lista divulgada no dia 20 de fevereiro ao lado de 12 outras homenageadas, como a atriz Nicole Kidman e a ginasta Jordan Chiles. Segundo a Time, as escolhidas são “líderes extraordinárias que estão trabalhando por um mundo melhor e mais igualitário”. A ministra da Igualdade Racial do governo Lula, Anielle Franco, foi eleita pela revista como uma das 12 mulheres do ano em 2023. Veja quem são as mulheres do ano de 2025, segundo a Time: Nicole Kidman – Atriz e produtora A'ja Wilson – Jogadora de basquete e MVP da WNBA Jordan Chiles – Ginasta olímpica Laufey – Cantora de jazz Anna Sawai – Atriz Amanda Zurawski – Ativista pelos direitos reprodutivos Claire Babineaux-Fontenot – CEO da Feeding America Fatou Baldeh – Ativista gambiana pelos direitos das mulheres Raquel Willis – Ativista e autora Olivia Munn – Atriz e defensora da conscientização sobre o câncer de mama Laura Modi – Cofundadora e CEO da Bobbie Purnima Devi Barman – Conservacionista Gisèle Pelicot – Voz para sobreviventes de violência sexual Relembre o caso de Gisèle Pelicot Por 10 anos, Dominique Pelicot dopou a esposa Gisèle Pelicot e convidou estranhos para ter relações sexuais com ela sem consentimento. Durante todo esse tempo, a vítima não sabia que estava sendo estuprada. Gisèle só descobriu que era vítima de estupros em 2020, quando Dominique foi preso por importunação sexual contra outras mulheres. À época, a polícia apreendeu um computador usado por ele e encontrou fotos da vítima sendo estuprada por vários homens. Ao todo, segundo as investigações, Gisèle foi violentada por mais de 70 homens. Destes, 50 também se tornaram réus junto de Dominique e também foram condenados. O caso ganhou repercussão em setembro, quando começou o julgamento. Na ocasião, Gisèle abriu mão do direito ao anonimato e resolveu tornar todo o processo público. A vítima disse que tomou essa decisão para impedir que casos semelhantes aconteçam com outras mulheres. VEJA TAMBÉM Trump é eleito 'personalidade do ano' pela Time
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Naufrágio na costa de Nova York deixa 3 mortos e feridos

Equipes de resgate da Guarda Costeira ainda buscam uma pessoa desaparecida. Três pessoas morreram e outras duas ficaram feridas depois que um barco naufragou na costa de Nova York, nos Estados Unidos, na madrugada de domingo (23). As equipes de resgate ainda buscam uma pessoa desaparecida. Os dois feridos foram hospitalizados e um deles está em estado grave, segundo autoridades da cidade. A Guarda Costeira dos EUA liderou as operações de resgate ao naufrágio, que ocorreu a 8 km da costa sudeste da cidade, no bairro de Breezy Point. "A Guarda Costeira continua buscando o indivíduo desaparecido. Atualmente, temos uma equipe aérea da Estação Aérea de Atlantic City e o Cutter Chadwick da Guarda Costeira na área", disse o porta-voz Sydney Phoenix na manhã de segunda-feira, em e-mail enviado à agência de notícias Associated Press (AP). A polícia e os bombeiros de Nova York, a Polícia Estadual de Nova Jersey e os Pilotos de Sandy Hook, de Nova Jérsei, também participaram da operação de busca.
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Líderes estrangeiros vão a Kiev apoiar Ucrânia no 3º aniversário da invasão russa ao país


Presidente Volodymyr Zelensky recebeu 13 líderes europeus e do Canadá, e 24 representantes estrangeiros por videoconferência. Líderes mundiais apoiam a Ucrânia no aniversário de 3 anos da guerra A invasão russa à Ucrânia completa três anos nesta segunda-feira (24) e vários líderes estrangeiros foram à Kiev para levar apoio à população e ao presidente Volodymyr Zelensky. O momento da guerra é crítico. Em meio a discussões sobre um possível acordo de paz, proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na noite deste sábado (22), a Rússia lançou o seu maior ataque único com drones contra a Ucrânia. Durante a visita dos líderes estrangeiros, um alerta de ataque aéreo foi emitido em todo o país. "Perigo de mísseis em todo o território da Ucrânia!", escreveu a Força Aérea Ucraniana no Telegram, referindo-se à decolagem de uma aeronave russa portadora de mísseis MiG-31.   O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy e a primeira-dama Olena Zelenska participam de uma cerimônia na Praça Maidan NTB/Javad Parsa via REUTERS A cúpula que ocorre em Kiev nesta segunda conta com a participação de 13 líderes europeus e do Canadá, e de 24 representantes estrangeiros por videoconferência. Eles discutem meios de continuar ajudando a Ucrânia, diante da reviravolta de Donald Trump a favor do presidente russo Vladimir Putin. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, também estão em Kiev, para reiterar o apoio a Zelensky.  "Nesta luta pela sobrevivência, não é apenas o destino da Ucrânia que está em jogo. É o destino da Europa", disse von der Leyen. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, na cúpula "Apoie a Ucrânia " Serviço de Imprensa Presidencial Ucraniano/Divulgação via REUTERS LEIA TAMBÉM: 'Ucrânia é uma democracia, a Rússia de Putin não', afirma União Europeia após Trump chamar Zelensky de 'ditador' Trump diz que presença de Zelensky em negociações pelo fim da guerra na Ucrânia não é 'muito importante' Na Alemanha, o líder dos democratas-cristãos alemães, Friedrich Merz, que venceu as eleições parlamentares deste domingo e tem todas as chances de se tornar o próximo chanceler, declarou como "prioridade absoluta" a criação de uma "capacidade de defesa europeia autônoma" como alternativa à "Otan em sua forma atual".  Em uma mensagem nas redes sociais, Zelensky saudou "três anos de resistência" e "heroísmo absoluto dos ucranianos" desde o início do conflito, agradecendo "a todos aqueles que defendem e apoiam" a Ucrânia.  O presidente ucraniano, que disse estar disposto a deixar o cargo em troca de fim da guerra e de entrada da Ucrânia na Otan, também pediu a troca de todos os prisioneiros de guerra para iniciar diálogo com Moscou, apelando por uma "paz real e duradoura" este ano.   Ataques e protestos Membros da polícia forense inspecionam latas de lixo ao redor do consulado da Rússia em Marselha após explosão REUTERS/Manon Cruz Protestos em apoio à Ucrânia também ocorreram neste domingo (23) em capitais europeias como Paris e Praga, e em frente à embaixada russa em Washington e outras cidades americanas. Outras manifestações estão previstas para esta segunda-feira, incluindo Londres e Sydney.  Na França, um perímetro de segurança foi imposto no em torno do Consulado russo em Marselha, no sul do país, depois que três projéteis foram lançados, nesta segunda-feira, contra o muro, provocando uma explosão, segundo uma fonte da segurança. Não houve vítimas e todos os funcionários e cônsul russos foram colocacos em locais protegidos. Ainda nesta segunda, de acordo com autoridades russas, um incêndio atingiu a refinaria de petróleo de Ryazan, uma das maiores da Rússia, ao sul de Moscou, após um ataque de drones ucranianos. Apreensão por aproximação dos EUA com a Rússia A postura do presidente norte-americano, Donald Trump, que tenta impor negociações de paz nos termos desejados pelo russo Vladimir Putin, por enquanto sem garantias de segurança à Ucrânia e aos países europeus, preocupa os ucranianos. Após três anos de apoio militar ininterrupto dos EUA, eles temem que o país seja forçado a aceitar concessões territoriais em troca de um cessar-fogo.  Se o presidente ucraniano concordar em ceder à Rússia as regiões ocupadas que atualmente pelos russos, "os homens que estão lutando por nossa terra (...) não ouvirão Zelensky e continuaremos a pressionar", alerta Oleksandr, comandante de uma unidade de artilharia da 93ª brigada. Muitos homens já perderam "suas casas, suas famílias, seus filhos" e não têm "mais nada a perder", diz o soldado ucraniano.
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Tunisiano que matou brasileira e mais 2 pessoas em atentado em Nice confessa crimes em julgamento


Brahim Aouissaoui responde pela morte três pessoas na Basílica de Nice, em 29 de outubro de 2020, e disse que agiu para "vingar os muçulmanos" mortos pelos ocidentais. O tunisiano Brahim Aouissaoui, acusado de assassinatos e tentativas de assassinatos terroristas FAMILY HANDOUT / AFP O tunisiano Brahim Aouissaoui, acusado de assassinar três pessoas na Basílica de Nice, em 29 de outubro de 2020, confessou finalmente seus crimes durante seu julgamento no Tribunal Especial de Paris para casos de terrorismo, nesta segunda-feira (24). Ele disse que agiu para "vingar os muçulmanos" mortos pelos ocidentais. Entre as vítimas do tunisiano, estava a franco-brasileira Simone Barreto Silva, que tinha 44 anos quando foi morta no ataque. Ela tinha o hábito de passar pela Catedral de Nice a caminho do trabalho para acender uma vela.    Gravemente ferido pela polícia durante o ataque, o tunisiano se recuperou, mas afirmou inicialmente não se lembrar do que aconteceu. No entanto, segundo médicos que o examinaram, os ferimentos que sofreu não poderiam ter causado uma amnésia. Ele não quis se pronunciar na quarta-feira (19), quando o juiz perguntou se ele tinha algo a declarar. Desta vez, o tunisiano, que fala em árabe e é ajudado por um tradutor durante as audiências, afirmou que não era um terrorista, mas sim um muçulmano. Ele ainda acrescentou que o "Ocidente mata cegamente muçulmanos "inocentes" e "se vingar" é "um direito e uma verdade", disse o acusado, que poderá ser condenado à prisão perpétua. Esta é a primeira vez desde a sua detenção, logo após os acontecimentos, que Brahim Aouissaoui, de 25 anos, admite ser o autor dos homicídios, em que agiu com uma faca de cozinha. Também morreram no ataque a paroquiana Nadine Devillers, de 60 anos e o sacristão Vincent Loquès, de 54.  O jovem justificou o seu ato explicando que "todos os dias há muçulmanos que morrem". "Todos os dias matam muçulmanos e não se importam. Não têm empatia por estas pessoas", acrescentou. A escolha das suas vítimas dentro da igreja foi "aleatória", disse Brahim Aouissaoui. "É certo e verdadeiro sair e matar pessoas ao acaso?", questionou o presidente do tribunal, Christophe Petiteau. "Sim", respondeu o acusado categoricamente. "Não tinha preparado nada", mas os homicídios foram "legítimos", declarou. O interrogatório de Brahim Aouissaoui deve durar o dia inteiro e o julgamento está previsto para terminar na quarta-feira (26). Dor para a família da brasileira A brasileira Simone Barreto Silva morreu no ataque à basílica de Nice Reprodução/Facebook/Simone Barreto Silva Simone Barreto Silva deixou três filhos, que já foram ouvidos em outra sessão do julgamento, que começou em 10 de fevereiro. Um menino, que agora tem 15 anos, disse que logo após o atentado, começou a apresentar dificuldades na escola. “Ainda é complicado hoje, mas tenho orgulho de mim mesmo por tentar ficar concentrado”, afirmou. Duas irmãs de Simone, Solange e Bárbara, descreveram a brasileira como uma pessoa dinâmica e batalhadora. “Não esperávamos essa tragédia em nossa família. Era uma pessoa solar, uma mãe perfeita para seus filhos, cheia de alegria, uma mãe que lutava para criar seus filhos sozinha”, descreveu Solange, lembrando as últimas palavras da irmã, “diga a meus filhos que eu os amo”.
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Musk ameaça colocar de licença funcionários do governo que não retornarem ao trabalho presencial


Chefe do departamento focado em corte de gastos do governo Trump disse que medida, com objetivo de reverter políticas de home office remanescentes da pandemia de Covid-19, está valendo já nesta semana. "Lil X", Musk e Donald Trump estiveram juntos na Casa Branca essa semana Reuters O bilionário Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), ameaçou nesta segunda-feira (24) colocar de licença administrativa trabalhadores do governo que não retornarem ao trabalho presencial nesta semana. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp "Aqueles que ignoraram a ordem executiva do presidente Trump para retornar ao trabalho já receberam mais de um mês de aviso. A partir desta semana, aqueles que ainda não retornarem ao escritório serão colocados em licença administrativa", disse Musk em uma publicação no X. Musk foi escolhido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para cortar custos da máquina pública do governo americano e atua também como um conselheiro de Trump. A ameaça desta segunda-feira, a segunda direcionada aos funcionários do governo nos últimos dias, tem a ver com esforços do governo Trump de acabar com home office desses trabalhadores, prática remanescente do período de lockdown por causa da pandemia de Covid-19. Trabalhadores federais enfrentam incertezas no governo Trump, e já começaram esta semana com outra ordem de Musk: prestar contas sobre o trabalho realizado recentemente, sob pena de perderem o emprego. Diversas agências federais, como o Pentágono e o FBI, pediram para que seus funcionários não atendam ao pedido do bilionário. (Leia mais abaixo) Agências federais pedem para funcionários não cederem a Musk O bilionário Elon Musk durante o evento conservador CPAC, realizado nos EUA Jose Luis Magana/AP O Pentágono e outras agências federais americanas, incluindo aquelas agora dirigidas por leais colaboradores do presidente Donald Trump, rejeitaram o pedido de Elon Musk para que seus funcionários expliquem as tarefas realizadas em seu trabalho sob pena de perderem o emprego. Essa resistência indica um possível atrito entre figuras-chave da administração Trump e o bilionário e assessor externo, que lidera uma campanha para reduzir a força de trabalho de milhões de pessoas no governo, o que causou confusão em diversas agências. A confusão gerada por e-mail de Elon Musk a todos os funcionários públicos dos EUA No sábado (22), funcionários federais receberam um e-mail do Escritório de Gestão de Pessoal dos Estados Unidos (OPM), ao qual a Agência AFP teve acesso, dando como prazo até as 23h59 de segunda-feira para responder com as tarefas de seu trabalho realizadas na semana anterior. Funcionários públicos federais disseram à agência que foram aconselhados a não responder imediatamente. Neste domingo, o Departamento de Defesa publicou uma nota pedindo ao seu pessoal para "pausar qualquer resposta" ao e-mail do OPM com o assunto "O que você fez na semana passada?". "O Departamento de Defesa é responsável por revisar o desempenho de seu pessoal e realizará qualquer revisão de acordo com seus próprios procedimentos", afirmou essa entidade em uma publicação no X. Segundo a imprensa local, funcionários designados pelo governo Trump no FBI (polícia federal), no Departamento de Estado e no escritório nacional de inteligência também instruíram seus integrantes a não responder por enquanto Kash Patel, novo diretor do FBI, enviou uma mensagem a seus funcionários no sábado dizendo: "o FBI, por meio do escritório do diretor, está encarregado de todos os processos de revisão", escreveu o The New York Times. Os sindicatos também responderam rapidamente. A Federação Americana de Funcionários Governamentais (AFGE), o maior sindicato do serviço público americano, prometeu contestar qualquer demissão ilegal. Musk, o homem mais rico do mundo e o maior doador de Trump, foi incumbido de cortes de gastos e de combater desperdícios no governo federal à frente do chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Doge é uma entidade independente dirigida por Musk que foi rejeitada em várias frentes e recebeu sentenças judiciais divergentes. LEIA TAMBÉM: Elon Musk nega que vá cortar sinal da Starlink na Ucrânia se país não aceitar acordo sobre minérios Elon Musk não dirige oficialmente o DOGE e trabalha como conselheiro de Trump, diz Casa Branca Zelensky diz estar disposto a deixar cargo por fim da guerra e entrada da Ucrânia na Otan
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A confusão gerada por e-mail de Elon Musk a todos funcionários públicos dos EUA


Alguns departamentos incentivaram os funcionários a responder, enquanto outros solicitaram que os funcionários aguardem novas orientações. Sede do FBI, nos Estados Unidos. Getty Images via BBC Os principais departamentos do governo federal nos Estados Unidos orientaram seus funcionários a não responderem a um e-mail enviado no sábado por Elon Musk, no qual são questionados o que realizaram no trabalho na semana passada. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp O e-mail é parte de uma iniciativa de cortar gastos e reduzir o número de funcionários do governo federal. A força-tarefa está sendo liderada pelo bilionário Elon Musk à frente do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Musk disse no X que caso os funcionários não respondam ao e-mail até segunda-feira à meia-noite (no horário local —1h59 de terça no horário de Brasília), isso será interpretado como um pedido de demissão. O presidente dos EUA, Donald Trump, ainda não comentou o e-mail. A reação ao e-mail de Musk foi mista. Alguns departamentos —como o FBI, o departamento de Estado e o Pentágono— estão entre as agências que instruíram seus funcionários a não responderem à mensagem. Alguns departamentos do governo aconselharam os funcionários a cumprirem a ordem. E houve outros que recomendaram esperar por mais orientações antes de responder. As orientações conflitantes causaram confusão para centenas de milhares de funcionários do governo. Trump disse, antes do e-mail de Musk, que gostaria de ver o bilionário "mais agressivo" no trabalho. Reuters via BBC No sábado, Musk havia dito no X que em breve os funcionários do governo federal receberiam um e-mail solicitando informações sobre o que cada um fez na semana passada no trabalho. Em seguida, milhões de funcionários públicos receberam a mensagem. Em uma cópia do e-mail obtida pela BBC, os funcionários são solicitados a responder explicando suas realizações da semana passada em cinco tópicos — sem divulgar informações confidenciais. A agência de recursos humanos do governo federal —Office of Personnel Management (OPM, na sigla em inglês)— confirmou que o e-mail é autêntico. A mensagem não menciona que a pessoa possa ser demitida caso não responda, apesar da afirmação de Musk no X de que "a ausência de resposta será considerada um pedido de demissão". O recém-confirmado diretor do FBI, Kash Patel, enviou e-mail à sua equipe no sábado dizendo que eles não deveriam responder à mensagem. "O pessoal do FBI pode ter recebido um e-mail do OPM solicitando informações", escreveu Patel em uma mensagem obtida pela rede americana CBS News. "O FBI, por meio do gabinete do diretor, é responsável por todos os nossos processos de revisão e conduzirá as revisões de acordo com os procedimentos do FBI." O departamento de Estado enviou uma mensagem semelhante, dizendo que a liderança responderia em nome da agência. "Nenhum funcionário é obrigado a relatar suas atividades fora da cadeia de comando do Departamento", afirma um e-mail de Tibor Nagy, subsecretário interino de gestão. O Pentágono disse à sua equipe: "Quando e se necessário, o Departamento coordenará as respostas ao e-mail que você recebeu do OPM." O Departamento de Segurança Interna e a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências deram a seus funcionários instruções semelhantes. Em um sinal de que o e-mail do OPM pode ter pego muitos de surpresa, uma figura sênior do Departamento de Justiça escreveu à equipe na noite de sábado para dizer: "Relatos da mídia indicam que o e-mail foi distribuído a funcionários em todo o governo federal." A mensagem acrescentou que "neste momento, não temos motivos para acreditar que esta mensagem seja spam ou maliciosa". Mais tarde, na noite de sábado, um outro e-mail foi enviado esclarecendo que a mensagem do OPM era "legítima" e que "os funcionários devem estar preparados para seguir as instruções conforme solicitado". A mensagem do departamento de Justiça veio com um aviso à equipe: "Não inclua nenhuma informação sensível ou confidencial em sua resposta. Caso tenha alguma dúvida sobre o conteúdo de sua resposta, entre em contato com seu supervisor. "Se recebermos orientação ou informações adicionais, atualizarei todos os funcionários, conforme necessário." Agências como o Departamento de Transporte, o Serviço Secreto e a Agência de Segurança Cibernética e Infraestrutura também incentivaram sua equipe a obedecer à ordem de Musk, segundo relatos. Outros departamentos, incluindo a Agência de Segurança Nacional, o Serviço de Receita Interna (a receita federal americana) e a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, solicitaram que os funcionários aguardassem mais orientações. Nos EUA, pela segunda vez em um mês, um personagem associado ao universo de Donald Trump fez publicamente o gesto que remete à saudação nazista 'Cruel e desrespeitoso' O OPM não respondeu imediatamente à pergunta da BBC sobre se alguns funcionários poderiam estar isentos de ter que responder ao e-mail. A Federação Americana de Funcionários do Governo, o maior sindicato que representa funcionários federais, criticou a mensagem como "cruel e desrespeitosa" e ameaçou processar o governo. Não está claro como o e-mail afetaria os cerca de três milhões de funcionários federais que podem não ter tido acesso aos seus e-mails neste fim de semana. Outros funcionários do governo, como os do Gabinete de Proteção Financeira do Consumidor, foram colocados em licença no último mês. A mensagem veio horas depois de Trump elogiar o trabalho de Musk nas redes sociais, acrescentando: "Gostaria de vê-lo ficar mais agressivo". Na Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados), o integrante democrata do Comitê de Supervisão e Reforma Governamental criticou o e-mail de Musk em uma carta ao OPM. Gerry Connolly, da Virgínia, escreveu que a agência deveria "esclarecer imediatamente que a não resposta dos funcionários federais a este e-mail mal elaborada no fim de semana não constitui renúncia". "Esta ameaça é ilegal, imprudente e mais um exemplo do caos cruel e arbitrário que Musk está infligindo ao governo do povo e seus dedicados servidores públicos." A maioria dos membros republicanos do Congresso tem defendido Musk e seus esforços. O congressista Mike Lawler, de Nova York, disse à ABC no domingo que os esforços de Musk eram uma "auditoria forense abrangente de todos os departamentos e agências do governo federal". Mas o senador John Curtis, um republicano que representa Utah, criticou os métodos de Musk, apesar de ressaltar que apoia o objetivo final do Doge. "Se eu pudesse dizer uma coisa a Elon Musk, seria: por favor, coloque uma dose de compaixão nisso. Essas são pessoas reais. Essas são vidas reais. Essas são hipotecas [que precisam ser pagas]", Curtis disse à CBS News.
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Extrema direita finalmente se impõe como força opositora no Parlamento alemão


Conservador moderado, Friedrich Merz tentará formar coalizão bipartidária com social-democratas, mas não terá trégua dos radicais do AfD. Alice Weidel, colíder do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), fala com imprensa após resultado histórico do partido nas eleições gerais em 24 de fevereiro de 2025. REUTERS/Annegret Hilse Não será fácil, constatou o conservador Friedrich Merz assim que as pesquisas de boca de urna o apontaram como vencedor das eleições na Alemanha. Desafios gigantescos esperam o futuro chanceler democrata-cristão nas missões de recuperar a economia estagnada do país, o seu papel de liderança na Europa e ainda fazer frente a uma nova ordem global, chacoalhada com a reestreia de Donald Trump na Casa Branca. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Internamente, Merz terá na sua cola os radicais do Alternativa para a Alemanha, que cravaram o melhor resultado da extrema direita em nove décadas, com o dobro de votos em relação ao pleito de 2019. O AfD atuará como o maior grupo de oposição no Parlamento alemão e foi, mais uma vez, sumariamente descartado no domingo pelo líder eleito como integrante de sua futura coalizão. "Temos visões divergentes sobre política externa, política de segurança e Otan. Eles podem nos procurar o quanto quiserem, mas não cairemos em uma política errônea. Não vou questionar o legado de 75 anos da União Democrata Cristã apenas por uma autoproclamada Alternativa para a Alemanha. Vocês querem o oposto do que nós queremos", alertou. Saiba quem cresceu na eleição parlamentar da Alemanha A melhor notícia chegou para Merz somente no fim da apuração. Com 28,6% dos votos, o bloco liderado por democratas cristãos pode agora se dar ao luxo de tentar formar um governo bipartidário apenas com os social-democratas do SPD —aliança que funcionou anteriormente em três dos quatro governos de Angela Merkel. Essa comunhão exclui a presença dos Verdes no governo e só será viável porque os liberais democratas (FDP) e a aliança de extrema esquerda BSW não conseguiram votos suficientes para entrar no Bundestag. A realidade da extrema direita, contudo, se impôs na Alemanha. Calcado em posições anti-migração e pró-Rússia, o AfD não dará trégua ao governo. A candidata Alice Wiedel avisou que o partido não pode ser ignorado e sugeriu que as próximas eleições podem vir antes do que o previsto. Em outras palavras, os radicais de direita estão prontos para tirar proveito de um suposto fracasso do novo governo. LEIA TAMBÉM: Vencedor, Friedrich Merz quer compor novo governo até a Páscoa Social Democratas sofrem derrota na Alemanha, conservadores vencem, e extrema direita tem ascensão recorde Medo e impotência: imigrantes brasileiros na Alemanha lamentam ascensão da direita radical Friedrich Merz é favorito para ser o novo chanceler da Alemanha REUTERS/Teresa Kroeger
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Medo e impotência: imigrantes brasileiros na Alemanha lamentam ascensão da direita radical


'Me sinto excluída totalmente do lugar onde vivo', diz estudante moradora de Leipzig. Partido de extrema direita AfD teve desempenho recorde nas eleições gerais de domingo (23). Cidadãos defendem deportação de imigrantes na Alemanha: partido de direita radical AfD tem crescido no país. Getty Images via BBC As eleições parlamentares deste domingo (23) apenas confirmaram o cenário que já se desenhava nos últimos anos: a direita radical está cada vez mais forte e tem cada vez mais apoio da população na Alemanha. O controverso Alternative für Deutschland (AfD, ou Alternativa para a Alemanha), ficou em segundo lugar nas urnas, com 20,6% dos votos. O conservador União Democrata-Cristã (CDU) foi o vencedor, com 28,6% dos votos. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp O partido foi alçado principalmente por seu forte discurso anti-imigração. Para os eleitores do AfD esse é o tema mais importante, com foco no aumento de refugiados e pedidos de asilo nas últimas décadas. Durante a campanha, a líder da legenda, Alice Weidel, chegou a apoiar oficialmente um projeto de "remigração", ou o "retorno" em massa de imigrantes e seus descendentes para seus países de origem. O termo ganhou destaque pela primeira vez no cenário político alemão no início de 2024, quando a notícia de que políticos do AfD haviam participado de um encontro com neonazistas para discutir a deportação em massa de milhões de imigrantes e "cidadãos não assimilados" — independente de situação legal ou de possuírem cidadania alemã — escandalizou o país. O episódio provocou uma onda de protestos nacionais e levou o AfD a se distanciar da ideia de "remigração" — uma postura posteriormente abandonada ao longo da campanha. A possibilidade de um endurecimento das políticas migratórias — e o sentimento cada vez mais hostil em relação aos imigrantes — assusta brasileiros que moram na Alemanha. SANDRA COHEN: Extrema direita finalmente se impõe como força opositora no Parlamento alemão 'Me sinto impotente' Gabriela Badain, estudante de 27 anos que mora há dois anos em Leipzig, no leste da Alemanha, diz se sentir impotente diante do avanço da direita radical. "Eu, assim como muitos outros imigrantes, estamos muito preocupados", diz a mestranda que estuda Alemão como Língua Estrangeira. "Sei o quanto o resultado dessa eleição pode influenciar meu futuro, mas não tive o que fazer além de tentar conversar com os eleitores alemães à minha volta, porque não posso votar." No país, apenas pessoas com cidadania alemã possuem direito ao voto em eleições nacionais. "Me sinto excluída totalmente do lugar onde vivo", lamenta a brasileira natural de São Paulo. O estado da Saxônia, onde a cidade em que Gabriela mora está localizada, se tornou um dos principais polos de crescimento do AfD nos últimos anos. Desde setembro do ano passado, o partido tem a segunda maior bancada no Parlamento local, com apenas um assento a menos do que a União Democrata-Cristã (CDU). A região leste da Alemanha, aliás, vem sendo considerada um bastião da direita radical. Também no ano passado, o AfD comemorou um "sucesso histórico" após conquistar quase um terço dos votos nas eleições locais do Estado de Turíngia. Foi a primeira vitória da direita radical em uma eleição para parlamento estadual na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial. Gabriela afirma nunca ter experimentado ataques xenofóbicos direcionados diretamente contra ela, mas lamenta o aumento dos casos em todo o país — segundo dados compilados pela Statista em 2024, 13,3% da população acredita que o país está em risco por causa dos estrangeiros. "Sou uma pessoa branca e muitas vezes só percebem que sou imigrante quando ouvem meu sotaque, mas já vivenciei situações muito tristes ao lado de colegas ou do meu namorado, que é libanês." A estudante relata um episódio específico em que, durante um encontro em um restaurante com o namorado e outros amigos de origem libanesa, um jovem alemão se aproximou da mesa onde estavam sentados e estendeu o braço em um movimento que pode ser comparado a uma saudação nazista. "Fiquei horrorizada e quis denunciar para a polícia, mas meus amigos disseram que não era a primeira vez que isso acontecia com eles e que não daria em nada." "Sei o quanto o resultado dessa eleição vai influenciar meu futuro, mas não tive o que fazer porque não posso votar", diz Gabriela Badain. Arquivo pessoal via BBC A própria AfD já foi acusada de defender ideias neonazistas e integrantes do partido foram condenados por apologia à ideologia. No ano passado, o partido foi expulso da coligação Identidade e Democracia (ID), formada por partidos da direta radical do Parlamento Europeu, depois que um político da sigla afirmou que os membros da SS nazista "não eram todos criminosos". A SS era uma força paramilitar nazista e foi uma das organizações responsáveis pelo Holocausto. Episódios como esse fizeram com que todos os demais partidos, incluindo a CDU e o Partido Social Democrata (SPD), do primeiro-ministro Olaf Scholz, prometessem nunca colaborar com a AfD, isolando a ultradireita através de um chamado "cordão sanitário". Mas a tentativa de Friedrich Merz de aprovar no Parlamento alemão um projeto que pedia restrições à reunificação familiar e a rejeição de imigrantes nas fronteiras, em janeiro deste ano, causou polêmica em todo o país. Isso porque, para aprovar a moção e as linhas gerais do texto serem discutidas, o líder da CDU contou com apoio da AfD. O projeto de lei acabou não sendo aprovado, mas Merz incluiu em sua lista de prioridades num eventual governo a implementação da medida — algo que também assusta muitos imigrantes. "Ver CDU compartilhando ideias com a AfD preocupou muita gente. Quando vi as notícias sobre isso só consegui pensar 'nossa, agora ferrou'", conta Gabriela Badain. A estudante relata ainda uma inquietação entre colegas estrangeiros que vivem na Alemanha com visto de estudante. "Já estive em várias conversas em que a ideia de terminar o mestrado em outro país surgiu", diz. Ela mesma afirma estar preocupada com seu futuro. "Trabalho meio período como professora de alemão para crianças imigrantes e não sei o quanto essa intolerância crescente pode afetar meu trabalho ou a busca por outras vagas", afirma. Por tudo isso, Gabriela afirma que pretende deixar a Alemanha caso a sensação de insegurança e a hostilidade em relação aos imigrantes cresça ainda mais. "As pessoas imigrantes já passam por muitas dificuldades e desafios por não estarem no próprio país. Então se eu me sentir ameaçada, mesmo eu estando em um lugar de privilégio, me faria não querer continuar morando nesse país — e eu acho que muitas pessoas do meu círculo também se sentem assim." LEIA TAMBÉM: Social-democratas sofrem derrota histórica na Alemanha, conservadores vencem, e extrema direita tem ascensão recorde A Alemanha escolheu um novo governo. E agora? Vencedor, Friedrich Merz quer compor novo governo até a Páscoa 'Única esperança é saber que não são maioria' Luciano Luz, 38, trabalha como entregador de comida por aplicativo desde que se mudou para a cidade alemã de Mannheim há seis anos. O paranaense não nega já ter sido tratado de forma diferente em seu dia a dia apenas por ser imigrante. Ele relata ao menos dois episódios em que se sentiu desrespeitado durante o trabalho. Em uma dessas ocasiões, estava pedalando sua bicicleta quando um carro se aproximou e o passageiro arremessou um copo de água com gelo em suas costas. "Quase 100% dos entregadores de aplicativo na minha cidade são imigrantes e não havia outro motivo para fazerem isso", conta. "Foi a primeira vez que senti medo por conta dessa onda anti-imigração." Natural de Foz do Iguaçu, Luciano imigrou para a Alemanha para ficar mais perto da única filha, nascida de um relacionamento com uma mulher alemã que ele conheceu quando ainda morava no Brasil. Mas apesar de ter sido ele mesmo vítima de preconceito, compartilha que está cada vez mais cultivando um sentimento de apatia diante do crescimento da direita radical. "Evito carregar comigo o sentimento de medo ou raiva diante de tudo que está acontecendo, porque não tem o que eu possa fazer e pensar demais nisso só vai me adoecer", diz. Luciano Luz diz que está cada vez mais cultivando um sentimento de apatia diante do crescimento da direita radical. Arquivo pessoal via BBC "Sinto que as pessoas que votam na AfD sempre cultivaram algum tipo de sentimento anti-imigrante ou anti-LGBT, mas estão se sentindo mais encorajadas e saindo do armário agora. E elas vão continuar pensando assim, não tem jeito." "Minha única esperança é saber que elas não são a maioria da população e que muito possivelmente não vão conseguir eleger um primeiro-ministro agora ou no futuro", afirma. Luciano diz que as pessoas que o acolheram com respeito na Alemanha e que demonstram compaixão em relação aos imigrantes têm ajudado a construir esse pequeno sentimento de confiança em relação ao futuro, mas não de forma suficiente para que ele pense em ficar no país para sempre. O entregador tem planos de voltar a viver no Brasil com a filha em breve. "A verdade é que a extrema direita está crescendo em todo lugar, na Alemanha, nos Estados Unidos e até no Brasil", diz. "Mas sinto falta da minha família e do clima do Brasil, então prefiro voltar." "E acho que nunca me senti totalmente bem-vindo na Alemanha. Sempre notei um tratamento diferente em relação a mim, mesmo falando alemão e respeitando todos os costumes." Boca de Urna indica que CDU foi partido mais votado na Alemanha 'Enxergo uma outra parte da Alemanha' Já Éder Souza, 40, afirma não ter planos de deixar a Alemanha, apesar de também notar um crescimento inegável do sentimento nacionalista e anti-imigrante ao seu redor. "Enxergo uma outra parte da Alemanha que bate de frente com essa onda de direita nacionalista e xenofóbica", diz o paulista natural de Mauá, região metropolitana de São Paulo. "É por isso que eu fico." Éder deixou o Brasil ao lado da esposa em 2018 após receber uma proposta para trabalhar como consultor na área de software. Atualmente vive em Bruchsal, uma cidade localizada perto da fronteira com a França. Mas antes mesmo da mudança, o especialista em tecnologia já se sentia preocupado pela forma como seria recebido na Alemanha. "Comecei a aprender alemão alguns anos antes de me mudar e naquela época já ouvia relatos sobre a AfD e as políticas anti-imigração", diz. "Confesso que isso me fez sentir bastante receio sobre como seria recebido." O brasileiro diz ouvir constantemente relatos de colegas imigrantes sobre casos de xenofobia. "Amigos negros foram xingados na rua mais de uma vez", lamenta. "Mas felizmente eu e minha esposa nunca passamos por nenhuma situação de xenofobia diretamente." Para Éder, uma das posições mais difíceis de entender é a de imigrantes ou cidadãos alemães com origem estrangeira que apoiam a AfD e outros partidos com políticas anti-imigração. "Isso me causa muito espanto", diz. "Mas vejo o quanto a extrema direita usa um discurso populista, com o apoio de figuras como o Elon Musk, para atrair as pessoas." Me causa muito espanto ver imigrantes brasileiros apoiando as ideias da AfD, diz o especialista em tecnologia Éder Souza. Arquivo pessoal via BBC O bilionário sul-africano apoiou o AfD ao participar por videoconferência de um comício da legenda no final de janeiro. "É bom ter orgulho de ser alemão. Lutem por um futuro brilhante para a Alemanha", disse Musk, reiterando seu apoio ao partido que encarna, segundo ele, "a melhor esperança para a Alemanha". Dono da SpaceX e da rede social X (antigo Twitter), o bilionário também apoiou Donald Trump em sua campanha pela presidência americana. Ele atualmente comanda o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) dos EUA.
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Papa teve 'boa' noite e repousa no hospital, diz Vaticano


Neste domingo, o pontífice agradeceu as orações pela saúde e afirmou que segue em tratamento, enquanto o Vaticano monitora seu estado clínico. Papa Francisco Filippo MONTEFORTE / AFP Na madrugada desta segunda-feira (24), o Vaticano informou que o papa Francisco "passou bem a noite, dormiu e está descansando". O pontífice continua lutando contra uma pneumonia dupla. No domingo (23), ainda em estado crítico, o papa Francisco sofre de insuficiência renal leve, disse o Vaticano. Em boletim divulgado na tarde de ontem, médicos afirmaram que um novo exame apontou a insuficiência renal, que é inicial e está atualmente controlada. O boletim afirma ainda que o pontífice não sofre mais de crise respiratória. O prognóstico completo de Francisco segue em sigilo por conta da complexidade do quadro, disse ainda o Vaticano, que afirma também que ele está "vigilante e bem orientado". ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp "O estado de saúde do Santo Padre continua crítico. No entanto, desde ontem à noite ele não apresentou mais crises respiratórias", disse o boletim. "No entanto, alguns exames de sangue mostram uma insuficiência renal inicial, leve, atualmente controlada. A complexidade do quadro clínico e a espera necessária para que as terapias farmacológicas deem algum resultado exigem que o prognóstico permaneça reservado". O boletim afirmou também que o pontífice segue fazendo uso de almofadas nasais para a aplicação de oxigênio em altos fluxos (oxigenoterapia). Mais cedo, o Vaticano já havia informado sobre esse procedimento. "O papa Francisco usou almofadas nasais esta manhã para a aplicação de oxigênio em altos fluxos. Outros exames clínicos estão em andamento. Para saber os resultados, aguardamos o boletim desta noite", disse o Vatican News. Também neste domingo (23), em oração escrita pelo papa Francisco, o pontífice agradeceu às orações pela sua saúde e disse que continua 'realizando os tratamentos necessários'. "De minha parte, continuo confiante a internação na Policlínica Gemelli, realizando os tratamentos necessários; e também o repouso faz parte da terapia! Agradeço de coração aos médicos e ao profissionais de saúde deste Hospital pela atenção que me dispensam e pela dedicação com que prestam seu serviço aos doentes". O pontífice também convidou os fiéis a rezarem pelos países onde há conflitos, da "Palestina ao Sudão", com um pensamento particular para a Ucrânia. O texto foi divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. É o segundo domingo que Francisco não participa da tradicional oração de Angelus. Neste domingo, a missa foi conduzida pelo Arcebispo Rino Fisichella. Francisco ainda dedicou agradecimento especial às demonstrações de carinho feitas pelas crianças. "Nestes dias recebi muitas mensagens de afeto e fiquei particularmente tocado pelas cartas e pelos desenhos das crianças. Obrigada por essa proximidade e pelas orações de conforto que recebi do mundo inteiro! Confio todos à intercessão de Maria e peço que rezem por mim." Noite tranquila Para Francisco teve noite tranquila, diz Vaticano O papa Francisco teve uma noite tranquila, informou o Vaticano no início da manhã de domingo (23). O comunicado vem um dia após o pontífice sofrer uma crise de asma prolongada e o seu estado de saúde ser descrito como crítico pela primeira vez. O Papa Francisco, internado desde 14 de fevereiro após sentir dificuldade para respirar por vários dias. O pontífice, de 88 anos, foi internado no hospital Gemelli, em Roma, devido a uma bronquite. No hospital, foi diagnosticado como pneumonia bilateral e infecção polimicrobiana. Na sexta-feira (21), Francisco completou uma semana de internação e os médicos do papa fizeram uma entrevista coletiva para atualizar o quadro clínico do pontífice. Segundo a equipe médica, o papa não corre risco de morte, mas também não está fora de perigo por ser um "paciente frágil". Por conta disso, Francisco permanecerá internado por pelo menos mais uma semana. Eles também disseram que o pontífice: Não está conectado a nenhum aparelho de respiração; Consegue caminhar, mas só distâncias curtas por conta da dificuldade respiratória e do problema prévio em seu joelho; Ainda assim, se levanta com frequência e trabalha de uma poltrona; Não tem quadro de sepse (infecção generalizada); Sabe que está em perigo e pediu que os médicos não escondessem nenhuma informação do público; Está comendo de forma regular e "apresenta bom apetite"; É considerado "um paciente frágil", principalmente por conta da idade; Está respondendo aos tratamentos, mas o quadro pode ir mudando a cada dia; Não está divulgando fotos porque "não queremos uma foto do papa em pijama". Durante todo esse período, diz o Vaticano, Francisco tem trabalhado e se mantido informado através da leitura de jornais. O papa também consegue se movimentar dentro de seu quarto no hospital, atende algumas ligações telefônicas e continua com alguns afazeres administrativos. Ainda segundo o Vaticano, todos os compromissos públicos do papa foram cancelados. Pneumologista fala sobre boletim médico do Papa Francisco; quadro é considerado crítico
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Vencedor, Friedrich Merz diz que quer compor novo governo até a Páscoa


Eleitores alemães foram às urnas neste domingo (23/02) para escolher quem vai liderar o país após a desintegração da coalizão de governo do chanceler federal Olaf Scholz em novembro. Os eleitores alemães foram às urnas neste domingo (23) para escolher quem vai liderar o país após a desintegração da coalizão de governo do chanceler federal Olaf Scholz em novembro do ano passado. No pleito, venceu a aliança conservadora de oposição União Democrata Cristã (CDU)/União Social Cristã (CSU), liderada por Friedrich Merz, provável futuro chanceler do país. Mas Merz, que dependerá de alianças com outros partidos, não deve ter uma tarefa fácil pela frente: a perspectiva é de um Bundestag (nome dado ao Parlamento alemão) fragmentado e negociações para a formação de um novo governo que podem se arrastar por semanas. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp O resultado significa também uma derrota histórica para o Partido Social Democrata (SPD) de Scholz e para o Partido Liberal Democrático (FDP), ex-parceiro de coalizão que ficou de fora do Parlamento. Parceiros de coalizão de Scholz, os Verdes também devem perder alguns mandatos. Já a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) quase dobrou seu eleitorado e será a segunda maior bancada no Parlamento. O partido A Esquerda conseguiu reverter sua trajetória de declínio nas pesquisas e garantiu bancada minoritária no Parlamento. A sigla populista de esquerda BSW, dissidência do A Esquerda, também ficará sem mandato no Bundestag. A campanha foi dominada por temas como a estagnação econômica do país, imigração, a continuidade da guerra na Ucrânia e a influência no pleito de atores externos no pleito como o bilionário Elon Musk e o vice-presidente americano J.D. Vance, que manifestaram simpatia pela AfD. Composição do Parlamento alemão antes da eleição de 2025 e após o pleito. arte/ g1 LEIA MAIS: Celulares do golpe: Fantástico mostra áudios inéditos de militares e civis que planejavam derrubar o governo Conservadores vencem eleição na Alemanha, e extrema direita tem ascensão recorde City, trail ou crossover? VÍDEO mostra qual moto se encaixa melhor no seu dia a dia AfD lidera votação em todos os cinco estados do leste da Alemanha Saiba quem cresceu na eleição parlamentar da Alemanha O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) se firmou como a segunda maior força política nesta eleição, atrás dos conservadores do bloco CDU/CSU. A AfD deve recebeu pouco mais de 20% dos votos, contra 28,5% do bloco conservador. Mas, se dependesse somente dos eleitores do leste alemão, a legenda terminaria o pleito em primeiro lugar. Na contagem do voto de legenda, a AfD aparece à frente de todos os seus concorrentes nos cinco estados do leste alemão. Na Turíngia, um dos principais redutos eleitorais da legenda, a AfD recebeu 38,6% dos votos na contagem final, de acordo com a comissão eleitoral estadual. Na Saxônia, a AfD aparece com 40,1% após o término da contagem em 414 dos 420 distritos eleitorais. A AfD também estava na liderança nos estados de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Brandemburgo e Saxônia-Anhalt – mas a contagem ainda não foi completada. Na Turíngia, na Saxônia e na Saxônia-Anhalt, diretórios locais da AfD são oficialmente classificados como “extremistas" por órgãos locais de inteligência, que monitoram de perto as atividades de seus membros. Na antiga Berlim Oriental, porém, o partido A Esquerda é o preferido do eleitorado. Vencedor, Friedrich Merz quer compor novo governo até Páscoa Líder da aliança vencedora União Democrata Cristã (CDU)/União Social Cristã (CSU) e provável novo chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz disse querer formar um novo governo até a Páscoa, em 20 abril. Na Alemanha, os eleitores não votam diretamente nos candidatos a chanceler, mas em seus partidos. Para conseguir liderar um governo estável, um pretendente a chanceler federal precisa garantir mais de 50% dos votos no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão. Caso nenhum partido obtenha essa marca sozinho, é necessária a formação de uma aliança. Normalmente, a iniciativa para liderar a costura de uma coalizão de governo e propor quem será o novo chanceler federal cabe à legenda que conquistar mais cadeiras no Parlamento. Merz já afirmou diversas vezes descartar uma coalizão com a sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), isolada no Bundestag por um "cordão sanitário", o que torna uma participação da legenda no próximo governo altamente improvável. Mas diante da perspectiva de um parlamento fragmentado, a formação de uma coalizão não deve ser tarefa fácil. Olhos estão voltados para desempenho de novo partido de esquerda "antiwoke" A eleição deste domingo também marcou a estreia em eleições federais da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), legenda populista de esquerda formada em 2024 que leva o nome da sua fundadora. Nas primeiras projeções da noite de domingo — e confirmado pelas urnas —, o partido de Wagenknecht aparecia abaixo dos 5%, com 4,9% dos votos, ainda insuficientes para garantir uma bancada no Bundestag. Pelas regras da eleição alemã, partidos precisam de ao menos 5% dos votos ou eleger ao menos três deputados pelo voto direto nos distritos. Do contrário, seus votos são desprezados na formação do Parlamento. Caso a BSW entre no Bundestag, ela vai diminuir o espaço das legendas maiores e, com isso, dificultar a formação de uma coalizão de governo pelo conservador Friedrich Merz. Antes de lançar a BSW no ano passado, Wagenknecht era uma figura proeminente da legenda A Esquerda, mas vivia às turras com seus antigos correligionários por causa da sua oposição à imigração irregular e ao "identitarismo". Ao estrear em 2024 nas eleições europeias e três pleitos estaduais na Alemanha, a BSW se apresentou para o eleitorado com uma agenda heterodoxa: esquerdista em assuntos econômicos, porém mais próxima da ultradireita em questões como imigração e diversidade. Analistas chegaram a apontar que a nova legenda poderia tomar quase todo o espaço do partido A Esquerda, e pesquisas no final do ano passado sugeriram isso. No entanto, conforme a campanha avançou, a BSW foi perdendo fôlego, e acabou sendo superada pela velha agremiação de Wagenknecht. Trump comemora vitória de conservadores na Alemanha: "grande dia" O presidente americano, Donald Trump, comemorou via redes sociais a vitória dos conservadores na eleição alemã e atribuiu o resultado ao "cansaço" do povo alemão com uma agenda "sem senso comum, especialmente em energia e imigração". "Parece que o partido conservador na Alemanha ganhou a eleição", disse sobre o triunfo de União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), bloco liderado por Friedrich Merz, cotado para ser o próximo chanceler federal. "Este é um grande dia para a Alemanha, e para os EUA sob a liderança de um cavalheiro chamado Donald J. Trump. Parabéns a todos — muito mais vitórias virão!!!", postou em sua rede social, a Truth Social. Confira o resultado das eleições por idade e gênero O eleitorado alemão é relativamente velho: 42,1% dos eleitores têm 60 ou mais anos. E é neste grupo que a aliança conservadora entre os partidos da União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), que venceu a votação deste domingo (23/02), teve seu melhor desempenho. Logo atrás da CDU/CSU vem o Partido Social Democrata (SPD), do chanceler federal Olaf Scholz, que no cômputo geral amargou o terceiro lugar. Já a AfD performa melhor entre os eleitores até 44 anos. No outro espectro do campo político, o partido A Esquerda, que renasceu nas urnas após ter sua morte política quase dada como certa, lidera entre os eleitores até 24 anos. Em termos de gênero, as diferenças entre o eleitorado masculino e feminino ficam evidentes principalmente no voto para a AfD, mais de 50% maior entre homens. Eleitorado pune Verdes e liberais, que formaram coalizão de Scholz O Partido Social Democrata (SPD) do chanceler federal Olaf Scholz não foi a única legenda castigada nas urnas neste domingo (23/02). Segundo as primeiras projeções, também os Verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP), que fizeram parte da coalizão de governo nos últimos três anos, perderam eleitores. Em meio a um cenário de crise econômica, alta nos preços de energia e tensões geopolíticas, os Verdes devem encolher alguns pontos percentuais, mas se manter em torno dos 12%. O resultado interrompe a trajetória de crescimento que o partido ambientalista – um dos principais alvos de críticas da ultradireita – teve na última década. No caso do FDP, a legenda pró-mercado que rompeu com Scholz em novembro do ano passado deve perder mais da metade do seu eleitorado em relação a 2021. E, com menos de 5% dos votos, arrisca até mesmo sair do Parlamento caso não consiga garantir a eleição de ao menos três deputados por mandato direto. Essa seria apenas a segunda vez que isso ocorre na trajetória de 76 anos do partido – a última havia sido no pleito de 2013. A saída do FDP da coalizão de governo de Scholz deixou o social-democrata sem maioria para governar e levou à antecipação das eleições. Oficialmente, o FDP justificou o rompimento alegando discordar da administração do Orçamento. Reportagens divulgadas na imprensa alemã, contudo, sugerem que a saída teria sido cálculo eleitoral.
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Quais são os minerais raros da Ucrânia – e por que Trump está de olho neles?


O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que não vai "vender nosso Estado" após rejeitar uma proposta de Donald Trump para dar aos EUA acesso às vastas reservas minerais da Ucrânia. Veja por que elas são importantes Zelensky afirmou que não vai "vender nosso Estado" após rejeitar uma proposta de Donald Trump para dar aos EUA acesso às vastas reservas minerais da Ucrânia Getty Images/via BBC O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, havia dito que não iria "vender nosso Estado" após rejeitar uma proposta de Donald Trump para dar aos EUA acesso às vastas reservas minerais do país. Neste domingo (23/2), porém, Zelensky recuou no tom e disse "estar pronto para conversar sobre minerais" com os americanos. "Estamos prontos para compartilhar", disse. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A Ucrânia possui enormes depósitos das chamadas "terras raras" e minerais estratégicos, mas muitos estão em áreas controladas por tropas russas. Trump afirmou que esses recursos deveriam ser trocados pelo contínuo apoio dos EUA à Ucrânia na guerra contra a Rússia. "Eu disse [à Ucrânia] que quero o equivalente a, tipo, US$ 500 bilhões [cerca de R$ 2,9 trilhões] em terras raras, e eles essencialmente concordaram em fazer isso", disse Trump ao repórter da Fox News, Bret Baier, em 10 de fevereiro. A proposta de Trump destacou a importância desses minerais para os EUA, mas para que eles servem e o que podem oferecer ao país? As rochas cretáceas de Bilokuzmynivka, na região de Donetsk e Luhansk, abrigam alguns dos minerais mais valiosos da Ucrânia Getty Images/Via BBC O que são os minerais de terras raras? "Terras raras" é um termo coletivo para 17 elementos quimicamente semelhantes amplamente utilizados na tecnologia e na indústria modernas. Esses elementos são cruciais para a produção de smartphones, computadores, equipamentos médicos e vários outros produtos. Eles incluem: Sc – escândio, Y – ítrio, La – lantânio, Ce – cério, Pr – praseodímio, Nd – neodímio, Pm – promécio, Sm – samário, Eu – európio, Gd – gadolínio, Tb – térbio, Dy – disprósio, Ho – hólmio, Er – érbio, Tm – túlio, Yb – itérbio, Lu – lutécio. Os minerais são chamados de "raros" porque é muito incomum encontrá-los em forma pura, embora existam depósitos de alguns deles em várias partes do mundo. No entanto, as terras raras frequentemente ocorrem junto a elementos radioativos, como tório e urânio, e separá-los exige o uso de muitos produtos químicos tóxicos, tornando o processo de extração às vezes difícil e caro. VEJA TAMBÉM Zelensky diz estar disposto a deixar cargo por fim da guerra e entrada da Ucrânia na Otan Quais minerais a Ucrânia tem? A Ucrânia possui 21 das 30 substâncias que a União Europeia define como "materiais brutos essenciais", representando cerca de 5% das reservas mundiais. Muitas das áreas que contêm esses elementos estão localizadas no sul do Escudo Cristalino Ucraniano (grande área de rochas), principalmente sob o Mar de Azov. A maioria desses territórios está atualmente ocupada pela Rússia. No entanto, ainda há projetos promissores na região do rio Bug, no oeste do país, assim como nas regiões de Kiev, Vinítsia e Jitomir. Especialistas afirmam que, embora centenas de locais geológicos promissores tenham sido identificados, apenas alguns deles podem se tornar depósitos viáveis, caso seu desenvolvimento seja considerado economicamente factível. "As estimativas divulgadas são, de fato, apenas estimativas", diz Adam Webb, chefe de Materiais Brutos para Baterias na Benchmark Mineral Intelligence, uma agência de informações especializadas sobre esse mercado. "É necessário muito mais trabalho para transformar esses depósitos minerais em reservas economicamente exploráveis." Quanto a outros recursos minerais importantes da Ucrânia, segundo a Forbes Ucrânia, cerca de 70% deles estão localizados nas regiões de Donetsk, Dnipro e Luhansk. Portanto, muitos estão em territórios invadidos e ainda ocupados pela Rússia. Além dos minerais raros, a Ucrânia também possui o que são conhecidos como "minerais críticos" — ou estratégicos —, como o lítio. De acordo com o governo da Ucrânia, o país possui cerca de 450 mil toneladas de reservas de lítio. No entanto, ainda não está sendo extraído, embora haja planos para que a mineração comece em breve. A Rússia ocupou pelo menos dois depósitos de lítio: Shevchenkivske, na região de Donetsk, e o complexo de minério de Kruta Balka, na região de Berdyansk. Os depósitos de minério de lítio na região de Kirovohrad permanecem sob controle ucraniano. O que Trump quer com esses minerais? O interesse dos EUA em controlar a produção de terras raras e, possivelmente, minerais críticos, deve-se em grande parte à competição com a China, que atualmente domina o fornecimento global. Nas últimas décadas, a China se tornou líder tanto na mineração quanto no processamento de minerais raros, respondendo por 60% a 70% da produção mundial e quase 90% da capacidade de processamento. A dependência dos EUA em relação à China nesse aspecto provavelmente é preocupante para a administração Trump – tanto em termos de segurança nacional quanto economicamente. Esses materiais são necessários para tecnologias altamente sofisticadas – desde carros elétricos até equipamentos militares. Donald Trump, presidente dos EUA Getty Images/Via BBC Análise: 'um paradoxo' Por Navin Singh Khadka, repórter de Meio Ambiente do Serviço Mundial da BBC À primeira vista, parece um paradoxo. Trump ordenou a expansão da produção de combustíveis fósseis, abandonando as políticas de energias renováveis. Mas, ao mesmo tempo, ele quer garantir os minerais críticos – que são essenciais para a transição para uma energia limpa – de onde seja possível. No entanto, esses minerais também são os blocos fundamentais para produtos eletrônicos de consumo, equipamentos militares e de navegação, e – mais importante ainda – centros de dados de inteligência artificial (IA). Trump anunciou uma grande iniciativa para expandir a infraestrutura de IA em seu país. Isso exigirá um enorme fornecimento de minerais críticos – principalmente cobre, silício, paládio e elementos de terras raras. E o fornecimento desses minerais já começou a declinar, tornando-se uma das principais causas do desaceleramento do crescimento global das energias limpas. Especialistas afirmam que a dominância chinesa dos minerais críticos, incluindo elementos de terras raras, é o principal fator para o desejo de Trump, devido à disputa geopolítica entre os EUA e a China. Após décadas aperfeiçoando tecnologias de processamento e expertise, a China atualmente controla 100% do fornecimento refinado de grafite natural e disprósio, 70% de cobalto e quase 60% de todo o lítio e manganês processados, de acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável. A potência asiática também produz predominantemente elementos de terras raras e mantém um controle rigoroso sobre metais-chave ao redor do mundo, com a posse de grandes minas na África, Ásia e América do Sul. "Para combater o crescente domínio da China sobre a cadeia de suprimentos global", disse o Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes dos EUA durante a administração de Biden, "é essencial que os EUA assegurem seu próprio fornecimento inovador de minerais críticos e estratégicos." A administração Trump parece ver locais como a Ucrânia e a Groenlândia como áreas para utilizar métodos inovadores a fim de adicionar à sua cadeia de suprimentos.
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A Alemanha escolheu um novo governo. E agora?


Aliança conservadora CDU/CSU será a maior força no Parlamento alemão, cacifando-se para nomear o próximo chefe de governo: Friedrich Merz. Merz é casado com Charlotte, uma juíza, há mais de 40 anos. AFP via BBC Vitória da aliança conservadora de Merz, derrota retumbante dos social-democratas de Scholz, e um em cada cinco votos depositados na ultradireitista AfD. O que isso significa para o país? A aliança conservadora CDU/CSU será a maior força no Parlamento alemão, cacifando-se para nomear o próximo chefe de governo: Friedrich Merz. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp "Ganhamos esta eleição", celebrou o candidato a chanceler federal e líder da União Democrata Cristã (CDU). Mas a empolgação não era tão grande na sede do partido, em Berlim. De olho nas difíceis costuras para a formação de uma coalizão de governo, os conservadores esperavam um desempenho melhor, acima dos 30% – mas ficaram com cerca de 28%. Como não têm maioria para governar sozinhos, os conservadores precisam buscar parceiros de coalizão. A Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em segundo lugar com quase 21%, poderia servir – do ponto de vista matemático. Um em cada cinco eleitores apoia a sigla de ultradireita, que é monitorada pelos órgãos de inteligência alemã e tem alguns de seus diretórios reconhecidos como "extremistas" por serem potenciais ameaças à ordem democrática. "Dobramos de tamanho! Queriam nos cortar pela metade, e aconteceu o contrário", gabou-se a candidata e co-líder da AfD, Alice Weidel. Segundo ela, só com a ajuda da AfD é que CDU e CSU poderiam pôr em prática suas promessas de campanha, como o fim da imigração irregular. "Nossa mão sempre estará estendida para uma participação no governo, para realizar a vontade do povo, a vontade da Alemanha." Mas os conservadores foram categóricos ao descartar, ainda durante a campanha, uma aliança com a AfD. "Temos concepções bem diferentes, por exemplo na política externa, na política de segurança, em muitas outras áreas, no que diz respeito aos temas União Europeia, Otan e euro", repetiu Merz na noite da eleição. "Pode estender a mão como quiser", disse, dirigindo-se a Weidel na TV. Weidel retrucou prometendo que a AfD, como maior bancada de oposição, fará pressão. "Vamos perseguir os outros, para que façam política séria pelo nosso país", ameaçou. LEIA TAMBÉM: Social-democratas sofrem derrota histórica na Alemanha, conservadores vencem, e extrema direita tem ascensão recorde SANDRA COHEN: Extrema direita finalmente se impõe como força opositora no Parlamento alemão Vencedor, Friedrich Merz diz que quer compor novo governo até a Páscoa União promete mudança de rumo no governo Além do desempenho fraco da economia, o principal tema da campanha foi a política de asilo e refúgio do país. "Sentimos a insegurança dos alemães", afirmou o chefe da União Social Cristã (CSU), Markus Söder, ao explicar o sucesso da AfD. As pessoas já não teriam mais certeza de que os conservadores vão cumprir suas promessas e, por isso, elas apelam à AfD. "Faremos de tudo para organizar uma mudança de rumo na Alemanha", assegurou. Saiba quem cresceu na eleição parlamentar da Alemanha Na lista de possíveis parceiros de coalizão estão o Partido Social Democrata (SPD), do chanceler derrotado Olaf Scholz, e os Verdes, que compuseram o governo anterior. SPD e Verdes estão digerindo os resultados – especialmente amargos para os social-democratas, que com cerca de 16% tiveram sua pior performance desde 1890. "É um resultado amargo", admitiu Scholz. "Devastador e catastrófico", definiu o ministro da Defesa dele, Boris Pistorius. Scholz, um chanceler sem sorte Olaf Scholz, chanceler alemão, vai perder cargo com a dissolução do governo Lisi Niesner/Reuters Scholz é o único chanceler federal dos últimos 50 anos a perder uma reeleição. Seu governo de coalizão com os Verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP) não durou três anos – colapsou em novembro de 2024, após uma briga sobre a administração do Orçamento. Até a formação de um novo governo, Scholz seguirá chanceler interino; depois disso, ele diz que só vai querer ser parlamentar. O SPD não foi o único punido nas urnas. O FDP também perdeu feio, não atingiu os 5% e não fará mais parte do próximo Bundestag (a câmara baixa do parlamento alemão); seu líder, Christian Lindner, anunciou depois da derrota que deixará a política. As perdas dos Verdes não foram tão dramáticas assim. Seu principal candidato, Robert Habeck, falou em "resultado eleitoral respeitável". "Não fomos tão duramente punidos, mas queríamos mais e não alcançamos isso", lamentou. Mas disse que o partido está aberto ao diálogo com os conservadores para a formação de uma coalizão. Triunfo do A Esquerda Boca de Urna indica que CDU foi partido mais votado na Alemanha O partido A Esquerda (Die Linke) protagonizou uma reviravolta surpreendente entre as siglas menores nas eleições e garantiu, com mais de 8% dos votos, seu lugar no Bundestag. Mas os conservadores já haviam descartado uma coalizão com eles antes mesmo da eleição, assim como com a sigla populista de direita Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), dissidência do A Esquerda. Independentemente de quão complicadas as negociações de coalizão possam se tornar, o próximo governo enfrentará enormes desafios. E, dada a quantidade de tarefas, ele tem que ser formado rapidamente, avisou Merz: "O mundo lá fora não espera por nós, nem espera por longas e detalhadas conversas e negociações de coalizão." Segundo o líder conservador, a Alemanha precisa recuperar rapidamente sua capacidade de ação, "para que possamos estar presentes novamente na Europa e que o mundo reconheça: a Alemanha é governada de forma confiável novamente". E para que isso dê certo, argumenta a CDU, o acordo de coalizão tem que ser elaborado como um "quadro geral", e não como uma proposta de governo detalhada. Rombo bilionário no Orçamento O maior desafio do novo governo deve ser o financiamento do Orçamento. A arrecadação tributária já não basta mais para cobrir todos os custos do Estado. Despesas militares crescentes, a reforma da infraestrutura, a transição energética – tudo isso consome bilhões. A isso soma-se a maior crise econômica da Alemanha desde a reunificação. A eleição foi a primeira desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Desde então, o governo federal apoiou Kiev com cerca de 28 bilhões de euros. Isso faz da Alemanha o segundo maior apoiador da Ucrânia, atrás somente dos Estados Unidos. As coisas mudaram desde que Donald Trump voltou à Casa Branca; o novo governo americano deu as costas para a Europa. De Washington chega o recado de que, daqui para a frente, cabe à Europa ajudar a Ucrânia e cuidar mais de sua própria Defesa. Expectativas internacionais Para o novo governo, isso significa que ele terá que definir prioridades – principalmente se a Alemanha quiser voltar a ter o peso político que a CDU invocou na campanha. "Precisamos assumir de novo um papel de liderança na Europa; não de cima para baixo, mas com a França, com a Polônia, com uma União Europeia forte", disse o secretário-geral da CDU, Carsten Linnemann, pouco antes da eleição à emissora ARD. Além das iniciativas diplomáticas, isso demandará grandes esforços financeiros. O maior ponto contencioso nas negociações para a formação de um governo de coalizão deve ser de onde tirar esse dinheiro: endividamento ou corte de gastos? Há diferenças principalmente entre os conservadores e os social-democratas. E o freio da dívida? A Constituição alemã determina que o governo não pode gastar mais do que arrecada. Há exceções em casos emergenciais, como catástrofes naturais e grave crise econômica. SPD e Verdes dizem que é impossível evitar novas dívidas. Merz, da CDU, discorda: ele aposta no crescimento da economia e quer cortar benefícios sociais – algo inaceitável para o SPD. Já os Verdes resistem a cortes na proteção climática. O novo Parlamento terá que assumir até 25 de março, no mais tardar. O mandato de Scholz – e portanto seu governo – termina oficialmente com a sessão inaugural do Bundestag, mas continua em caráter provisório caso não haja um novo governo até lá.
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Partido de esquerda alemão renasce nas urnas


Partido A Esquerda superou expectativas na reta final da campanha ao abordar temas que preocupam eleitorado jovem e apostar em vídeos virais. Frescor, carisma, otimismo: Heidi Reichinnek incorpora muito daquilo que faltou ao partido A Esquerda nos anos mais recentes Jens Krick/Flashpic/picture alliance Após anos de declínio e racha que dividiu legenda em 2024, o partido A Esquerda (Die Linke) superou expectativas na reta final da campanha ao abordar temas que preocupam eleitorado jovem e apostar em vídeos virais. A eleição antecipada na Alemanha neste domingo (23/02) foi palco de um renascimento que parecia improvável há poucos meses. Ao conquistar 8,5% dos votos, o partido A Esquerda se juntou ao diminuto clube de legendas que registrou crescimento entre o eleitorado em relação ao último pleito, em 2021. Segundo pesquisa boca de urna, o partido expandiu seu eleitorado em 3,6 pontos. Ainda que A Esquerda apareça em quinto lugar na disputa, bem atrás de concorrentes como a União Democrata-Cristã (CDU) – primeira colocada na eleição –, a votação foi encarada com alívio entre os esquerdistas. Com o resultado, o partido reverteu um declínio observado nos últimos anos e superou um temor inicial de que a sigla não se mostraria capaz de superar a cláusula de barreira para ter a prerrogativa de formar uma bancada no Parlamento alemão (Bundestag). LEIA MAIS: Conservadores vencem eleição na Alemanha, e extrema direita tem ascensão recorde Celulares do golpe: Fantástico mostra áudios inéditos de militares e civis que planejavam derrubar o governo City, trail ou crossover? VÍDEO mostra qual moto se encaixa melhor no seu dia a dia Crise existencial Formada em 2007 por remanescentes do antigo partido comunista da Alemanha Oriental e uma ala mais à esquerda que se separou do Partido Social-Democrata (SPD), A Esquerda por pouco não havia ficado de fora do Bundestag em 2021. À época, ao obter 4,9% dos votos, a legenda só não foi barrada pela cláusula de barreira de 5% porque conseguiu eleger três deputados por voto direto, o que compensou o resultado magro e permitiu que os esquerdistas formassem uma bancada no Bundestag. No entanto, em 2024, veio uma nova crise, quando um grupo de dez deputados de esquerda deixou a legenda para formar uma nova agremiação concorrente, a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW, na sigla em alemão), que foi batizada com o nome da sua fundadora. Antes de lançar a BSW, Wagenknecht era uma figura proeminente da legenda A Esquerda. No entanto, Wagenknecht vivia às turras com seus antigos correligionários por causa da sua oposição à imigração ilegal e ao "identitarismo". Wagenknecht deixou claro que pretendia usar a nova legenda para conquistar tanto eleitores da esquerda quanto pessoas que foram atraídas para a ultradireita nos últimos anos. Ainda em 2024, A Esquerda também encolheu significativamente em um trio de eleições estaduais no leste alemão, um de seus principais redutos eleitorais, perdendo espaço para a nova BSW. Por um momento, parecia que A Esquerda caminhava para a irrelevância. O quadro ainda pareceu mais sombrio quando pesquisas publicadas no final de 2024, após o anúncio das eleições federais antecipadas, apontaram que o partido mal alcançava 3% das intenções de voto no plano nacional, bem atrás dos seus novos concorrentes da BSW, que chegaram a pontuar 8%. Virada No final de janeiro de 2025, o quadro começou a mudar significativamente para A Esquerda. O anúncio das eleições antecipadas pelo chanceler federal Olaf Scholz no fim de 2024 e a saída de dissidentes em 2024 acabaram sendo uma benção disfarçada. Menos distraído por disputas internas, o partido passou a demonstrar mais unidade. Mas a ajuda decisiva parece ter vindo de políticos mais jovens da legenda. Uma das sensações da campanha da legenda foi a deputada federal Heidi Reichinnek, de 36 anos, que resolveu liderar uma nova ofensiva do partido num campo que até então não era tão explorado: as redes sociais. Fazendo discursos combativos e exibindo uma tatuagem da revolucionária Rosa Luxemburg em um dos seus braços, Reichinnek reuniu meio milhão de seguidores no TikTok. Em janeiro, um de seus vídeos, com pesadas críticas ao conservador Friedrich Merz se tornou viral na Alemanha. No mesmo mês, o partido ganhou 20 mil novos filiados, totalizando 81 mil membros. Os novos filiados têm em média 28 anos, reduzindo a idade média para 43. Na campanha eleitoral, o partido também optou por priorizar questões que preocupam muitos cidadãos, especialmente os jovens, e que, em meio ao debate sobre a imigração, foram deixadas de lado por outros concorrentes: moradia e custo de vida. Boca de Urna indica que CDU foi partido mais votado na Alemanha
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Social-democratas sofrem derrota histórica na Alemanha, conservadores vencem, e extrema direita tem ascensão recorde


Friedrich Merz, do CDU, precisará fazer alianças para formar governo, o que pode levar meses. AfD deu à extrema direita melhor desempenho desde a 2ª Guerra Mundial. Premiê Olaf Scholz reconheceu derrota. Eleições na Alemanha: coalizão conservadora deve voltar ao Poder com Friedrich Merz V Os conservadores do União Democrática Cristã (CDU) venceram no domingo (23) a eleição da Alemanha, que deu uma guinada à direita com uma derrota histórica do Partido Social-Democrata, do atual primeiro-ministro Olaf Scholz, e um crescimento recorde da extrema direita. Veja, abaixo, o resultado, e como era e como ficou o Parlamento: Gráfico mostra número de assentos conquistados pelos partidos mais votados na eleição da Alemanha em 23 de fevereiro de 2025. arte/ GloboNews SPD — 120 cadeiras; 86 a menos que em 2021 CDU — 208 cadeiras; 11 a mais que em 2021 AfD — 152 cadeiras; 69 a mais que em 2021 Partido Verde — 85 cadeiras; 33 a menos que em 2021 A Esquerda — 64 cadeiras; 25 a mais que em 2021 Composição do Parlamento alemão antes da eleição de 2025 e após o pleito. arte/ g1 O resultado oficial confirmou também o que indicavam as pesquisas de boca de urna e de intenção de voto. De acordo com a agência eleitoral do governo alemão, a porcentagem de votos foi a seguinte: Friedrich Merz, da UCD, de oposição ao atual governo, teve 28,5% dos votos. Em segundo lugar, o AfD levou cerca de 20,5% dos votos, percentual previsto anteriormente. O PSD, de Olaf Scholz, apareceu na terceira posição, com 16,5%. O Partido Verde teve 11,8% dos votos e ficou em quarto lugar, também conforme previsto. Em quinto lugar, o bloco A Esquerda obteve 8,7% dos votos. O resultado refletiu também o colapso do governo de Scholz, no fim do ano passado (leia mais abaixo), o que levou os alemães em peso às urnas: também segundo a agência eleitoral, o índice de participação foi de 83%, considerado alto para a média da Alemanha, onde voto não é obrigatório. Mas as urnas também consagraram o AfD, que, embora tenha ficado em segundo lugar, foi a sigla que mais expandiu dentro do Parlamento, onde inflou e levou 69 assentos a mais dos que tinha em 2025, tornando-se, pela primeira vez, uma força consolidada no Bundestag. Esta foi também uma ascensão recorde para um partido radical de direita desde a Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas liderados por Adolf Hitler governaram o país. Embora vencedor, o CDU não obteve a maioria necessária para governar, e caberá agora ao líder da sigla, Friedrich Merz, tentar alianças com outros partidos para conseguir formar governo. LEIA TAMBÉM: ENTENDA: A Alemanha escolheu um novo governo. E agora? SANDRA COHEN: Extrema direita finalmente se impõe como força opositora no Parlamento alemão MEDO E IMPOTÊNCIA: Imigrantes brasileiros na Alemanha lamentam ascensão da direita radical Formação de governo O líder da CDU, Friedrich Merz, fala a apoiadores após resultado de boca de urna das eleições na Alemanha indicarem vitória de seu partido, em 23 de fevereiro de 2025. Fabrizio Bensch/ Reuters O resultado não significa que Merz se torna automaticamente o próximo chefe do governo alemão. Como o país tem um modelo parlamentarista, o partido vencedor tem de obter o número de votos correspondente à quantidade mínima de assentos no Parlamento para formar governo. A porcentagem do CDU apontada na boca de urna não é suficiente para isso, e será necessário que o partido forme aliança com outras siglas para governar. A negociação entre o CDU e outras siglas por uma aliança que permite a formação de um novo governo pode levar meses e, caso não haja acordo, novas eleições são convocadas. Friedrich Merz já disse que não pactará com o AfD, mas falas suas durante a campanha, principalmente relativas à imigração, levantaram a suspeita de que ele poderia mudar de ideia. Em discurso após o resultado da boca de urna, Merz disse achar importante formar um governo "o quanto antes". O líder da CDU disse ainda que o resultado significa que "a Alemanha está presente na Europa novamente". "Estamos sob uma pressão tão grande de dois lados que minha prioridade absoluta agora é alcançar a unidade na Europa. É possível criar unidade na Europa," disse ele em uma mesa redonda com outros líderes. Já o atual premiê, Olaf Scholz, reconheceu derrota de seu partido, o PSD, no pleito, em discurso também após o fechamento das urnas. A contagem dos votos deve durar até o fim da noite do horário local (início da noite pelo horário de Brasília). Colapso do governo de Olaf Scholz As eleições realizadas neste domingo na Alemanha foram convocadas em dezembro do ano passado de forma antecipada por conta de uma crise que colapsou o governo anterior. O chanceler Olaf Scholz, está no poder desde 2021 e tinha um governo que unia três correntes distintas: social-democratas, ecologistas e liberais. Em novembro, ele demitiu seu ministro das Finanças, que é liberal, após discordâncias sobre a política econômica. Em protesto, os outros ministros liberais do governo anunciaram renúncia ao governo, deixando o gabinete de Scholz sem maioria no Parlamento Federal, o Bundestag, o que, na prática, tornou seu governo inviável. O chanceler — cargo que, na Alemanha, chefia o governo — foi submetido a uma moção de censura no Parlamento e reprovado, e o presidente do país — chefe de Estado — convocou novas eleições. O momento é extramamente incomum para a Alemanha: esta foi apenas a quarta eleição antecipada nos 75 anos desde a fundação do estado moderno alemão. A queda do governo na maior economia da União Europeia ocorre também em um momento de tensões elevadas com a Rússia por conta da guerra na Ucrânia e segue a tendência de outros países do bloco, como a França. Como funcionam as eleições na Alemanha Eleitor deposita vota na urna. Alemanha tem eleição parlamentares neste domingo (23) Nadja Wohlleben/Reuters Em linhas gerais, os eleitores escolhem um candidato, mas também votam em um partido. Quanto mais votos a legenda receber, mais cadeiras terá no Bundestag. Com o crescimento da extrema direita, representada pelo partido AfD, especialistas apontam que a formação de uma coalizão governamental será difícil, o que pode ameaçar a estabilidade política do país. Nos últimos anos, todos os partidos que compõem o Bundestag se recusaram a trabalhar ou formar alianças com a AfD, já que a legenda é investigada por extremismo e acusada de abrigar movimentos neonazistas. Além disso, a eleição na Alemanha, a maior economia da União Europeia, também pode definir os rumos do bloco e as respostas da Europa a provocações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump sobre a Ucrânia e as tarifas. Como é a eleição na Alemanha Nas eleições alemãs, o eleitor precisa preencher duas cédulas, conhecidas como Erststimme (primeiro voto) e Zweitstimme (segundo voto). No primeiro voto, o eleitor escolhe um candidato do distrito em que mora para ser eleito deputado. No segundo voto, o eleitor vota em um dos partidos que concorrem às eleições. Vale ressaltar que o eleitor não é obrigado a votar no mesmo partido nas duas cédulas. Ou seja, é possível escolher um candidato de um partido no primeiro voto e, no segundo, apoiar outra legenda. Das 630 cadeiras do Bundestag, 299 são ocupadas pelos deputados eleitos diretamente em seus respectivos distritos. As outras 331 são distribuídas proporcionalmente ao número de votos que cada partido recebeu. Ou seja, quanto mais votos um partido obtiver, mais assentos ele terá no Parlamento. Na distribuição proporcional, os partidos preenchem suas cadeiras com base em uma lista estaduais pré-definidas e registrada junto às autoridades eleitorais antes da votação. Geralmente, essa lista é liderada pelo principal nome do partido, que costuma ser o candidato a chanceler. Com o Parlamento formado, cada partido irá indicar um nome para a escolha do próximo chanceler e cabe ao presidente alemão escolher um dos candidatos. Após a escolha do presidente, os parlamentares realizam uma votação interna e secreta para decidir se o nome será aprovado ou não. Se eleito, o chanceler começa a formar o governo. A estabilidade política na Alemanha está ameaçada?
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Quem é Friedrich Merz, o líder conservador que caminha para ser novo chanceler da Alemanha


Líder da direita moderada quebrou um tabu ao aceitar apoio da AfD, partido anti-imigração de direita radical. Líder da direita moderada quebrou um tabu ao aceitar apoio da AfD, partido anti-imigração de direita radical. BBC Com o resultado das pesquisas de boca de urna, Friedrich Merz — líder da União Democrata Cristã (CDU) — está pronto para se tornar o próximo chanceler da Alemanha. A projeção é que seu partido ganhe cerca de 29% dos votos. A questão agora é com quem ele pode formar uma coalizão. Descrito por seus apoiadores como um antídoto para a crise de confiança na Europa, Merz, de 69 anos, é um rosto conhecido da velha guarda de seu partido. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Politicamente, ele nunca pareceu estimulante. Ainda assim, ele promete dar à Alemanha uma liderança mais forte e enfrentar muitos dos problemas de seu país em quatro anos.Sua tentativa explosiva no mês passado de endurecer as regras de migração com o apoio de votos da extrema direita no Parlamento revelou um homem disposto a arriscar ao quebrar um grande tabu. Também marcou mais uma clara ruptura com a postura mais centrista da CDU sob o comando de sua antiga rival Angela Merkel. Embora Merz não tenha conseguido mudar a lei, ele lançou uma bomba em uma campanha eleitoral desencadeada pelo colapso do governo do chanceler Olaf Scholz no final do ano passado. Notoriamente marginalizado por Merkel antes de ela se tornar chanceler, ele chegou a abandonar o Parlamento por uma série de empregos corporativos lucrativos e chegou a se considerado uma figura do passado. Mas agora ele parece pronto para conquistar o emprego que cobiçou por tanto tempo. Uma jornada tortuosa Merz é casado com Charlotte, uma juíza, há mais de 40 anos. AFP via BBC Em 23 de janeiro, um mês antes das eleições federais antecipadas na Alemanha, pessoas se reuniram em um dos hotéis cinco estrelas de Berlim para ouvir Merz fazer um discurso sobre política externa. O burburinho em torno do salão do Hotel de Rome não era exatamente eletrizante, mas estava muito diferente de 20 anos antes, quando sua carreira política parecia ter chegado ao fim. Merz também é um piloto licenciado, que foi criticado em 2022 por voar para a ilha de Sylt, no norte da Alemanha, em seu avião particular para o casamento do colega político Christian Lindner. Ao subir ao palco no Hotel de Rome, houve aplausos educados para o líder da oposição conservadora alemã, a CDU, consistentemente à frente nas pesquisas. Alto, magro, de terno e óculos, Merz transmite uma figura calma, convencional e profissional enquanto tenta projetar disposição para o poder. Mas foi uma jornada tortuosa chegar até aqui. Merz nasceu na cidade de Brilon, no oeste da Alemanha, em 1955, em uma importante família católica conservadora. Seu pai serviu como juiz local, assim como a esposa de Friedrich Merz, Charlotte, até hoje. O jovem Merz ingressou na CDU enquanto ainda estava na escola. Em uma entrevista há 25 anos ao jornal alemão Tagesspiegel, ele afirmou ter uma juventude mais selvagem do que seu currículo conservador poderia sugerir. Entre suas desventuras, ele descreveu corridas de moto pelas ruas, encontros com amigos em uma barraca de salgados e o jogo de cartas Doppelkopf no fundo da sala de aula. Uma festa de adolescentes à qual ele se referiu terminou com um grupo de estudantes urinando coletivamente no aquário da escola, de acordo com a revista "Der Spiegel". Há algum ceticismo de que o adolescente Merz era de fato um agitador. Um antigo colega de classe lembrou que o comportamento disruptivo do jovem Friedrich mais frequentemente era simplesmente querer "a última palavra". Seja oficialmente ou não, pessoas que o conheceram dizem que ele gosta de cerveja e pode ser realmente divertido, embora poucos consigam contar uma anedota para ilustrar isso. Ambição e conflito com Merkel Boca de Urna indica que CDU foi partido mais votado na Alemanha Depois da escola, ele prestou serviço militar antes de estudar direito e se casar com sua colega Charlotte Gass em 1981. O casal tem três filhos. Por alguns anos, Merz trabalhou como advogado, mas sempre teve interesse na política e foi eleito para o Parlamento Europeu em 1989, aos 33 anos. "Éramos ambos muito jovens e muito novatos e, digamos, não corrompidos", diz Dagmar Roth-Behrendt, que se tornou eurodeputada na mesma época pelo Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), de centro-esquerda. Ela achava o jovem Merz sério, confiável, honesto e educado. Até engraçado — uma qualidade que ela sente ser menos óbvia agora: "Imagino que a quantidade de cicatrizes ao longo do tempo pode tê-lo endurecido um pouco." Mas ele surgiu no início de sua carreira como um possível chanceler? "Eu provavelmente teria dito não, de jeito nenhum. Poxa, você deve estar brincando!" No entanto, todos sabiam que ele era profundamente ambicioso e Merz logo mudou da política da UE para o Parlamento nacional da Alemanha, o Bundestag, em 1994. Ele subiu na hierarquia, sendo apontado como um talento da ala mais direitista e tradicionalista do partido. "Ele é um orador esplêndido e um pensador profundo", diz Klaus-Peter Willsch, membro da CDU no Bundestag que o conhece há mais de 30 anos. "Um lutador", diz Willsch, evidenciado pelo fato de Merz ter feito três tentativas de liderar seu partido. Seus dois primeiros fracassos, em 2018 e janeiro de 2021, também podem ser lidos como um sinal de sua luta para cortejar as bases. Mas foi no início dos anos 2000, quando suas ambições foram inicialmente frustradas, que ele perdeu para Angela Merkel em uma disputa pelo poder no partido. Merkel, a discreta química quântica do antigo leste comunista, e Merz, o advogado abertamente seguro de si do oeste, nunca chegaram a um acordo. Merz ignora esse episódio amargo em uma breve publicação autobiográfica no site da CDU, dizendo que em 2009 ele decidiu deixar o Parlamento para "abrir espaço para reflexão". Seus anos de reflexão envolveram a construção de uma carreira em finanças e direito corporativo, tornando-se executivo de diretoria em várias empresas internacionais e, supostamente, milionário. Demorou mais de uma década até que ele retornasse ao Parlamento, onde desde então tenta destruir a doutrina mais centrista de Merkel sobre o conservadorismo da CDU. Ruptura e aliança com direita radical Friedrich Merz abandonou a política em 2009, anos depois da sua rival Angela Merkel ter conquistado a liderança do partido CDU. Getty Images via BBC Um momento marcante de ruptura política ocorreu no final de janeiro, quando Friedrich Merz aprovou uma moção não vinculativa sobre regras de imigração mais rígidas, contando com os votos do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Ele insistiu que não houve colaboração direta com a AfD, mas sua atitude levou a protestos em massa e foi condenada duas vezes por ninguém menos que a própria Merkel. Essas foram raras intervenções públicas da mulher que governou a Alemanha por 16 anos. Os detratores disseram que foi uma jogada eleitoral imperdoável, mas os apoiadores insistiram que Merz estava, na verdade, tentando habilmente atrair pessoas da extrema direita. Ele já arriscou alienar setores mais moderados do eleitorado antes, ao votar na década de 1990 contra um projeto de lei que incluía a criminalização do estupro conjugal. Mais tarde, ele explicou que considerava o estupro conjugal um crime e que havia outras questões no projeto de lei às quais ele se opunha. Pesquisas sugerem que ele não é especialmente popular entre os jovens e as mulheres, mas Klaus-Peter Willsch acredita que a imagem que a imprensa alemã faz dele é injusta. "Eu o tive várias vezes no meu distrito eleitoral", ele conta. "Depois, as mulheres vêm e dizem que ele é um cara legal." Charlotte Merz também o defendeu, dizendo ao jornal alemão Westfalenpost: "O que algumas pessoas escrevem sobre a imagem que meu marido tem das mulheres simplesmente não é verdade". Ela diz que o casamento deles tem sido de apoio mútuo: "Nós dois cuidávamos dos trabalhos um do outro e dividíamos os cuidados com os filhos de uma forma que fosse compatível com nossas obrigações profissionais." Quaisquer que sejam as críticas, um diplomata da União Europeia diz que Bruxelas está "aguardando ansiosamente sua chegada". "É hora de sair desse impasse alemão e fazer esse motor funcionar." Esta reportagem foi escrita e revisada por nossos jornalistas utilizando o auxílio de IA na tradução, como parte de um projeto piloto.
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Pentágono, FBI e outras agências dos EUA pedem que seus funcionários não respondam a pedido de Musk


Funcionários federais receberam um e-mail solicitando que prestassem contas sobre o que fizeram na última semana. Neste domingo, o Departamento de Defesa publicou uma nota pedindo ao seu pessoal para 'pausar qualquer resposta'. 'O povo votou por uma grande reforma governamental, e é isso que o povo vai receber', declarou Musk REUTERS O Pentágono e outras agências federais americanas, incluindo aquelas agora dirigidas por leais colaboradores do presidente Donald Trump, rejeitaram o pedido de Elon Musk para que seus funcionários expliquem as tarefas realizadas em seu trabalho sob pena de perderem o emprego. Essa resistência indica um possível atrito entre figuras-chave da administração Trump e o bilionário e assessor externo, que lidera uma campanha para reduzir a força de trabalho de milhões de pessoas no governo, o que causou confusão em diversas agências. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp No sábado (22), funcionários federais receberam um e-mail do Escritório de Gestão de Pessoal dos Estados Unidos (OPM), ao qual a Agência AFP teve acesso, dando como prazo até as 23h59 de segunda-feira para responder com as tarefas de seu trabalho realizadas na semana anterior. Funcionários públicos federais disseram à agência que foram aconselhados a não responder imediatamente. Neste domingo, o Departamento de Defesa publicou uma nota pedindo ao seu pessoal para "pausar qualquer resposta" ao e-mail do OPM com o assunto "O que você fez na semana passada?". "O Departamento de Defesa é responsável por revisar o desempenho de seu pessoal e realizará qualquer revisão de acordo com seus próprios procedimentos", afirmou essa entidade em uma publicação no X. Segundo a imprensa local, funcionários designados pelo governo Trump no FBI (polícia federal), no Departamento de Estado e no escritório nacional de inteligência também instruíram seus integrantes a não responder por enquanto LEIA TAMBÉM: Elon Musk nega que vá cortar sinal da Starlink na Ucrânia se país não aceitar acordo sobre minérios Elon Musk não dirige oficialmente o DOGE e trabalha como conselheiro de Trump, diz Casa Branca Kash Patel, novo diretor do FBI, enviou uma mensagem a seus funcionários no sábado dizendo: "o FBI, por meio do escritório do diretor, está encarregado de todos os processos de revisão", escreveu o The New York Times. Os sindicatos também responderam rapidamente. A Federação Americana de Funcionários Governamentais (AFGE), o maior sindicato do serviço público americano, prometeu contestar qualquer demissão ilegal. Musk, o homem mais rico do mundo e o maior doador de Trump, foi incumbido de cortes de gastos e de combater desperdícios no governo federal à frente do chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Doge é uma entidade independente dirigida por Musk que foi rejeitada em várias frentes e recebeu sentenças judiciais divergentes. VEJA TAMBÉM Zelensky diz estar disposto a deixar cargo por fim da guerra e entrada da Ucrânia na Otan
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Ainda em estado crítico, papa tem leve insuficiência renal, mas não sofre mais de crise respiratória, diz Vaticano


Mais cedo, o pontífice agradeceu as orações pela saúde e afirmou que segue em tratamento, enquanto o Vaticano monitora seu estado clínico. Papa Francisco Filippo MONTEFORTE / AFP Ainda em estado crítico, o papa Francisco sofre de insuficiência renal leve, disse o Vaticano neste domingo (23). Em boletim divulgado nesta tarde, médicos afirmaram que um novo exame apontou a insuficiência renal, que é inicial e está atualmente controlada. O boletim afirma ainda que o pontífice não sofre mais de crise respiratória. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp O prognóstico completo de Francisco segue em sigilo por conta da complexidade do quadro, disse ainda o Vaticano, que afirma também que ele está "vigilante e bem orientado". "O estado de saúde do Santo Padre continua crítico. No entanto, desde ontem à noite ele não apresentou mais crises respiratórias", disse o boletim. "No entanto, alguns exames de sangue mostram uma insuficiência renal inicial, leve, atualmente controlada. A complexidade do quadro clínico e a espera necessária para que as terapias farmacológicas deem algum resultado exigem que o prognóstico permaneça reservado". O boletim afirmou também que o pontífice segue fazendo uso de almofadas nasais para a aplicação de oxigênio em altos fluxos (oxigenoterapia). Mais cedo, o Vaticano já havia informado sobre esse procedimento. "O papa Francisco usou almofadas nasais esta manhã para a aplicação de oxigênio em altos fluxos. Outros exames clínicos estão em andamento. Para saber os resultados, aguardamos o boletim desta noite", disse o Vatican News. Também neste domingo, em oração escrita pelo papa Francisco, o pontífice agradeceu às orações pela sua saúde e disse que continua 'realizando os tratamentos necessários'. "De minha parte, continuo confiante a internação na Policlínica Gemelli, realizando os tratamentos necessários; e também o repouso faz parte da terapia! Agradeço de coração aos médicos e ao profissionais de saúde deste Hospital pela atenção que me dispensam e pela dedicação com que prestam seu serviço aos doentes". O pontífice também convidou os fiéis a rezarem pelos países onde há conflitos, da "Palestina ao Sudão", com um pensamento particular para a Ucrânia. O texto foi divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. É o segundo domingo que Francisco não participa da tradicional oração de Angelus. Neste domingo, a missa foi conduzida pelo Arcebispo Rino Fisichella. Francisco ainda dedicou agradecimento especial às demonstrações de carinho feitas pelas crianças. "Nestes dias recebi muitas mensagens de afeto e fiquei particularmente tocado pelas cartas e pelos desenhos das crianças. Obrigada por essa proximidade e pelas orações de conforto que recebi do mundo inteiro! Confio todos à intercessão de Maria e peço que rezem por mim." Noite tranquila Para Francisco teve noite tranquila, diz Vaticano O papa Francisco teve uma noite tranquila, informou o Vaticano no início da manhã de domingo (23). O comunicado vem um dia após o pontífice sofrer uma crise de asma prolongada e o seu estado de saúde ser descrito como crítico pela primeira vez. O Papa Francisco, internado desde 14 de fevereiro após sentir dificuldade para respirar por vários dias. O pontífice, de 88 anos, foi internado no hospital Gemelli, em Roma, devido a uma bronquite. No hospital, foi diagnosticado como pneumonia bilateral e infecção polimicrobiana. Na sexta-feira (21), Francisco completou uma semana de internação e os médicos do papa fizeram uma entrevista coletiva para atualizar o quadro clínico do pontífice. Segundo a equipe médica, o papa não corre risco de morte, mas também não está fora de perigo por ser um "paciente frágil". Por conta disso, Francisco permanecerá internado por pelo menos mais uma semana. Eles também disseram que o pontífice: Não está conectado a nenhum aparelho de respiração; Consegue caminhar, mas só distâncias curtas por conta da dificuldade respiratória e do problema prévio em seu joelho; Ainda assim, se levanta com frequência e trabalha de uma poltrona; Não tem quadro de sepse (infecção generalizada); Sabe que está em perigo e pediu que os médicos não escondessem nenhuma informação do público; Está comendo de forma regular e "apresenta bom apetite"; É considerado "um paciente frágil", principalmente por conta da idade; Está respondendo aos tratamentos, mas o quadro pode ir mudando a cada dia; Não está divulgando fotos porque "não queremos uma foto do papa em pijama". Durante todo esse período, diz o Vaticano, Francisco tem trabalhado e se mantido informado através da leitura de jornais. O papa também consegue se movimentar dentro de seu quarto no hospital, atende algumas ligações telefônicas e continua com alguns afazeres administrativos. Ainda segundo o Vaticano, todos os compromissos públicos do papa foram cancelados. Pneumologista fala sobre boletim médico do Papa Francisco; quadro é considerado crítico
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Voo que saiu de NY faz pouso não programado em Roma após ameaça de segurança


Aeronave pousou escoltada por caças militares. Reuters diz que voo foi desviado após ameaça de bomba. Um voo da American Airlines que ia de Nova York, nos Estados Unidos, para Nova Déli, na Índia, foi desviado para Roma, na Itália, neste domingo (23), devido a um "possível problema de segurança", informou a companhia aérea. O voo 292 da American Airlines, que partiu do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, estava indo para o Aeroporto Internacional Indira Gandhi em Nova Déli. ➡️De acordo com a agência Reuters, o voo foi forçado a aterrissar na Itália devido a uma ameaça de bomba, disseram o site Flight Emergency e fontes do aeroporto neste domingo. 🛩️ A aeronave pousou escoltada por caças militares, informou a Reuters. O avião pousou com segurança no Aeroporto Leonardo da Vinci de Roma Fiumicino, informou o aeroporto à ABC News. Aviões da companhia aérea American Airlines no aeroporto internacional de Phoenix, no Arizona, nos EUA, em 24 de dezembro de 2024. Ross D. Franklin/ AP
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Boca de urna na Alemanha aponta vitória do conservador CDU e crescimento recorde da extrema direita


Friedrich Merz, do CDU, precisará fazer alianças para formar governo, o que pode levar meses. AfD deu à extrema direita melhor desempenho desde a 2ª Guerra Mundial. Premiê Olaf Scholz reconheceu derrota. Boca de Urna indica que CDU foi partido mais votado na Alemanha A Alemanha encerrou na tarde deste domingo (23) a votação para a escolha de um novo governo. Pesquisas de bocas de urna indicam uma vitória do CDU, partido conservador, e o segundo lugar para o AfD, sigla da extrema direita que foi a mais cresceu no pleito. Caso confirmado, o número de votos para a extrema direita também será recorde na história da Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial. A boca de urna do pleito, convocado antecipadamente após o governo de coalisão colapsar (leia mais abaixo), reflete os resultados previstos pelas pesquisas de intenção de voto: Friedrich Merz, do partido conservador União Democrática Cristã, de oposição ao atual governo, teve 28,5% dos votos. Em segundo lugar, o AfD levou cerca de 20,7% dos votos, percentual previsto anteriormente. Já o Partido Social-Democrata, do atual governo de Olaf Scholz, apareceu na terceira posição, com 16,5%. O Partido Verde teve 11,7% dos votos e ficou em quarto lugar, também conforme previsto. Em quinto lugar, o bloco de siglas da esquerda obteve 8,7% dos votos. O índice de participação foi de 83%, índice considerado alto para a média da Alemanha, ainda de acordo com a projeção. Um total de 61 milhões de pessoas estavam aptas a ir às urnas no país, onde voto não é obrigatório. Formação de governo O líder da CDU, Friedrich Merz, fala a apoiadores após resultado de boca de urna das eleições na Alemanha indicarem vitória de seu partido, em 23 de fevereiro de 2025. Fabrizio Bensch/ Reuters O resultado, se confirmado na apuração dos votos, não significa que Merz se torna automaticamente o próximo chefe do governo alemão. Como o país tem um modelo parlamentarista, o partido vencedor tem de obter o número de votos correspondente à quantidade mínima de assentos no Parlamento para formar governo. A porcentagem do CDU apontada na boca de urna não é suficiente para isso, e será necessário que o partido forme aliança com outras siglas para governar. A negociação entre o CDU e outras siglas por uma aliança que permite a formação de um novo governo pode levar meses e, caso não haja acordo, novas eleições são convocadas. Friedrich Merz já disse que não pactará com o AfD, mas falas suas durante a campanha, principalmente relativas à imigração, levantaram a suspeita de que ele poderia mudar de ideia. Em discurso após o resultado da boca de urna, Merz disse achar importante formar um governo "o quanto antes". O líder da CDU disse ainda que o resultado significa que "a Alemanha está presente na Europa novamente". Já o atual premiê, Olaf Scholz, reconheceu derrota de seu partido, o PSD, no pleito, em discurso também após o fechamento das urnas. A contagem dos votos deve durar até o fim da noite do horário local (início da noite pelo horário de Brasília). Colapso do governo As eleições realizadas neste domingo na Alemanha foram convocadas em dezembro do ano passado de forma antecipada por conta de uma crise que colapsou o governo anterior. O chanceler Olaf Scholz, está no poder desde 2021 e tinha um governo que unia três correntes distintas: social-democratas, ecologistas e liberais. Em novembro, ele demitiu seu ministro das Finanças, que é liberal, após discordâncias sobre a política econômica. Em protesto, os outros ministros liberais do governo anunciaram renúncia ao governo, deixando o gabinete de Scholz sem maioria no Parlamento Federal, o Bundestag, o que, na prática, tornou seu governo inviável. O chanceler — cargo que, na Alemanha, chefia o governo — foi submetido a uma moção de censura no Parlamento e reprovado, e o presidente do país — chefe de Estado — convocou novas eleições. O momento é extramamente incomum para a Alemanha: esta foi apenas a quarta eleição antecipada nos 75 anos desde a fundação do estado moderno alemão. A queda governo na maior economia da União Europeia ocorre também em um momento de tensões elevadas com a Rússia por conta da guerra na Ucrânia e segue a tendência de outros países do bloco, como a França. Como funcionam as eleições na Alemanha Eleitor deposita vota na urna. Alemanha tem eleição parlamentares neste domingo (23) Nadja Wohlleben/Reuters Em linhas gerais, os eleitores escolhem um candidato, mas também votam em um partido. Quanto mais votos a legenda receber, mais cadeiras terá no Bundestag Com o crescimento da extrema direita, representada pelo partido AfD, especialistas apontam que a formação de uma coalizão governamental será difícil, o que pode ameaçar a estabilidade política do país. Nos últimos anos, todos os partidos que compõem o Bundestag se recusaram a trabalhar ou formar alianças com a AfD, já que a legenda é investigada por extremismo e acusada de abrigar movimentos neonazistas. Além disso, a eleição na Alemanha, a maior economia da União Europeia, também pode definir os rumos do bloco e as respostas da Europa a provocações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump sobre a Ucrânia e as tarifas. O que você precisa saber sobre as eleições na Alemanha Protestos, avanço da extrema direita e influência dos EUA geram clima de tensão no último dia de campanha na Alemanha Por que cada vez mais jovens alemães estão aderindo à direita radical Como é a eleição na Alemanha Alemanha vai às urnas para eleger o próximo Parlamento Kayan Albertin/g1 Nas eleições alemãs, o eleitor precisa preencher duas cédulas, conhecidas como Erststimme (primeiro voto) e Zweitstimme (segundo voto). No primeiro voto, o eleitor escolhe um candidato do distrito em que mora para ser eleito deputado. No segundo voto, o eleitor vota em um dos partidos que concorrem às eleições. Vale ressaltar que o eleitor não é obrigado a votar no mesmo partido nas duas cédulas. Ou seja, é possível escolher um candidato de um partido no primeiro voto e, no segundo, apoiar outra legenda. Das 630 cadeiras do Bundestag, 299 são ocupadas pelos deputados eleitos diretamente em seus respectivos distritos. As outras 331 são distribuídas proporcionalmente ao número de votos que cada partido recebeu. Ou seja, quanto mais votos um partido obtiver, mais assentos ele terá no Parlamento. Na distribuição proporcional, os partidos preenchem suas cadeiras com base em uma lista estaduais pré-definidas e registrada junto às autoridades eleitorais antes da votação. Geralmente, essa lista é liderada pelo principal nome do partido, que costuma ser o candidato a chanceler. Com o Parlamento formado, cada partido irá indicar um nome para a escolha do próximo chanceler e cabe ao presidente alemão escolher um dos candidatos. Após a escolha do presidente, os parlamentares realizam uma votação interna e secreta para decidir se o nome será aprovado ou não. Se eleito, o chanceler começa a formar o governo. Veja mais: Turbinado pelo governo Trump e rejeitado por forças políticas tradicionais, partido de extrema direita ganha impulso na Alemanha Com avanço da extrema direita, brasileiros são alvo de xenofobia na Alemanha A estabilidade política na Alemanha está ameaçada?
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Em funeral de Nasrallah, novo líder do Hezbollah promete continuar a lutar contra Israel


Naim Qasem fez discurso para multidão, que lotou estádio de Beirute para participar de funeral de Hassan Nasrallah, morto em um bombardeio de Israel. Cerimônia havia sido adiada por conta de ataques israelenses ao Líbano. Multidão lota estádio em Beirute, no Líbano, para acompanhar funeral de Hassan Nasrallah, em 23 de fevereiro de 2025. Thaier Al-Sudani/ Reuters O líder do grupo extremista Hezbollah prometeu neste domingo (23), continuar a luta contra Israel. Naim Qasem falou a uma multidão durante o funeral, em Beirute, de seu antecessor Hassan Nasrallah, morto em um bombardeio israelense no ano passado. O funeral ocorreu só agora por conta dos bombardeios israelenses ao país. Milhares de participantes vestidos de preto se reuniram no grande estádio da Cidade Esportiva, na periferia sul da capital libanesa, e renovaram sua lealdade ao movimento pró-iraniano, enfraquecido pela recente guerra com o Exército israelense. Um caminhão que transportava os caixões de Nasrallah e de seu sucessor, Hashem Safieddine, mortos sucessivamente em ataques israelenses, deu a volta ao estádio. "Nasrallah, permanecemos fiéis à promessa", repetiam os participantes, com o punho erguido, lançando flores aos caixões e agitando as bandeiras amarelas do Hezbollah. Nasrallah "segue vivo em nós", declarou Naim Qasem em um discurso transmitido ao vivo pela televisão e por telões gigantes. "Seguiremos neste caminho", acrescentou, enquanto aviões israelenses sobrevoavam Beirute a uma baixa altitude e realizavam ataques no sul e no leste do país. O ministro israelense da Defesa, Israel Katz, declarou que tais sobrevoos constituíam uma "mensagem clara" para "qualquer um que ameace destruir Israel". "A resistência" contra Israel "não terminou", insistiu Qasem, que advertiu que seu partido não aceitará que os Estados Unidos "controlem o Líbano", onde um novo presidente e governo contam com o apoio de Washington. As arquibancadas e o gramado da Cidade Esportiva, que tem capacidade para 78.000 pessoas, estavam lotados, segundo jornalistas da AFP no local. Nas ruas adjacentes, onde havia 35.000 assentos reservados para homens e 25.000 para mulheres, os apoiadores do Hezbollah também se aglomeravam em frente aos telões gigantes. Nasrallah, que comandou o Hezbollah por 32 anos, morreu no dia 27 de setembro em um bombardeio israelense na periferia sul da capital libanesa, região que é um reduto do grup oxiita. Seu primo Hashem Safieddine teve o mesmo fim em outubro, após ter sido designado para sucedê-lo. O Hezbollah aguardou a retirada quase completa do Exército israelense do sul do Líbano, no dia 18 de fevereiro, para organizar sua primeira mobilização popular desde o fim da guerra. A força aérea israelense realizou neste domingo vários bombardeios no sul e leste do Líbano, apesar do cessar-fogo em vigor desde o dia 27 de novembro. Israel afirmou que havia atacado lançadores de foguetes que representavam uma "ameaça iminente". Durante o funeral, mulheres seguravam retratos de combatentes mortos na guerra que dizimou a cúpula do Hezbollah. Um Mahdi, de 55 anos, afirmou que se deslocou desde o vale de Bekaa, no leste, "para vê-lo [Nasrallah] uma última vez e ver seu mausoléu". Entre as delegações estrangeiras, o Irã estava representado pelo presidente do Parlamento, Mohamed-Bagher Ghalibaf, e pelo ministro de Relações Exteriores, Abbas Araqchi. Representantes de facções iraquianas pró-iranianas e outros aliados do Hezbollah e do Irã contra Israel também estavam presentes. O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, publicou uma mensagem prometendo continuar "a resistência" a Israel. O presidente do Parlamento do Líbano, Nabih Berri, aliado do Hezbollah, representou o chefe de Estado libanês, Joseph Aoun. 'Uma força maior' Após a cerimônia, os participantes se dirigiram ao mausoléu dedicado a Nasrallah, perto do aeroporto, ao sul de Beirute. O corpo do líder histórico do Hezbollah havia sido enterrado em um local secreto, enquanto se aguardava o fim da guerra. "Acho que é importante para o grupo demonstrar que ainda é uma força sólida e política importante, apesar dos reveses sofridos nos últimos meses", explicou à AFP o analista Sam Heller, da Century Foundation. As autoridades libanesas mobilizaram 4.000 soldados e membros das forças de segurança, segundo uma fonte dos serviços de segurança, enquanto o Hezbollah mobilizou 25.000 de seus homens no estádio, segundo a emissora vinculada ao movimento islamista, Al Manar. O tráfego aéreo foi suspenso no aeroporto durante quatro horas. Hassan Nasrallah, que tinha 64 anos quando morreu, ganhou notoriedade regional após a retirada israelense do Líbano em 2000 e durante a guerra contra Israel em 2006. Sua popularidade, no entanto, diminuiu quando o grupo entrou na guerra na Síria ao lado do ex-presidente Bashar al Assad.
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Zelensky diz estar disposto a deixar o cargo em troca de fim da guerra e de entrada da Ucrânia na Otan


Presidente ucraniano falou pela 1ª vez na possibilidade de deixar o cargo, após Trump pedir novas eleições na Ucrânia. Zelensky também sugeriu deixar que EUA explorem recursos minerais em troca do envio tropas norte-americanas. Zelensky diz estar disposto a deixar cargo por fim da guerra e entrada da Ucrânia na Otan O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse neste domingo (23) estar disposto deixar o governo de seu país em troca de um fim da guerra na Ucrânia. Zelensky também condicionou uma eventual saída do cargo à entrada da Ucrânia na Otan, a aliança militar ocidental rival da Rússia. Disse ainda que está disposto a uma saída imediata do cargo e que "não planejo estar no poder por décadas". "Se for pela paz na Ucrânia e se realmente quiserem, que eu deixe meu cargo, estou pronto para isso. Em segundo lugar, posso trocar isso (a presidência) pela (entrada da Ucrânia na) Otan se houver essa oportunidade", disse Zelensky em entrevista coletiva à imprensa em Kiev. "Farei isso imediatamente. Não planejo estar no poder por décadas". ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Esta foi a primeira vez que o presidente ucraniano, eleito em 2019, falou em deixar o cargo desde o início da guerra, que completará três anos na segunda-feira (leia mais abaixo). O presidente ucraniano, Volodymyr Zelesnky, durante entrevista coletiva à imprensa em Kiev, em 23 de fevereiro de 2025. Evgeniy Maloletka/ AP A fala também acontece dias depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu novas eleições na Ucrânia e afirmou, sem apresentar números, que Zelensky enfrente crise de popularidade. Zelensky não disse, na entrevista, se já comunicou essa possibilidade com Trump ou o governo russo, e também não explicou como funcionaria a troca — Moscou exige, para colocar fim à guerra, que Kiev abra mão dos territórios ocupados por tropas russas, o que o presidente ucraniano nega. Na entrevista deste domingo, líder ucraniano disse ainda considerar a proposta de Trump por um acordo que permita os EUA explorarem mineirais em regiões ucranianas, mas sugeriu querer em troca tropas norte-americanas para lutar na guerra ao lado dos soldados ucranianos. Apesar de enviar verba, aeronaves militares e equipamentos de guerra constantemente à Ucrânia, EUA e países europeus têm evitado o debate sobre o envio de tropas ao país de Zelensky. O presidente russo, Vladimir Putin, já disse que consideraria a presença de soldados dos EUA e da Europa na Ucrânia como uma declaração direta de guerra. Após trocar farpas com Trump através das redes sociais, Zelensky também disse neste domingo que queria ver Trump como um parceiro da Ucrânia e mais do que um simples mediador entre Kiev e Moscou. "Eu realmente quero que seja mais do que apenas mediação... isso não é o suficiente", disse ele em coletiva de imprensa em Kiev. O governo de Trump iniciou na semana passada conversas com membros do governo russo para o fim da guerra. A aproximação entre Washington e Moscou surpreendeu e irritou a Ucrânia e a Europa, que prostetaram por terem sido deixados de fora das negociações. Por conta disso, líderes europeus se reuniram para estudar uma resposta. Três anos de guerra Zelensky admite ceder cargo se Ucrânia entrar na Otan A guerra da Ucrânia, que começou quando tropas russas invadiram a parte leste do país, completará três anos na segunda-feira (24) ainda sem perspectiva de um fim. O conflito, que começou em reação da Rússia à intenção de Zelensky de ingressar na Otan, já atravessou diversas fases, desde ameaça de tomada de Kiev, passando por um período de paralisia e o contra-ataque da Ucrânia com a invasão de regiões da Rússia perto da fronteira. Nenhuma delas, no entanto, teve efeitos práticos significativos. Atualmente, as tropas russas ocupam cerca de 20% do território ucraniano. Não conseguem avançar, mas também não são expulsas por contra-ofensivas das tropas ucranianas. No fim do ano passado, a chegada à Ucrânia de caças europeus e norte-americanos deu um impulso em ações de Kiev, e Zelesnky chegou a apresentar a seu Parlamento um projeto que chamou de "plano da vitória", em que detalhava de que forma seu país conseguiria vencer a guerra e expulsar as tropas russas. Ataque recorde com drones Ataque atingiu a região de Dnipropetrovsk Ministério da Defesa da Ucrânia Também neste fim de semana, a Rússia lançou o seu maior ataque único com drones contra a Ucrânia desde o início da guerra. O ataque ocorreu na noite de sábado (22) e, nele, forças russas lançaram mais de 260 drones de guerra contra todo o território ucraniano. Sem Ucrânia, autoridades dos EUA e Rússia se reúnem para discutir guerra
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Ministro da Defesa de Israel ordena que militares se preparem para permanência 'prolongada' na Cisjordânia


Ordem ocorre em meio à escalada de operações contra grupos terroristas e extremistas, com envio de tanques à Cisjordânia pela primeira vez em mais de 20 anos. Veículos militares israelenses cruzam avenida em Ramallah, capital da Cisjordânia Zain Jaafar/AFP Israel ordenou que seus militares se preparem para uma "estadia prolongada" em partes da Cisjordânia, enquanto intensifica operações contra grupos terroristas e extremistas, disse o ministro da Defesa, Israel Katz, neste domingo (23). Em um comunicado, Katz afirmou ter ordenado a ampliação das operações nos campos de refugiados palestinos de Jenin, Tulkarem e Nur al-Shams, no norte da Cisjordânia, com o objetivo de desmantelar a infraestrutura desses grupos. Ele disse que 40 mil palestinos deixaram esses campos. O Exército israelense anunciou que enviará tanques para Jenin como parte da ofensiva, no primeiro deslocamento desse tipo para a região norte da Cisjordânia em mais de 20 anos. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu instruiu os militares a conduzirem uma operação "intensiva" na Cisjordânia após explosões em ônibus perto de Tel Aviv na quinta-feira, em um episódio que seu gabinete descreveu como uma tentativa de ataque em massa. Não houve vítimas. Nenhum grupo reivindicou a autoria das explosões em Tel Aviv, que ocorreram em meio a um frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, após quase 16 meses de guerra. Centenas de palestinos abandonam a Cisjordânia As forças israelenses vêm conduzindo uma grande operação na Cisjordânia no último mês, alegando ter como alvo grupos terroristas e extremistas. Dezenas de milhares de palestinos foram forçados a deixar suas casas em campos de refugiados, enquanto residências e infraestrutura foram destruídas. Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente palestino, Mahmoud Abbas, condenou a decisão de Israel de enviar tanques para a área. "Esta é uma perigosa escalada israelense que não levará à estabilidade ou à calma. Alertamos sobre os riscos dessa escalada", declarou ele. Katz também afirmou que a agência da ONU para refugiados palestinos, UNRWA, foi instruída a suspender suas atividades nos campos. A organização não pôde ser contatada imediatamente para comentar o caso. O cessar-fogo em Gaza, implementado em 19 de janeiro, segue em vigor, apesar de acusações mútuas de violações por parte de Israel e do Hamas. Exército de Israel faz incursão em Jenin, na Cisjordânia Imagem do papa é projetada no obelisco de Buenos Aires Reféns israelenses libertados se reúnem com familiares em Israel
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Rússia lança maior ofensiva de drones contra Ucrânia em quase três anos de guerra


267 drones russos foram lançados em um único ataque coordenado, informou Yuriy Ignat, porta-voz do Comando da Força Aérea da Ucrânia. Ataque atingiu a região de Dnipropetrovsk Ministério da Defesa da Ucrânia A Rússia lançou o seu maior ataque único com drones contra a Ucrânia na noite deste sábado (22), segundo informações das autoridades ucranianas. Yuriy Ignat, porta-voz do Comando da Força Aérea da Ucrânia, afirmou neste domingo (23) que um "recorde" de 267 drones russos foram lançados em um único ataque coordenado. Desses, 138 foram interceptados pela defesa aérea, enquanto 119 desapareceram dos radares após serem bloqueados e não causaram danos. Não está claro quantas pessoas morreram, mas números iniciais dos serviços de emergência sugerem que há pelo menos três mortos - duas delas na cidade de Kherson e outra em Kryvyi Rih. Os drones causaram danos em cinco regiões: Dnipro, Odessa, Poltava, Kiev e Zaporizhzhia. Sem Ucrânia, autoridades dos EUA e Rússia se reúnem para discutir guerra O ataque ocorre na véspera do terceiro aniversário da guerra, na segunda-feira (24). O ministério da Defesa da Rússia também afirmou neste domingo que destruiu 20 drones ucranianos lançados em direção ao país no sábado. Na sexta-feira (21), 12 civis ucranianos foram mortos em dia de ataques russos, nos quais residências e instalações de infraestrutura foram atingidas Após o ataque deste sábado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu ajuda aos países estrangeiros. "Precisamos da força de toda a Europa, dos EUA e de todos que buscam uma paz duradoura", disse Zelensky neste domingo. "Todos os dias, nosso povo enfrenta o terror aéreo. Na véspera do terceiro aniversário da guerra em grande escala, a Rússia lançou 267 drones de ataque contra a Ucrânia - o maior ataque desde que os drones iranianos começaram a atacar cidades e vilarejos ucranianos", escreveu o presidente. Segundo Zelensky, apenas na última semana, 1.150 drones, 1,4 mil bombas aéreas guiadas e 35 mísseis foram lançados. Em Kryvyi Rih, uma pessoa morreu Serviço de Emergência da Ucrânia/Via Reuters Os recentes ataques aconteceram após dias de forte turbulência política, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidir iniciar negociações de paz com a Rússia sem a participação da Europa, nem sequer da própria Ucrânia. A abordagem gerou mal-estar com líderes europeus e desavenças com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que chegou a ser chamado de "ditador" por Trump no início da semana.
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A incrível história do primeiro africano a chegar à Groenlândia após uma jornada de 8 anos


Aos 16 anos, Tété-Michel Kpomassi embarcou em uma longa jornada para escapar das cobras. Essa é a incrível história dele. Aos 16 anos, Tété-Michel Kpomassi embarcou em uma longa jornada para escapar das cobras Tété-Michel Kpomassie O dia em que Tété-Michel Kpomassie soube que não havia cobras ou lagartos na Groenlândia foi o dia em que ele decidiu deixar seu Togo natal para morar no Ártico. Em 1958, com apenas 16 anos, Tété-Michel aprendeu em primeira mão que, mesmo que não fosse picado, qualquer encontro com uma serpente poderia ser fatal: certa tarde, enquanto comia um coco no topo de uma palmeira, ele ficou cara a cara com uma cobra e, ao tentar evitá-la, sofreu uma queda impressionante de quase 10 metros de altura. O jovem passou os próximos três dias sem conseguir dormir porque seus sonhos se transformaram em pesadelos cheios de cobras. Seu pai, eletricista e curandeiro ocupado com as responsabilidades de ter oito esposas e 26 filhos, decidiu que a única maneira de ajudá-lo seria levá-lo até a sacerdotisa especialista no culto às pítons. "Naquela noite, tomei um banho de purificação", disse Teté-Michel Kpomassie, agora com 80 anos, ao programa Outlook da BBC. "E a sacerdotisa disse ao meu pai que eu deveria me tornar padre do culto às cobras." Seu pai, honrado, aceitou, mas para Tété-Michel, a ideia de dedicar sua vida à adoração de cobras parecia mais uma sentença de morte do que uma honra. Nas semanas seguintes, Tété-Michel pediu licença ao pai, dizendo que precisava recuperar suas forças após a queda e se refugiou na antiga biblioteca missionária francesa perto do mar. Foi lá que ele fez a descoberta que mudaria completamente sua vida. "Havia um livro — que ainda tenho aqui — chamado Os esquimós da Groenlândia e do Alasca", lembra Tété-Michel. Esse livro o inspirou a empreender uma viagem titânica de oito anos pela África e pela Europa, antes de finalmente chegar à ilha congelada dos seus sonhos — e, no processo, tornar-se a primeira pessoa do continente africano a pisar na Groenlândia de que se tenha registro. Anos depois, Tété-Michel publicaria um livro contando suas aventuras intitulado Um africano na Groenlândia. Mas, em sua juventude, quando ainda estava sentado na antiga livraria dos missionários e sonhava com as paisagens geladas descritas no livro que tinha em mãos, Tété-Michel ainda tinha uma pergunta importante a responder se quisesse chegar à terra dos inuítes: "Onde era esse paraíso?" Um lugar frio e sem serpentes Este livro motivou Tété-Michel a empreender sua própria travessia nórdica Centro de Estudos de Newfoundland Um dia depois de descobrir que havia um lugar congelado chamado Groenlândia, Tété-Michel voltou à livraria para comprar um mapa para ajudá-lo a planejar seus próximos passos. "Percebi que a Groenlândia estava muito perto da América e muito longe da África", disse ele ao Outlook. "Então comecei a fazer meu plano de fuga." "Usei o dinheiro que economizei para chegar à rodoviária e perguntei se um motorista poderia me levar para Gana. Não pensei em nenhuma outra dificuldade." O que Tété-Michel ainda não sabia era que levaria oito anos para atravessar a África e a Europa antes de chegar à Dinamarca, o reino ao qual a Groenlândia pertence. Quando finalmente chegou a Copenhague, ele diz que conversou com um assistente consular que tentou fazê-lo entender o quão difícil seria atingir seu objetivo. "Em Copenhague, eles me perguntaram: 'O que você vai fazer na Groenlândia?' Eu respondi: 'Vou porque li que lá não há cobras.' Eles me perguntaram a temperatura do meu país e eu disse: 'Não sei, cerca de 30ºC.' Eles disseram: 'As temperaturas da Groenlândia chegam a -40ºC. Essa é uma diferença muito grande para você sobreviver.'" "Mas eu estava convencido e comprei minha passagem. O barco estava indo para Julianehaab, também chamada de Qaqortoq em groenlandês, no sul da Groenlândia." Tornasuk ou Qivittoq Pela primeira vez, Tété-Michel pôde ver icebergs reais Getty Images Na jornada de barco de sete dias até Qaqortoq, Tété-Michel começou a ver com seus próprios olhos algumas das maravilhas que seu livro lhe havia prometido. "Foi quando eu vi que no verão não há noite realmente. E também foi a primeira vez que vi icebergs: no começo, eles eram como pequenos pedaços de gelo que pareciam cisnes, mas se tornavam imensos, até se revelarem imponentes montanhas de gelo." "Às vezes, o interior do barco ficava tão frio que doía respirar." Talvez nenhuma imagem tenha sido mais chocante do que a de sua chegada a Qaqortoq. Por volta das 8h da manhã de junho de 1967, o barco em que Tété-Michel estava viajando chegou à Groenlândia. E esperando por ele estavam todas as pessoas que moravam na aldeia. Mal sabiam eles que, naquela manhã, seria a primeira vez que veriam um homem negro. "Olhei pela janela do navio e vi toda a população reunida na costa. E foi aí que me perguntei como eles reagiriam ao ver um homem negro, porque todos os outros a bordo eram brancos." Tété-Michel diz que, para descer do navio, ele teve que se preparar quase como se fosse um ator. E então, ele deu seu primeiro passo na Groenlândia. "No momento em que me viram, todos pararam de falar." A chegada de Tété-Michel a Qaqortoq foi um grande acontecimento para a população, especialmente para as crianças Tété-Michel Kpomassie Depois de alguns segundos de intenso silêncio, Tété-Michel começou a se aproximar da multidão chocada e percebeu que algumas crianças estavam chorando e que estavam se referindo a ele por nomes no idioma local. "Me aproximei lentamente deles e a multidão se separou para me deixar passar. Eu ouvi as crianças me chamarem de Tornasuk ou Qivittoq. Esses eram os nomes dos espíritos em suas lendas: gigantes negros que viviam nas montanhas." Mas, como o medo e a curiosidade muitas vezes andam juntos, foram as crianças de Qaqortoq que primeiro se encantaram com esse "gigante africano". Elas o apelidaram assim por causa de seus 1,80 m de altura, que o faziam parecer uma imponente estátua de ébano ao lado dos habitantes locais, que mal chegavam a 1,60 m de altura. "Depois que me afastei da multidão no porto, todas as crianças me seguiram e a polícia de Qaqortoq teve que dirigir atrás de nós. Eles estavam preocupados que as crianças me sobrecarregassem. Eles me escoltaram até a casa onde eu deveria morar", lembra Tété-Michel. "Mas as crianças não foram embora — elas cercaram a casa e ficaram lá por horas. Toda vez que me viam na janela, gritavam: 'Una, una, una! ' — significando: 'Olha, olha, olha!'" A vida em Qaqortoq Os vizinhos de Qaqortoq rapidamente se acostumaram a ver Tété-Michel na cidade Tété-Michel Kpomassie A aceitação das crianças do vilarejo começou a se espalhar por toda a aldeia, lembra o homem. "Os adultos eram tímidos e reservados. Eles se aproximavam de mim, mas suas reações eram mais compreensivas quando as crianças me aceitavam. Sempre que eu saía, as crianças me seguiam. Eles perguntavam meu nome e queriam apertar minha mão. Eles se tornaram meus amigos, meus melhores amigos, na verdade." Ele lembra que começou a receber convites de moradores locais para todos os tipos de planos: eles o convidavam para tomar uma cerveja ou provar pratos mais tradicionais da região. "Quando cheguei a uma casa onde me receberam e minha anfitriã — cujo nome era Paulina — me ofereceu algo e disse: 'Tikilluarit, você é bem-vindo', e ela ofereceu mattak, que é pele branca de baleia. É cru e se mastiga como chiclete. É servido com gordura de foca. Eu a princípio temi por meu estômago." Tété-Michel também começou a comparar o estilo de vida das pessoas nesse local remoto no sul da Groenlândia com o de sua vida anterior no Togo. "Na África, a hierarquia é muito rígida, mas na Groenlândia não há nada parecido. Era uma sociedade que eu nunca tinha imaginado antes. Pude ver o contraste com minha própria cultura", lembra Tété-Michel. "Mas o que eu realmente amei na Groenlândia foi seu animismo, que me lembrou da África. Eles acreditam que cada coisa tem uma alma: focas, baleias, renas selvagens — todos os animais têm um espírito, assim como os humanos. Isso reflete nossas próprias crenças no Togo." Mais ao norte Tété-Michel queria experimentar a Groenlândia mais selvagem Tété-Michel Kpomassie Depois de alguns meses em Qaqortoq, Tété-Michel começou a perceber que a experiência lá era muito semelhante à da Dinamarca e que, para se aproximar de seus sonhos de andar de trenó e caçar focas no gelo, ele teria que continuar sua jornada para o norte. "Passei o inverno em uma vila muito pequena: 29 casas, 170 pessoas e 600 cães", lembra. E foi lá que ele aprendeu a andar de trenó. "Um trenó puxado por cães é um veículo muito baixo, a apenas 20 centímetros do chão", diz Tété-Michel. "Quando você se senta nele, sente que o gelo está tão próximo que acha que vai cair. Mas quando os cães começam a puxar, é uma sensação estranha, porque você está tão baixo que não sente que está se movendo." "Você observa os huskies à frente, lançando rajadas de neve e gelo que atingem seu rosto. A cada cinco minutos, mais ou menos, você precisa parar e correr ao lado do trenó e depois voltar, para se aquecer. Você abre o anoraque [jaqueta de pele com capuz] para sentir o calor do seu próprio corpo no rosto. É uma sensação maravilhosa." "Se se deitar no trenó e olhar para o céu, você pode ouvir seu próprio coração. Como tudo é tão silencioso, ele faz bum, bum, bum. Você sente que seu coração está batendo como o coração de todo o universo. O que mais você precisa na Terra?" E foi nessa parte do mundo que ele realmente aprendeu a dominar o frio. Tété-Michel aprendeu a viver como os inuit, e contou sua experiência na África Tété-Michel Kpomassie "Aprendi a caçar. Às vezes, você precisa ficar em um lugar por horas. Quando você caça focas no gelo, precisa esperar que a foca saia para respirar. É preciso muita paciência — você só precisa se sentar em um bloco de gelo." "Mesmo a -30°C eu estava sofrendo, mas estava feliz. Eu me senti como se tivesse conquistado minha liberdade. Essa felicidade tornou o frio mais suportável. Eu acompanhava meus anfitriões todos os dias em suas atividades e todo esse movimento me mantinha aquecido." Contraintuitivamente, Tété-Michel começou a apreciar as coisas mais difíceis da Groenlândia, incluindo o inverno. "No verão, eu admirava o sol brilhando nos icebergs, mas no inverno eu admirava a luz da lua nesses mesmos icebergs e passei a preferir a noite. Quando o mar congela, os inuítes se tornam os reis de seu país", relata. "Com seus trenós puxados por cães, eles podem ir a qualquer lugar que quiserem. No verão, se você não tem um barco, não pode realmente viajar. Mas no inverno, todo o Ártico se torna sua casa, seu reino." O retorno Para Tété-Michel, compartilhar sua experiência com as pessoas na África se tornou uma motivação Tété-Michel Kpomassie Tété-Michel confessa que, durante sua jornada, nunca pensou em voltar para a África. Mas, quanto mais ele aprendia sobre a Groenlândia, suas culturas e o mundo em geral, uma ideia ficava em sua cabeça. "O que meu povo diria sobre esse mundo, sobre essas auroras borais que ninguém nunca viu, sobre o gelo marinho em que ninguém da minha família jamais pisou, sobre os meses sem luz do dia e os meses sem noite?", ele lembra. "De repente, senti que tinha que voltar. É por isso que deixei a Groenlândia e voltei para casa." O jovem de 16 anos que havia deixado o Togo, procurando escapar do destino da adoração de cobras, agora retornaria ao seu país como um homem de 28 anos com um mundo de histórias para compartilhar com seus entes queridos. Uma delas, a história da neve. "Para explicar a neve ao meu avô, eu disse a ele: 'Atahi, avô respeitado, imagine que todos os pássaros brancos no céu de repente perderam suas penas'." "No dia seguinte, o vovô fez toda a família rir dizendo que havia sonhado com flocos de neve tão grossos que bloqueavam o sol, e um dos meus tios lhe perguntou: 'O que aconteceu com aqueles pássaros que perderam todas as penas? Sem asas, como eles conseguirão voar?"" "Pela primeira vez, a neve se tornou parte de uma conversa em nossa comunidade." E por meio de suas experiências, Tété-Michel conquistou o respeito dos mais velhos. "Quando voltei, meu avô, meu pai, meus tios e tias me ouviram. Percebi que eles haviam me dado a vida, mas a Groenlândia me tornou um homem. Eu me tornei uma espécie de homem sábio, alguém a quem todos prestavam atenção." Um ano depois de retornar, Tété-Michel decidiu compartilhar sua experiência com o resto do continente e partiu em uma turnê pela África, onde contaria o que havia visto em suas viagens ao paraíso congelado da Groenlândia. Ele então se mudou para a França e publicou Um africano na Groenlândia, um livro que se tornou popular e o lançou à fama. "Eu nunca fui para a universidade, mas hoje as universidades me convidam para dar palestras. Eu recebo e-mails de antropólogos e cartas de etnólogos. Meu livro se tornou um modelo para eles." "Construí uma ponte entre a África e a Groenlândia. Falo sobre a Groenlândia todos os dias, é como se eu nunca tivesse saído de lá." * Esta reportagem é uma adaptação de uma reportagem originalmente publicada em inglês, no programa de rádio BBC Outlook. Você encontra esse episódio aqui. Esta reportagem foi escrita e revisada por nossos jornalistas utilizando o auxílio de IA na tradução, como parte de um projeto piloto. Imagem do papa é projetada no obelisco de Buenos Aires Reféns israelenses libertados se reúnem com familiares em Israel Brasileiros vítimas de tráfico humano em Mianmar embarcam para o Brasil
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Papa Francisco usou almofadas nasais para receber oxigênio e fará novos exames hoje, diz agência


Mais cedo, o pontífice agradeceu as orações pela saúde e afirmou que segue em tratamento, enquanto o Vaticano monitora seu estado clínico. Papa Francisco Filippo MONTEFORTE / AFP O Papa Francisco usou almofadas nasais para a aplicação de oxigênio em altos fluxos (oxigenoterapia) e que o pontífice fará novos exames clínicos ainda hoje, informou a agência Vatican News neste domingo (23). "O Papa Francisco usou almofadas nasais esta manhã para a aplicação de oxigênio em altos fluxos. Outros exames clínicos estão em andamento. Para saber os resultados, aguardamos o boletim desta noite", disse o Vatican News. Em oração escrita pelo Papa Francisco e divulgada neste domingo (23), o pontífice agradeceu às orações pela sua saúde e disse que continua 'realizando os tratamentos necessários'. "De minha parte, continuo confiante a internação na Policlínica Gemelli, realizando os tratamentos necessários; e também o repouso faz parte da terapia! Agradeço de coração aos médicos e ao profissionais de saúde deste Hospital pela atenção que me dispensam e pela dedicação com que prestam seu serviço aos doentes". O pontífice também convidou os fiéis a rezarem pelos países onde há conflitos, da "Palestina ao Sudão", com um pensamento particular para a Ucrânia. O texto foi divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. É o segundo domingo que Francisco não participa da tradicional oração de Angelus. Neste domingo, a missa foi conduzida pelo Arcebispo Rino Fisichella. Francisco ainda dedicou agradecimento especial às demonstrações de carinho feitas pelas crianças. "Nestes dias recebi muitas mensagens de afeto e fiquei particularmente tocado pelas cartas e pelos desenhos das crianças. Obrigada por essa proximidade e pelas orações de conforto que recebi do mundo inteiro! Confio todos à intercessão de Maria e peço que rezem por mim." Noite tranquila Para Francisco teve noite tranquila, diz Vaticano O papa Francisco teve uma noite tranquila, informou o Vaticano no início da manhã de domingo (23). O comunicado vem um dia após o pontífice sofrer uma crise de asma prolongada e o seu estado de saúde ser descrito como crítico pela primeira vez. O Papa Francisco, internado desde 14 de fevereiro após sentir dificuldade para respirar por vários dias. O pontífice, de 88 anos, foi internado no hospital Gemelli, em Roma, devido a uma bronquite. No hospital, foi diagnosticado como pneumonia bilateral e infecção polimicrobiana. Na sexta-feira (21), Francisco completou uma semana de internação e os médicos do papa fizeram uma entrevista coletiva para atualizar o quadro clínico do pontífice. Segundo a equipe médica, o papa não corre risco de morte, mas também não está fora de perigo por ser um "paciente frágil". Por conta disso, Francisco permanecerá internado por pelo menos mais uma semana. Eles também disseram que o pontífice: Não está conectado a nenhum aparelho de respiração; Consegue caminhar, mas só distâncias curtas por conta da dificuldade respiratória e do problema prévio em seu joelho; Ainda assim, se levanta com frequência e trabalha de uma poltrona; Não tem quadro de sepse (infecção generalizada); Sabe que está em perigo e pediu que os médicos não escondessem nenhuma informação do público; Está comendo de forma regular e "apresenta bom apetite"; É considerado "um paciente frágil", principalmente por conta da idade; Está respondendo aos tratamentos, mas o quadro pode ir mudando a cada dia; Não está divulgando fotos porque "não queremos uma foto do papa em pijama". Durante todo esse período, diz o Vaticano, Francisco tem trabalhado e se mantido informado através da leitura de jornais. O papa também consegue se movimentar dentro de seu quarto no hospital, atende algumas ligações telefônicas e continua com alguns afazeres administrativos. Ainda segundo o Vaticano, todos os compromissos públicos do papa foram cancelados. Pneumologista fala sobre boletim médico do Papa Francisco; quadro é considerado crítico
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Internado, Papa agradece orações e volta a pedir pela paz na Ucrânia


Oração escrita pelo pontífice foi divulgada pela Santa Sé. É a segunda semana que ele não participa de tradicional oração de Angelus na Praça São Pedro. Visão geral da missa e das ordenações diaconais realizadas pelo Arcebispo Rino Fisichella, no lugar do Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, neste domingo, 23 de fevereiro. Vatican Media/­Simone Risoluti/Handout/via Reuters Em oração escrita pelo Papa Francisco e divulgada neste domingo (23), o pontífice agradeceu às orações pela sua saúde e disse que continua 'realizando os tratamentos necessários'. "De minha parte, continuo confiante a internação na Policlínica Gemelli, realizando os tratamentos necessários; e também o repouso faz parte da terapia! Agradeço de coração aos médicos e ao profissionais de saúde deste Hospital pela atenção que me dispensam e pela dedicação com que prestam seu serviço aos doentes". O texto foi divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. É o segundo domingo que Francisco não participa da tradicional oração de Angelus. Neste domingo, a missa foi conduzida pelo Arcebispo Rino Fisichella. ➡️O pontífice, de 88 anos, foi internado dia 14 de fevereiro no hospital Gemelli, em Roma, devido a uma bronquite. No hospital, foi diagnosticado como pneumonia bilateral e infecção polimicrobiana. Neste domingo (23), o Vaticano informou que Francisco usou almofadas nasais para a aplicação de oxigênio em altos fluxos (oxigenoterapia) e que o pontífice fará novos exames clínicos ainda hoje. Na oração do Angelus deste domingo, o Papa também convidou os fiéis a rezarem pelos países onde há conflitos, da "Palestina ao Sudão", com um pensamento particular para a Ucrânia. "Amanhã marca o terceiro aniversário da guerra em larga escala contra a Ucrânia: um aniversário doloroso e vergonhoso para toda a humanidade! Ao renovar minha proximidade ao martirizado povo ucraniano, convido-vos a recordar das vítimas de todos os conflitos armados e a rezar pelo dom da paz na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio, em Mianmar, no Kivu e no Sudão". O Papa ainda dedicou agradecimento especial às demonstrações de carinho feitas pelas crianças. "Nestes dias recebi muitas mensagens de afeto e fiquei particularmente tocado pelas cartas e pelos desenhos das crianças. Obrigada por essa proximidade e pelas orações de conforto que recebi do mundo inteiro! Confio todos à intercessão de Maria e peço que rezem por mim." Desenho enviado ao Papa por criança internada no setor de Oncologia do Gemelli Divulgação/Vatican News Noite tranquila O papa Francisco teve uma noite tranquila, informou o Vaticano no início da manhã de domingo. O comunicado vem um dia após o pontífice sofrer uma crise de asma prolongada e o seu estado de saúde ser descrito como crítico pela primeira vez. Na sexta-feira (21), Francisco completou uma semana de internação e os médicos do papa fizeram uma entrevista coletiva para atualizar o quadro clínico do pontífice. Segundo a equipe médica, o papa não corre risco de morte, mas também não está fora de perigo por ser um "paciente frágil". Por conta disso, Francisco permanecerá internado por pelo menos mais uma semana. Eles também disseram que o pontífice: Não está conectado a nenhum aparelho de respiração; Consegue caminhar, mas só distâncias curtas por conta da dificuldade respiratória e do problema prévio em seu joelho; Ainda assim, se levanta com frequência e trabalha de uma poltrona; Não tem quadro de sepse (infecção generalizada); Sabe que está em perigo e pediu que os médicos não escondessem nenhuma informação do público; Está comendo de forma regular e "apresenta bom apetite"; É considerado "um paciente frágil", principalmente por conta da idade; Está respondendo aos tratamentos, mas o quadro pode ir mudando a cada dia; Não está divulgando fotos porque "não queremos uma foto do papa em pijama". Durante todo esse período, diz o Vaticano, Francisco tem trabalhado e se mantido informado através da leitura de jornais. O papa também consegue se movimentar dentro de seu quarto no hospital, atende algumas ligações telefônicas e continua com alguns afazeres administrativos. Ainda segundo o Vaticano, todos os compromissos públicos do papa foram cancelados. Papa Francisco está internado desde 14 de fevereiro Filippo MONTEFORTE / AFP Médicos falam sobre a saúde do Papa Francisco
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O vilarejo da Índia onde um quarto dos moradores é youtuber


Em Tulsi, uma vila na Índia central, a plataforma de vídeos desencadeou uma revolução econômica e social. É um microcosmo do efeito do YouTube no mundo. A aldeia de Tulsi, no centro da Índia, é um microcosmo da influência do YouTube em todo o mundo Estudio Santa Rita Em uma manhã de setembro, moradores locais se dirigem aos campos da aldeia de Tulsi, perto de Raipur, no centro da Índia. E o youtuber Jai Varma, de 32 anos, pede a um grupo de mulheres que participe do seu novo vídeo. Elas se reúnem em torno dele, ajustam seus sáris e oferecem rápidas palavras e um sorriso. Varma coloca uma idosa sentada em uma cadeira de plástico. Ele pede a outra que toque os pés dela e a uma terceira que sirva água. Ele está encenando um festival rural para os espectadores que irão ver seu conteúdo em outras cidades e países, a milhares de quilômetros de distância. As mulheres, acostumadas a este tipo de filmagem, ficam felizes em colaborar. Varma captura o momento e elas retornam ao seu trabalho nos campos. A poucas centenas de metros de distância, outro grupo está ocupado encenando sua própria produção. Um deles segura um telefone celular e filma Rajesh Diwar, de 26 anos, que se movimenta ao ritmo do hip hop. Suas mãos e seu corpo se animam, no estilo expressivo de um experiente dançarino. Tulsi se parece com qualquer outra aldeia indiana. O pequeno assentamento no Estado indiano de Chhattisgarh, no centro da Índia, abriga casas de um só andar e ruas parcialmente pavimentadas. Uma caixa d'água se destaca acima das casas, como se estivesse vigiando a cidade do alto. Figueiras-de-bengala e suas bases de concreto servem de pontos de reunião para as pessoas. Mas o que diferencia Tulsi das demais aldeias é sua fama como a "aldeia do YouTube" na Índia. Cerca de 4 mil pessoas moram em Tulsi. Relatos indicam que mais de 1 mil delas trabalham de alguma forma com o YouTube. Uma rápida caminhada pela aldeia mostra como é difícil encontrar alguém que ainda não tenha aparecido em um dos muitos vídeos filmados ali para a plataforma. O dinheiro trazido pelo YouTube transformou a economia local, segundo os moradores. E, além dos benefícios financeiros, a rede social passou a ser um instrumento de igualdade e mudanças sociais. Os moradores que lançaram canais de sucesso no YouTube encontraram novas fontes de renda. Eles incluem diversas mulheres que, até então, tinham poucas oportunidades de progresso neste ambiente rural. As conversas à sombra das árvores passaram a tratar de tecnologia e da internet. Os moradores de Tulsi costumam fazer pausas nas suas atividades diárias para participar da filmagem de vídeos para o YouTube Suhail Bhat O mês de fevereiro de 2025 marca o 20º aniversário do YouTube. Estimativas indicam que cerca de 2,5 bilhões de pessoas usam a plataforma mensalmente e a Índia é, de longe, um dos maiores mercados da plataforma de vídeos. Ao longo das décadas, o YouTube não só mudou a web, mas também toda nossa forma de imaginar a criação e o consumo de cultura humana. De certa forma, a aldeia de Tulsi é um microcosmo da influência do YouTube sobre o mundo como um todo. Para algumas pessoas, toda sua vida gira em torno dos vídeos online. "Ele afasta as crianças do crime e dos maus hábitos", afirma o agricultor Netram Yadav, de 49 anos, um dos muitos admiradores do florescente cenário de redes sociais de Tulsi. "Esses criadores de conteúdo deixaram todos na aldeia orgulhosos pelo que eles conseguiram fazer e alcançar." Revolução nas redes sociais A transformação de Tulsi pelo YouTube começou em 2018, quando Varma e seu amigo Gyanendra Shukla lançaram um canal na plataforma, chamado Being Chhattisgarhiya. "Não estávamos satisfeitos com o nosso dia a dia e queríamos fazer algo que pudesse fazer fluir nossa veia criativa", explica Varma. Seu terceiro vídeo sobre um jovem casal sendo assediado no Dia dos Namorados pelos membros do grupo nacionalista hindu de direita Bajrang Dal foi o primeiro a viralizar. As pessoas se identificaram com aquela combinação de humor e crítica social. "O vídeo era engraçado, mas também trazia uma mensagem, que deixamos em aberto para a interpretação dos espectadores", explica Varma. A dupla ganhou dezenas de milhares de seguidores em questão de meses. Este número continuou crescendo até atingir 125 mil assinantes e uma audiência acumulada de mais de 260 milhões de pessoas. A preocupação das famílias com a dedicação de tanto tempo às redes sociais foi abafada quando o dinheiro começou a entrar. "Estávamos ganhando mais de 30 mil rúpias [cerca de R$ 2 mil] por mês e conseguíamos sustentar os membros da equipe, que nos ajudavam", conta Shukla. Ele e Varma deixaram seus empregos para produzir vídeos para o YouTube em tempo integral. Seu sucesso logo inspirou outros moradores de Tulsi. Shukla conta que sua equipe pagou atores e até forneceu treinamento em edição e redação de roteiros para os demais. Alguns moradores da aldeia criaram seus próprios canais e outros se contentavam em colaborar voluntariamente. Aquilo foi o suficiente para atrair a atenção das autoridades locais. Em 2023, impressionado com o sucesso dos criadores de conteúdo da aldeia, o governo estadual montou um estúdio de última geração em Tulsi. O ex-inspetor fiscal Sarveshwar Bhure, que era servidor público de alto escalão do distrito de Raipur (que inclui Tulsi), conta que observou o trabalho da aldeia no YouTube como uma oportunidade para reduzir o abismo digital. "Eu quis diminuir a distância entre a vida urbana e a rural oferecendo este estúdio", relembra ele. "Seus vídeos são impactantes, tratam de temas fortes e atingiram milhões de pessoas. Construir um estúdio foi uma forma de motivá-los." A aposta deu certo. O YouTube criou um modo de subsistência para centenas de jovens da aldeia, segundo Bhure. A plataforma alimenta uma indústria regional de entretenimento e está retirando alguns youtubers de Tulsi da sua vida na cidade pequena. A ex-chefe da aldeia de Tulsi, Draupadi Vaishnu, procura promover a importância do respeito e da igualdade para as mulheres indianas com sua presença no YouTube Suhail Bhat De todas as estrelas das redes sociais surgidas no frenesi de Tulsi no YouTube, ninguém chegou mais longe do que Pinky Sahoo, de 27 anos. O fato de ter sido criada em uma aldeia remota construída em torno da agricultura fez com que seu desejo de se tornar atriz e dançarina parecesse uma fantasia distante – especialmente com a reprovação da família e dos vizinhos. Para eles, ser atriz era um tabu. Apesar das críticas, Sahoo começou a postar vídeos de dança no Reels do Instagram e nos Shorts do YouTube. A reviravolta veio quando os fundadores do canal Being Chhattisgarhiya encontraram seus vídeos e a chamaram para participar das suas produções. "Foi a realização de um sonho", relembra Sahoo. "Eles reconheceram meu talento e aprimoraram minha técnica." Seu entusiasmo aumentou ainda mais quando seu trabalho no canal Being Chhattisgarhiya chamou a atenção de cineastas locais da indústria cinematográfica de Chhattisgarh. Sahoo foi escalada para seu primeiro filme e, desde então, já participou de sete produções. O produtor e diretor Anand Manikpuri, da cidade próxima de Bilaspur, ficou impressionado com as suas apresentações no YouTube. "Eu procurava um rosto novo que pudesse interpretar e Sahoo era perfeita", ele conta. Aditya Bhagel (segundo, da direita para a esquerda) repassa uma cena com seus atores e a equipe de produção, antes de começar a filmar na aldeia Suhail Bhat O morador de Tulsi Aditya Bhagel ainda estava na faculdade quando se inspirou em Varma e Shukla e decidiu criar seu próprio canal. Adaptando as técnicas da dupla, ele atingiu mais de 20 mil seguidores em um ano e começou a ganhar dinheiro no YouTube. Varma acabou contratando Bhagel para um trabalho como roteirista e diretor na equipe do canal Being Chhattisgarhiya. "Foi como conhecer celebridades", conta Bhagel sobre seu primeiro encontro com Varma e Shukla. Logo veio um emprego na produtora da cidade próxima de Raipur. Ele foi contratado graças ao seu trabalho no YouTube. Seu caminho prosseguiu quando Bhagel começou a trabalhar como roteirista e assistente de direção para um novo filme de grande orçamento, chamado Kharun Paar. "Só posso esperar que, um dia, eu consiga trabalhar em Hollywood." Outro youtuber que se tornou profissional do cinema é Manoj Yadav, de 38 anos. Seu primeiro papel como ator ocorreu na infância, como um jovem Lorde Rama em uma encenação anual do épico hindu Ramayana. Yadav nunca imaginou que aqueles aplausos, um dia, chegariam às salas de cinema de Chhattisgarh. Depois de passar anos apresentando seu talento em vídeos no YouTube, Yadav conseguiu um papel em um filme regional, que lhe valeu muitos elogios pelos seu talento como ator. Agora, Yadav é um nome conhecido e vive inteiramente da sua arte. "Nada disso teria sido possível sem o YouTube", ele conta. "Não consigo expressar meus sentimentos em palavras." Empoderamento feminino Em Tulsi, o YouTube abriu o caminho para que as mulheres ocupassem papel central nesta revolução tecnológica. Para a ex-Sarpanch – chefe da aldeia – de Tulsi, Draupadi Vaishnu, o YouTube pode ser fundamental para questionar os vieses e alterar as normas sociais na Índia, onde a violência doméstica ainda é uma questão importante. "É comum que as mulheres perpetuem [as práticas misóginas], especialmente na forma em que elas tratam suas noras", segundo Vaishnu. "Estes vídeos ajudam a romper estes ciclos." Recentemente, Vaishnu, com 61 anos de idade, estrelou um vídeo sobre este tema. "Fiquei feliz em fazer aquele papel porque ele promovia a importância de tratar as mulheres com respeito e igualdade, como defendi durante meu tempo como chefe da aldeia", ela conta. Os vídeos de Jai Varma sobre a vida na Índia rural atraíram audiências de todo o mundo Suhail Bhat Rahul Varma (que não é parente de Jai Varma) é um fotógrafo de casamentos que aprendeu as técnicas do YouTube com seus vizinhos da aldeia. Ele tem 28 anos de idade e afirma que a plataforma é transformadora. "No começo, nossas mães e irmãs apenas nos ajudavam", relembra ele. "Agora, elas mantêm seus próprios canais. Não imaginávamos isso antes." Até seu sobrinho de 15 anos ajuda os criadores de conteúdo da aldeia, segundo Varma. "Aqui, este é um negócio sério e todos participam." Durante a pandemia de covid-19, houve uma explosão de criadores de conteúdo na zona rural da Índia, particularmente no TikTok, até que o país proibiu o aplicativo em 2020. A onda inicial foi conduzida principalmente pelos homens, segundo o professor de antropologia digital Shriram Venkatraman, do Instituto Indiano de Tecnologia, na capital indiana, Nova Déli. Mas ele destaca que muito mais mulheres passaram a manter canais bem sucedidos nas redes sociais após a pandemia, o que criou novas oportunidades econômicas. "A quantidade de conexões globais trazidas é transformadora, para dizer o mínimo", afirma ele, tanto para os homens quanto para as mulheres. "Houve até quem começasse outros negócios a partir do YouTube, usando seus assinantes e consumidores de conteúdo como base de clientes inicial, como óleos para os cabelos, temperos e massalas [mistura de temperos] de produção doméstica." Mas, para alguns, o dinheiro não é a única questão. "Adoro colaborar para os vídeos produzidos pelos canais da minha aldeia e faço sem esperar nada em troca", conta a dona de casa Ramkali Varma (que também não é parente de Jai Varma), de 56 anos. Ela passou a atuar frequentemente como atriz de papéis que retratam mães amorosas e é um dos talentos mais procurados da aldeia. Rajesh Diwar criou seu próprio canal do YouTube para divulgar o rap regional Suhail Bhat Os papéis de Ramkali costumam abordar questões de gênero. Ela conta que um dos seus favoritos foi o de uma sogra atenciosa que incentiva a nora a aprimorar sua formação. "Consegui defender o sucesso e a educação das mulheres", relembra ela. "Atuar me traz satisfação e paz de espírito." Agora uma atriz confiante e bem sucedida, Pinky Sahoo espera inspirar outras jovens. "Se eu consegui atingir meus sonhos, elas também podem", afirma ela, relembrando o orgulho de assistir à sua atuação na tela grande com o pai. Em Tulsi, Sahoo passou a ser modelo para as jovens. "Ver as meninas sonharem alto e terem grandes ambições é a maior recompensa da minha jornada. Existem meninas que desejam se tornar cineastas", ela conta. O sol se põe sobre Tulsi. Rajesh Diwar e sua equipe trabalham incansavelmente para praticar a batida do hip hop. "Mudar da criação de conteúdo para a música rap não tem sido fácil", conta Diwar, dono do canal Lethwa Raja ("Rei Incrível", em tradução livre). Ele espera que o YouTube possa ser um vetor para outras mudanças culturais entre o seu povo. "Não são muitas pessoas que cantam rap no nosso idioma, mas acredito poder mudar isso", segundo ele. "Quero trazer um novo som para a nossa região e fazer com que Tulsi fique conhecida pela sua música, tanto quanto pelos seus vídeos." Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Innovation. 'Não Me Perturbe' não funciona? Por que pessoas recebem ligações de telemarketing Apple lança iPhone 16e, modelo mais 'barato' da linha Órgão italiano bloqueia acesso ao DeepSeek no país
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3 desafios que a economia da Alemanha enfrenta e por que a eleição deste domingo é crucial para que o país se reinvente


O próximo governo alemão que sair das urnas neste domingo (23/02) terá o difícil desafio de relançar sua economia e fortalecer sua defesa. Eleitora alemã vota neste domingo, em Berlim REUTERS/Fabrizio Bensch Com as urnas abertas até as 18h (14h no horário de Brasília), a Alemanha escolhe neste domingo (23/2) um novo governo, em um momento crítico. Com sua economia estancada, um contexto internacional cada vez mais hostil devido às mudanças da política externa americana no governo Donald Trump e o auge da direita radical no país, questionando alguns dos consensos que sustentaram seu modelo político nas últimas décadas, os alemães comparecem às urnas com a clara sensação de que o país precisa de mudanças profundas e urgentes. As pesquisas indicam que a força política mais votada será a União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão), com o candidato Friedrich Merz, seguida pela ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), de Alice Weidel, que pode obter os melhores resultados eleitorais da sua história. O Partido Social Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, deve cair para a terceira posição, segundo as pesquisas. A causa seria o desgaste causado pelos enfrentamentos e pela divisão sofrida no seu governo de coalizão com os liberais e ecologistas. A grande incógnita que se apresenta nas pesquisas é se Merz será capaz de formar um governo suficientemente estável para realizar as reformas necessárias. O país foi, durante décadas, um exemplo de sucesso e liderança na Europa, mas seu modelo econômico e seu papel global, agora, parecem estar se partindo. Mas como a Alemanha chegou a esta encruzilhada? 1. O desafio do retorno de Trump à Casa Branca O democrata-cristão Friedrich Merz (dir.) aparece nas pesquisas como o candidato com maior intenção de votos para as eleições alemãs. À esquerda, o candidato do Partido Verde, Robert Habeck Getty Images A volta de Donald Trump à presidência americana trouxe mudanças radicais para a política externa dos Estados Unidos. Estas mudanças obrigaram a Alemanha e os demais membros europeus da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) a repensar rapidamente suas posições. Trump é muito crítico com seus aliados europeus. Ele os acusa de não gastarem o suficiente com a defesa e de abusar da proteção militar dos Estados Unidos há décadas. Há um mês no poder, o presidente americano fez tremer o solo que sustentava a Alemanha, com sua decisão de iniciar negociações sobre a Ucrânia diretamente com a Rússia de Vladimir Putin, excluindo os aliados europeus. Trump também deixou claro que nem a Alemanha, nem os demais países da União Europeia podem contar com a garantia de que os Estados Unidos irão acudir em sua ajuda, no caso de ataques ao seu território. O vice-presidente americano, J. D. Vance, discursou em Munique, na Alemanha, no dia 14 de fevereiro. Ele lançou duros ataques aos líderes europeus e causou perplexidade entre os alemães. O ministro da Defesa do país, Boris Pistorius, qualificou o discurso de "inaceitável". Trump acusa a Alemanha e seus aliados europeus de não investir o suficiente na defesa Getty Images Karl-Heinz Kamp, da Academia Federal Alemã para Políticas de Segurança, declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) que "o modelo segundo o qual os americanos forneciam a segurança - com a Alemanha podendo se dedicar a crescer e prosperar - terminou" com o segundo mandato de Donald Trump. Em um país que passou décadas entre governos muito reticentes para investir no seu exército, devido às traumáticas recordações da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e do militarismo nazista, a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 obrigou os políticos e a população da Alemanha a repensarem sua posição. Nos últimos anos, a Alemanha aumentou seus gastos em defesa e o governo de Scholz rompeu décadas de tradição pacifista em 2022, ao aprovar o envio de armamento letal à Ucrânia para repelir a invasão russa. Esta mudança histórica foi bem recebida pelos cidadãos alemães, segundo as pesquisas. Merz destacou que esta "foi uma mudança fundamental na política alemã, mas que logo foi interrompida". Para ele, "o próximo chanceler precisará se aprofundar nela e levá-la para o próximo patamar". O grande problema é que a Alemanha se vê obrigada a investir mais em defesa em um momento ruim para sua economia. Os gastos sociais e o financiamento dos generosos serviços públicos, tradicionalmente, são prioritários no país. Mas as ameaças de um mundo em que as garantias de segurança dos Estados Unidos e da Otan estão sendo questionadas podem obrigar os alemães a tomar dolorosas decisões orçamentárias, se o próximo governo não conseguir reativar o crescimento econômico. 2. Indústria defasada e economia estancada A Alemanha ostentou com orgulho, por muitos anos, o título de "locomotiva da Europa". A imprensa internacional usava este rótulo com frequência para destacar a liderança do país, que impulsionava o crescimento econômico da União Europeia. Incentivada pela sua indústria e pela energia barata que vinha da Rússia, a Alemanha crescia de forma dinâmica. O país gerava empregos, principalmente graças à exportação de carros e outros produtos de alto valor agregado, destinados aos parceiros europeus e aos enormes mercados dos Estados Unidos e da China. Mas este crescimento ficou estancado nos últimos anos. O Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha foi reduzido em 0,3% ao ano em 2023 e, segundo as estimativas, 0,1% em 2024. As previsões da Comissão Europeia indicam que o crescimento alemão irá se recuperar lentamente. Neste ano, o aumento não deve superar 0,7%. O economista Wolfgang Münchau, diretor do portal especializado Eurointelligence, declarou à BBC que "o milagre alemão terminou", devido às decisões tomadas na época de bonança da ex-chanceler Angela Merkel. "Na década de 2010, a Alemanha aumentou sua dependência do gás russo, investiu menos em fibra óptica e infraestrutura digital e aumentou sua dependência das exportações", segundo Münchau. Ele acredita que seu país não soube se adaptar a tempo à era digital. Agora, a indústria automotiva alemã, tão prestigiada até pouco tempo atrás, está sendo superada no setor de carros elétricos pela concorrência chinesa, mais preparada para esta corrida. Os fabricantes alemães de automóveis vêm enfrentando dificuldades, principalmente com a concorrência chinesa Getty Images A guerra na Ucrânia e a aberta rivalidade entre a União Europeia e Vladimir Putin encareceram o gás e o petróleo da Rússia, que alimentavam os lares e as fábricas alemãs. Isso contribuiu para o aumento da inflação, que é uma das questões que mais vêm preocupando a população do país. Atualmente, a Espanha – que é muito menos dependente dos gasodutos que ligam a Rússia à Europa ocidental – ultrapassou a Alemanha como o país que mais cresce na União Europeia. Diana Luna, assessora da Fundação Friedrich Naumann para a Liberdade, declarou à BBC News Mundo que "a Alemanha é um dos países onde quem quer gerar riqueza precisa enfrentar mais impostos e burocracia". Acrescente-se a isso os custos da energia como mais um obstáculo para a atividade econômica. Mas Kamp recorda que o país ainda mantém pontos fundamentais fortes, que deveriam ajudar o novo governo na busca de um novo caminho para a prosperidade. "Temos mão de obra muito bem formada e uma dívida pública muito inferior à de outros países, o que nos oferece margem de manobra", destaca ela. Durante a campanha eleitoral, o favorito Friedrich Merz defendeu reduzir a burocracia, as regulamentações ambientais e os impostos para dar novo impulso à economia. Mas, antes de tudo, ele precisará conseguir formar um governo estável. E as pesquisas preveem que será necessário formar uma coalizão com os social-democratas ou os liberais para obter apoio suficiente no Parlamento. Além disso, ele também precisará evitar as desavenças e contradições que acabaram derrubando o governo liderado por Olaf Scholz. 3. A imigração e o auge da direita radical Em 2015, a então chanceler Angela Merkel decidiu abrir as portas da Alemanha para os refugiados da guerra na Síria, enquanto seus vizinhos europeus fechavam suas fronteiras com soldados e cercas de arame. Imigrantes de outros países também se instalaram na Alemanha. Mais de 2 milhões de pessoas chegaram ao país naquele ano. A população não deixou de crescer nos últimos anos devido à imigração, o que ajudou a compensar a redução da natalidade e o envelhecimento entre os cidadãos alemães. Mas a imigração em massa também trouxe consigo problemas de integração. E alguns ataques cometidos por solicitantes de asilo muçulmanos causaram consternação no país. O caso mais recente aconteceu poucos dias atrás, em Munique. O partido ultradireitista AfD conta com o apoio do bilionário americano Elon Musk Getty Images O posicionamento favorável dos alemães frente à imigração aparentemente oscilou nos últimos anos. Em 2016, o Índice de Aceitação da Imigração na Alemanha era de 7,1, segundo o instituto de pesquisas Gallup. Mas, em 2023, este índice caiu para 6,4. O Gallup indica que a Alemanha é a única dentre as principais economias europeias em que a aceitação dos imigrantes é significativamente inferior à de 2016. Diana Luna acredita que "foi um erro abrir totalmente as fronteiras em 2015, sem que se chegasse a um consenso europeu sobre como fazer frente à crise dos refugiados provocada pela guerra na Síria. Existem cidades sobrecarregadas e os serviços entraram em colapso." Tudo isso fortaleceu a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que concorre nestas eleições com a melhor perspectiva da sua história – e com o apoio do bilionário americano Elon Musk, forte aliado de Trump. Depois de atingir várias esferas de poder local e regional nas últimas eleições, a AfD se transformou em uma força de referência nacional. Seu discurso anti-imigração obrigou outros partidos a também adotar um tom mais duro. Os demais partidos continuam aplicando o veto à direita radical – um dos consensos da política alemã há décadas, devido à aversão do país a qualquer vislumbre de reedição do trauma do nazismo. Por isso, parece improvável que a AfD venha a fazer parte da futura coalizão de governo. Mas Luna acredita que "a direita radical é especialmente forte na antiga Alemanha Oriental e, depois destas eleições, sua voz será cada vez mais forte". "Se o novo governo conseguir ser estável, gerar empregos e colocar a imigração em ordem, ele irá retirar o capital político acumulado pela direita radical", defende a especialista, "e voltará a demonstrar aos alemães que sua democracia é um sistema que continua dando resultados." Manifestantes vão às ruas na véspera da eleição na Alemanha Imagem do papa é projetada no obelisco de Buenos Aires Alemanha: o apoio de Musk na eleição
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Papa teve noite tranquila no hospital, informa Vaticano


Comunicado acontece um dia após pontífice sofrer uma crise de asma prolongada e seu estado de saúde ter sido descrito como crítico pela primeira vez. Papa Francisco (home) Alberto PIZZOLI / AFP O papa Francisco teve uma noite tranquila, informou o Vaticano no início da manhã de domingo (23). O comunicado vem um dia após o pontífice sofrer uma crise de asma prolongada e o seu estado de saúde ser descrito como crítico pela primeira vez. O papa está internado no hospital Gemelli, em Roma, e, no sábado (22), precisou de terapia de alto fluxo de oxigênio e transfusão de sangue, devido a um quadro de anemia, segundo comunicado do Vaticano. Fiéis rezam pela saúde do papa na Itália e na América Latina Para Francisco teve noite tranquila, diz Vaticano Initial plugin text Problemas respiratórios O papa tem 88 anos e está internado desde 14 de fevereiro no Hospital Gemelli, em Roma, devido a problemas respiratórios. Começou com uma crise de bronquite, que evoluiu para uma infecção e uma pneumonia que afetou os dois pulmões. Durante a semana, o Vaticano informou que o papa respirava sem a necessidade de máquinas, vinha trabalhando e conseguia se movimentar dentro do quadro, além de atender ligações telefônicas.
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Urnas abrem na Alemanha e eleitores começam a escolher os próximos representantes do Parlamento


Alemães têm até às 14h no horário de Brasília para escolher os representantes do governo da maior economia da União Europeia. Eleitor deposita vota na urna. Alemanha tem eleição parlamentares neste domingo (23) Nadja Wohlleben/Reuters As urnas da eleição da Alemanha abriram às 4h no horário de Brasília (8h no horário local) neste domingo (23). Os alemães vão escolher, em eleições gerais antecipadas, os representantes do Bundestag, o Parlamento alemão, que definirão o próximo chanceler, chefe de governo do país. Os cerca de 61 milhões de alemães aptos a votar terão até às 14h em Brasília (18h no horário local) para fazer as suas escolhas. Em linhas gerais, os eleitores escolhem um candidato, mas também votam em um partido. Quanto mais votos a legenda receber, mais cadeiras terá no Bundestag Com o crescimento da extrema direita, representada pelo partido AfD, especialistas apontam que a formação de uma coalizão governamental será difícil, o que pode ameaçar a estabilidade política do país. Nos últimos anos, todos os partidos que compõem o Bundestag se recusaram a trabalhar ou formar alianças com a AfD, já que a legenda é investigada por extremismo e acusada de abrigar movimentos neonazistas. Além disso, a eleição na Alemanha, a maior economia da União Europeia, também pode definir os rumos do bloco e as respostas da Europa a provocações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump sobre a Ucrânia e as tarifas. O que você precisa saber sobre as eleições na Alemanha Protestos, avanço da extrema direita e influência dos EUA geram clima de tensão no último dia de campanha na Alemanha Por que cada vez mais jovens alemães estão aderindo à direita radical Como é a eleição na Alemanha Alemães vão às urnas para renovar Parlamento Nas eleições alemãs, o eleitor precisa preencher duas cédulas, conhecidas como Erststimme (primeiro voto) e Zweitstimme (segundo voto). No primeiro voto, o eleitor escolhe um candidato do distrito em que mora para ser eleito deputado. No segundo voto, o eleitor vota em um dos partidos que concorrem às eleições. Vale ressaltar que o eleitor não é obrigado a votar no mesmo partido nas duas cédulas. Ou seja, é possível escolher um candidato de um partido no primeiro voto e, no segundo, apoiar outra legenda. Das 630 cadeiras do Bundestag, 299 são ocupadas pelos deputados eleitos diretamente em seus respectivos distritos. As outras 331 são distribuídas proporcionalmente ao número de votos que cada partido recebeu. Ou seja, quanto mais votos um partido obtiver, mais assentos ele terá no Parlamento. Na distribuição proporcional, os partidos preenchem suas cadeiras com base em uma lista estaduais pré-definidas e registrada junto às autoridades eleitorais antes da votação. Geralmente, essa lista é liderada pelo principal nome do partido, que costuma ser o candidato a chanceler. Com o Parlamento formado, cada partido irá indicar um nome para a escolha do próximo chanceler e cabe ao presidente alemão escolher um dos candidatos. Após a escolha do presidente, os parlamentares realizam uma votação interna e secreta para decidir se o nome será aprovado ou não. Se eleito, o chanceler começa a formar o governo. Alemanha vai às urnas para eleger o próximo Parlamento Kayan Albertin/g1 Veja mais: Turbinado pelo governo Trump e rejeitado por forças políticas tradicionais, partido de extrema direita ganha impulso na Alemanha Com avanço da extrema direita, brasileiros são alvo de xenofobia na Alemanha A estabilidade política na Alemanha está ameaçada?
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A polêmica campanha de turismo da Nova Zelândia que parece 'expulsar' os próprios cidadãos


O que era para ser um slogan atraente foi considerado insensível em meio às altas taxas de emigração e desemprego no país. O governo da Nova Zelândia defendeu a nova campanha destinada a atrair turistas australianos Reprodução Dependendo de como você interpreta, a mais recente campanha de turismo da Nova Zelândia pode ser um apelo bem-intencionado para que as pessoas visitem o país — ou uma ameaça para expulsar os kiwis, como são conhecidos os neozelandeses. "Everyone Must Go!", diz o slogan, que pode ser traduzido como "Todos devem ir", impresso em cartazes que mostram pessoas em paisagens majestosas da Nova Zelândia, parte de uma campanha de NZ$ 500 mil (cerca de R$ 1,6 milhão) revelada no último domingo (16/2). Mas o que era para ser uma chamada atraente, voltada para os turistas australianos, foi acusada de ser insensível, à medida que a Nova Zelândia enfrenta taxas recordes de emigração e desemprego. O governo saiu em defesa da campanha, com o primeiro-ministro do país, Christopher Luxon, dizendo que "[aprecia] que haja debate sobre se todos gostam do slogan ou não". Cushla Tangaere-Manuel, porta-voz da área de turismo do Partido Trabalhista, da oposição, disse à emissora local Radio New Zealand (RNZ) que o novo slogan "faz a Nova Zelândia parecer que está no saldão de queima de estoque de uma liquidação". "A ironia desta mensagem é que é assim que os neozelandeses no país estão se sentindo agora", diz ela, citando os "vários cortes" que os cidadãos sofreram. Alguns consideram a nova campanha de turismo da Nova Zelândia insensível às questões que os cidadãos enfrentam Getty Images via BBC Leia também: Patrimônio peruano: Joia da arquitetura inca é vandalizada de forma irrecuperável Veja ranking dos passaportes mais poderosos do mundo em 2025 Os cortes de empregos no setor público no ano passado, como parte do esforço de austeridade do governo, afetaram milhares de pessoas. Enquanto isso, as pessoas estão saindo do país em números recordes. Os dados oficiais mostram que houve quase 130 mil partidas no ano passado — embora isso tenha sido compensado pela chegada de quase 160 mil imigrantes. "Os neozelandeses estão mostrando sua insatisfação, indo embora em números recordes", escreveu a deputada trabalhista Barbara Edmonds no X (antigo Twitter) na segunda-feira (17/2). "Será que o verdadeiro plano de turismo deles é 'Todos devem ir' — para os kiwis?" Outros associaram o slogan à demanda por banheiros. "Acho que 'Todos devem ir' pode se referir à necessidade de banheiros em alguns dos nossos pontos turísticos mais movimentados. As filas são ridículas", disse a deputada Celia Wade-Brown, do Partido Verde, à RNZ. "Eles não vão andar de caiaque, não vão mergulhar, mas, meu Deus, eles fazem fila nos banheiros." A ministra do Turismo, Louise Upston, afirmou em comunicado no domingo que "o slogan da campanha 'Todos devem ir' permite que a Austrália saiba que a Nova Zelândia é um destino 'obrigatório', e que estamos prontos e esperando para recebê-los agora". Os números do turismo na Nova Zelândia ainda não retornaram aos níveis pré-pandemia de covid-19, e as autoridades estão canalizando esforços para atrair visitantes da Austrália, país vizinho, sua maior fonte de turistas. No ano passado, a Nova Zelândia recebeu mais de 1,2 milhão de visitantes da Austrália. Mas, de acordo com Upston, isso representa apenas 88% do número registrado em 2019. Luxon disse que esperava que a recente campanha aumentasse o número de visitantes australianos em 5%. "Seria totalmente e completamente trágico se esses australianos não viessem aqui", ele afirmou. Veja o ranking dos passaportes mais poderosos do mundo
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Alemanha faz eleições neste domingo com estabilidade política ameaçada e crescimento da extrema direita


Bloco conservador lidera as pesquisas, mas precisará de um acordo para conseguir ter maioria. Legendas costumam montar 'cordão sanitário' contra a AfD, que deve ficar com o segundo lugar. A estabilidade política na Alemanha está ameaçada? A Alemanha irá às urnas neste domingo (23) para as eleições nacionais. Com o crescimento da extrema direita, representada pela AfD, especialistas apontam que a formação de uma coalizão governamental será difícil, o que pode ameaçar a estabilidade política do país. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Nestas eleições, os alemães vão escolher os 630 deputados que vão compor o Bundestag, que é o Parlamento alemão. Em linhas gerais, os eleitores escolhem um candidato, mas também votam em um partido. Quanto mais votos a legenda receber, mais cadeiras terá no Bundestag. As últimas pesquisas indicam que o bloco conservador CDU/CSU lidera a disputa, com cerca de 29% das intenções de voto. Em segundo lugar está a Alternativa para a Alemanha (AfD), com 21%. Já os sociais-democratas (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, estão em terceiro lugar, com 15%. Também aparecem na lista os Verdes, com 13%; A Esquerda, com 8%; e os Democratas Livres (FDP), com 5%. Para ter representatividade no Parlamento, um partido precisa conseguir pelo menos 5% dos votos. Os eleitores da maior economia da União Europeia estão de olho, nestas eleições, nas propostas para a redução do custo de vida e da inflação. Além disso, uma parcela da população também está preocupada com a imigração ilegal. Historicamente, o governo da Alemanha é formado por uma coalizão entre dois ou mais partidos. A última gestão, por exemplo, foi resultado de um acordo entre o SPD, os Verdes e o FDP. O colapso dessa coalizão, no fim de 2024, resultou na dissolução do Parlamento e na convocação das eleições antecipadas deste domingo. Nos últimos anos, todos os partidos que compõem o Bundestag se recusaram a trabalhar ou formar alianças com a AfD, já que a legenda é investigada por extremismo e acusada de abrigar movimentos neonazistas. Manter essa espécie de "cordão sanitário" contra a AfD pode se tornar difícil desta vez, já que a extrema direita deve ter o melhor resultado em nove décadas, segundo as pesquisas. Nesta reportagem você vai ver: Como funcionam as eleições na Alemanha? Quem pode ser o próximo chanceler da Alemanha? Por que especialistas veem risco na estabilidade política? Quais coalizões podem ser formadas? Alemanha vai às urnas para eleger o próximo Parlamento Kayan Albertin/g1 1. Como funcionam as eleições na Alemanha? Nas eleições alemãs, o eleitor precisa preencher duas cédulas, conhecidas como Erststimme (primeiro voto) e Zweitstimme (segundo voto). No primeiro voto, o eleitor escolhe um candidato do distrito em que mora para ser eleito deputado. No segundo voto, o eleitor vota em um dos partidos que concorrem às eleições. Vale ressaltar que o eleitor não é obrigado a votar no mesmo partido nas duas cédulas. Ou seja, é possível escolher um candidato de um partido no primeiro voto e, no segundo, apoiar outra legenda. Das 630 cadeiras do Bundestag, 299 são ocupadas pelos deputados eleitos diretamente em seus respectivos distritos. As outras 331 são distribuídas proporcionalmente ao número de votos que cada partido recebeu. Ou seja, quanto mais votos um partido obtiver, mais assentos ele terá no Parlamento. Na distribuição proporcional, os partidos preenchem suas cadeiras com base em uma lista estaduais pré-definidas e registrada junto às autoridades eleitorais antes da votação. Geralmente, essa lista é liderada pelo principal nome do partido, que costuma ser o candidato a chanceler. Voltar ao início. LEIA TAMBÉM Por que cada vez mais jovens alemães estão aderindo à direita radical Com avanço da extrema direita, brasileiros são alvo de xenofobia na Alemanha Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, faz saudação associada ao nazismo em evento conservador 2. Quem será o próximo chanceler? Friedrich Merz é favorito para ser o novo chanceler da Alemanha REUTERS/Teresa Kroeger Com o Parlamento formado, cada partido irá indicar um nome para a escolha do próximo chanceler, que é o chefe de governo da Alemanha. Atualmente, os quatro principais favoritos ao cargo são: Friedrich Merz (CDU), conservador de centro-direita; Alice Weidel (AfD), de extrema direita; Olaf Scholz (SPD), de centro-esquerda; Robert Habeck (Verdes), de centro-esquerda. Cabe ao presidente alemão escolher um dos candidatos. Geralmente, o escolhido é o indicado pelo partido com o maior número de assentos no Parlamento ou o líder da coalizão. Após a escolha do presidente, os parlamentares realizam uma votação interna e secreta para decidir se o nome será aprovado ou não. Se eleito, o chanceler começa a formar o governo. Voltar ao início. 3. Por que especialistas veem risco na estabilidade política? Manifestantes saem às ruas de Frankfurt para protestar contra a AfD, de extrema-direita REUTERS/Kai Pfaffenbach O grande número de cadeiras que a AfD deve conquistar complicará a formação de um governo. O bloco CDU/CSU, que lidera as pesquisas, pode enfrentar dificuldades em costurar uma coalizão para ter maioria. Vale lembrar que, para aprovar pautas, um governo precisa contar com o apoio de pelo menos metade do Parlamento. As eleições provavelmente resultarão em uma coalizão desconfortável entre os conservadores e os social-democratas do SPD, semelhante ao governo de Angela Merkel entre 2017 e 2021. Também existe a possibilidade de um acordo entre mais partidos — embora quanto mais legendas participem de uma coalizão, mais instável ela tende a ser devido às diferenças internas. Por outro lado, no mês passado, o líder do CDU, Friedrich Merz, quebrou um tabu do pós-guerra ao contar com os votos da AfD para aprovar uma moção que endurece as regras de imigração. Alguns críticos afirmaram que esse movimento rompeu o "cordão sanitário" contra a extrema direita, enquanto outros defendem que essa barreira só se aplica à formação de governos. Uma pesquisa do instituto Forsa mostrou que cerca de metade dos alemães concorda com Merz quanto ao uso do apoio da extrema direita dessa forma. Apesar disso, o conservador descarta qualquer possibilidade de formar uma coalizão com a AfD. O desempenho de um provável governo de Merz na recuperação da economia, no enfrentamento de temas sensíveis como imigração e na adoção de políticas mais conservadoras, poderá determinar se a AfD continuará ganhando força ou perderá apoio. "Se a próxima coalizão não entregar resultados, uma possível vitória da AfD em 2029, ou antes, pode estar no horizonte", disse Philipp Koeker, cientista político da Universidade de Hanover. Já Alexander Clarkson, professor de estudos alemães no King’s College London, afirmou que os conservadores podem, em algum momento, considerar uma coalizão com a AfD caso o partido modere sua política externa. "A questão interessante é saber se a AfD será capaz de fazer o que Giorgia Meloni fez na Itália ou o que Marine Le Pen está fazendo na França", disse Clarkson. "Ou seja, mudar gradualmente sua postura nesses temas sem abandonar muitas de suas políticas domésticas." Voltar ao início. 4. Quais coalizões podem ser formadas? Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, em 16 de novembro de 2024 Tobias Schwarz/AFP Na Alemanha, os partidos costumam rejeitar alianças com a AfD, já que a legenda de extrema direita possui movimentos internos que já foram relacionados ao nazismo. Diante desse cenário, especialistas analisaram as possíveis configurações para o próximo governo alemão, caso as pesquisas eleitorais se confirmem. Confira a seguir: ▶️ GRANDE COALIZÃO A chamada Grande Coalizão seria formada por um acordo entre o bloco CDU/CSU e o SPD de Olaf Scholz, que representam as duas principais forças políticas de centro. O SPD e a CDU/CSU já governaram juntos quatro vezes desde a Segunda Guerra Mundial, sendo três delas sob a liderança da ex-chanceler conservadora Angela Merkel. No entanto, Friedrich Merz deslocou a CDU/CSU mais para a direita, adotando uma postura mais rígida sobre imigração e uma visão mais pró-mercado para a economia. Enquanto a CDU/CSU defende amplos cortes de impostos, o SPD quer aumentar a tributação sobre os mais ricos e reintroduzir um imposto sobre grandes fortunas. Essas diferenças podem dificultar um consenso sobre reformas estruturais. Segundo o Eurasia Group, a chance dessa coalizão se concretizar é de 60%. ▶️ COALIZÃO KIWI Uma coalizão "Kiwi" entre CDU/CSU e Verdes também é cogitada. O nome faz referência às cores dos partidos — preto e verde. No entanto, essa aliança pode não ser suficiente para garantir a maioria no Parlamento. Embora compartilhem algumas visões na política externa, como a necessidade de aumentar o apoio à Ucrânia, há divergências significativas em temas domésticos, especialmente sobre imigração. Essas diferenças ficaram ainda mais evidentes em janeiro, quando Merz aprovou uma moção para endurecer as regras contra a imigração ilegal com o apoio da AfD, o que gerou forte reação dos Verdes. De acordo com o Eurasia Group, há 15% de probabilidade dessa coalizão ser formada. Caso aconteça, seria um marco inédito em nível nacional. ▶️ COALIZÃO QUÊNIA Se partidos menores, como o FDP e A Esquerda, conseguirem entrar no Parlamento e nenhum dos dois maiores partidos alcançar maioria, CDU/CSU, SPD e Verdes poderiam se unir em uma coalizão "Quênia" — nome que faz referência às cores da bandeira do país africano. Esse tipo de aliança já ocorreu ocasionalmente em nível estadual, mas nunca foi consolidado no governo federal. Segundo o Eurasia Group, a probabilidade dessa coalizão se formar é de 10%. ▶️ COALIZÃO ALEMANHA Outra possibilidade, embora menos provável, é a coalizão "Alemanha", formada por CDU/CSU, SPD e FDP. O nome vem das cores dos três partidos, que correspondem à bandeira alemã. No entanto, seria difícil para FDP e SPD chegarem a um consenso, já que a última aliança entre eles se desfez em 2024, após um impasse sobre o orçamento da Alemanha. De acordo com o Eurasia Group, a chance dessa coalizão se concretizar é de 10%. ▶️ GOVERNO MINORITÁRIO Também há a possibilidade de formação de um governo minoritário. Nesse caso, o partido mais votado governaria sem ter maioria absoluta no Parlamento. Para conseguir aprovar leis e implementar políticas, esse governo precisaria negociar apoio com diferentes partidos em cada votação no Bundestag. Embora essa alternativa seja rara em nível federal, alguns estados alemães já experimentaram governos minoritários. Voltar ao início. VÍDEOS: mais assistidos do g1
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Eleições na Alemanha: quem são os candidatos, os favoritos e como funciona a disputa


Alemanha se prepara para uma eleição legislativa. Apesar de a escolha do próximo chanceler federal ser indireta, a popularidade do candidato e o voto no partido vão definir o vencedor. A estabilidade política na Alemanha está ameaçada? A Alemanha vai às urnas neste domingo (23) para definir seu próximo chanceler, que no país exerce a função de chefe de governo e em meio ao crescimento da extrema direita. A eleição no país, a maior economia da União Europeia, também pode definir os rumos do bloco e as respostas da Europa a provocações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Veja, abaixo, quem são os favoritos e como funcionará a eleição. Quem pode ser o próximo chanceler da Alemanha? Olaf Scholz, chanceler alemão, vai perder cargo com a dissolução do governo Lisi Niesner/Reuters O sistema eleitoral alemão é projetado para produzir governos de coalizão. Ele busca unir os princípios da regra da maioria e da representação proporcional. Nesse modelo, o chanceler federal tem maior poder executivo do que o presidente. No entanto, quando os eleitores votarem em 23 de fevereiro de 2025, eles não vão escolher diretamente seu candidato ao cargo. Em vez disso, elegem parlamentares representantes do seu distrito eleitoral para o Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão. Após o pleito, é a distribuição de cadeiras no Bundestag que vai definir quem será o próximo chefe de governo na Alemanha. A menos que um partido obtenha a maioria absoluta, a sigla com o maior número de representantes no Parlamento tenta formar uma coalizão de governo com outras legendas – criando uma base governista. Essas coalizões geralmente detêm a maioria parlamentar. Na história contemporânea da Alemanha, o país teve governos minoritários apenas duas vezes, em 1966 e 1982. Se o partido conseguir formar uma coalizão, o bloco normalmente elege o líder da sigla com o maior número de cadeiras para chefiar também o governo. Esse candidato precisa primeiro ter sido eleito em seu distrito e ter uma cadeira no parlamento. Dessa forma, diferente do modelo brasileiro, o chefe de governo normalmente detém mais da metade dos votos no Legislativo, o que facilita a aprovação de leis. Nesta eleição antecipada de 2025, os quatro principais candidatos são Friedrich Merz, do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), Alice Weidel, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, e Robert Habeck, atual vice-chanceler e líder dos Verdes. Todos vão concorrer em suas regiões ao cargo de congressista, com funções similares às de um deputado federal. São considerados líderes da disputa eleitoral por serem os nomeados dos partidos com a maior fatia das intenções de voto nas pesquisas. LEIA TAMBÉM Por que cada vez mais jovens alemães estão aderindo à direita radical Com avanço da extrema direita, brasileiros são alvo de xenofobia na Alemanha Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, faz saudação associada ao nazismo em evento conservador Qual partido lidera a corrida eleitoral? Friedrich Merz é favorito para ser o novo chanceler da Alemanha REUTERS/Teresa Kroeger Como o voto na sigla é essencial para definir o próximo chanceler federal, as pesquisas de intenção de voto se concentram em qual partido cada eleitor pretende votar. Atualmente, a CDU, de centro-direita, e seu partido-irmão da Baviera, a União Social Cristã (CSU), estão à frente nas consultas compiladas pelo instituto de pesquisa eleitoral Infratest Dimap, com sede em Berlim. O bloco tem 32% das intenções de voto, uma vantagem de mais de 10 pontos percentuais sobre a AfD, de extrema direita, em segundo lugar com 21%. A AfD cresceu em popularidade e, em setembro de 2024, registrou grandes ganhos nas eleições regionais nos estados do leste Saxônia, Turíngia e Brandemburgo. Em fevereiro de 2025, atingiu um dos níveis mais altos de popularidade nas pesquisas para as eleições federais. O SPD e os Verdes, que compõem a atual coalizão federal, seguem em terceiro e quarto lugares, respectivamente. O SPD despencou no interesse dos eleitores desde 2021, movimento que acompanha a queda de popularidade de Olaf Scholz. Na sequência estão os partidos A Esquerda, a sigla populista de esquerda anti-imigração BSW e o neoliberal Partido Democrático Livre (FDP, na sigla em alemão), que anteriormente fazia parte de uma coalizão governamental tripartite. Estas siglas correm o risco de não atingir o limite mínimo de 5% dos votos para conquistar uma cadeira no Parlamento. Como é escolhido o chanceler alemão? Os partidos selecionam seu candidato principal antes da eleição. Após a votação, quando uma possível coalizão tiver sido montada, o presidente alemão (chefe de Estado) apresenta um candidato para ser eleito chanceler federal (chefe de governo) pelos membros do Bundestag. O indivíduo selecionado pelo presidente é normalmente o principal candidato da sigla de maior peso da coalizão. Depois de indicado pelo presidente, para ser eleito ele ainda deve garantir a maioria absoluta dos votos dos congressistas numa votação secreta. O vencedor ou vencedora pode começar a nomear os indicados para o gabinete. Isso também atrela a popularidade do partido à de seu candidato principal. Qual candidato é mais popular? O chanceler do Partido Social Democrata (SPD), Olaf Scholz , o ministro alemão da Economia e do Clima, Robert Habeck, o candidato conservador a chanceler e líder do partido União Democrata Cristã (CDU), Friedrich Merz, e a colíder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, comparecem ao programa de TV 'Quadrell' da RTL e NTV em Berlim Kay Nietfeld/Pool via REUTERS Apesar de não ser eleito diretamente, a popularidade do principal candidato de cada sigla é regularmente monitorada juntamente com a do próprio partido. As políticas apresentados por esse líder na campanha eleitoral normalmente reflete no "segundo voto" dos eleitores, ou seja, o voto no partido. Friedrich Merz, o candidato a chanceler federal da CDU/CSU, é atualmente o favorito para o cargo, o que não significa que seja o mais popular. As pesquisas indicam que ele não está na frente por seus índices de aprovação, mas porque Olaf Scholz e seu vice, Robert Habeck, se tornaram mais impopulares. Como um candidato é eleito na Alemanha? Eleitor deposita voto durante eleição regional de Hesse, na Alemanha Boris Roessler/ DPA / AFP Nas eleições alemãs, cada eleitor preenche em duas cédulas, denominadas Erststimme (primeiro voto) e Zweitstimme (segundo voto). O primeiro é dado para um candidato "direto" do distrito eleitoral do eleitor, o segundo vai para um partido político. Os nomes dos candidatos de cada partido ao Bundestag aparecem nas listas estaduais, que devem ser registradas junto às autoridades eleitorais antes da eleição. A quantidade de cadeiras que um partido vai ocupar no parlamento é definida de forma proporcional pelo voto na sigla, registrado na segunda cédula. Quanto mais votos um partido receber, mais vagas ele terá no parlamento. Com isso, é o segundo voto que determina a força relativa que um partido terá no governo ou no bloco de oposição. Definida a quantidade de vagas para cada partido, os congressistas serão distribuídos de forma hierárquica, de acordo com o número de votos individuais que cada um recebeu em cada distrito. O primeiro e o segundo votos não precisam ser dados para o mesmo partido. Os eleitores são livres para votar em um na primeira cédula e em outro completamente diferente na segunda. Qualquer partido que obtiver mais de 5% do total de votos tem lugar garantido no Bundestag. Alemanha vai às urnas para eleger o próximo Parlamento Kayan Albertin/g1 VÍDEOS: mais assistidos do g1
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